Apesar de estar com apenas 49 passageiros, 17% de sua capacidade, o voo com destino à Irlanda resultou em 59 infectados, sendo 13 diretos e 46 indiretos.
As autoridades na Irlanda avaliam desaconselhar as viagens aéreas no período do Natal, após um estudo mostrar que, em meados deste ano, um único voo com destino ao país gerou 59 casos confirmados da Covid-19 – 13 diretos, 46 indiretos.
"O risco de viagens não essenciais fora do país é simplesmente alto demais neste momento", disse a mais alta autoridade de saúde do país, Tony Holohan.
O voo para a Irlanda durou sete horas e meia e tinha apenas 17% de ocupação - 49 passageiros em um avião de 283 assentos. Havia 12 tripulantes.
"Treze casos eram passageiros no mesmo voo para a Irlanda, cada um pegou uma transferência em um grande aeroporto internacional. Eles vieram para a Europa de três continentes diferentes", escrevem os autores do estudo sobre o voo, publicado pelo Eurosurveillance.
No voo em si, os passageiros estavam relativamente distantes uns dos outros, sem levar em conta quem viajava em grupo, como famílias.
Alguns passageiros relataram ter passado até 12 horas em uma sala de trânsito durante uma escala, alguns compartilharam uma sala de trânsito separada, e outros tiveram esperas curtas separadas de menos de 2 horas nas áreas de partida do aeroporto.
Qual o real risco de contaminação num voo?
As constatações do Eurosurveillance parecem contradizer as afirmações anteriores de que as viagens aéreas em voos comerciais são seguras.
As companhias aéreas foram duramente atingidas pela pandemia. Os números mostram que o número de voos regulares em todo o mundo atualmente é quase a metade do que foi neste período em 2019.
Como resultado, houve esforços para aumentar a confiança do público nas viagens aéreas.
Estima-se que o ano de 2020 terá, no total, 20 milhões de voos. O caso do voo para a Irlanda seria, então, uma agulha no palheiro. Mas os autores do estudo alertam em seus resultados que há ainda poucas pesquisas sobre contaminações em aviões.
Também não está claro se o principal ponto – ou pontos – de transmissão do coronavírus foi o voo para a Irlanda em si ou os aeroportos – ou ambos.
Em comunicado atualizado em 21 de outubro, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA diz que "a maioria dos vírus e outros germes não se espalha facilmente nos voos pela forma como o ar circula e é filtrado nos aviões".
No entanto, diz que "as viagens aéreas requerem tempo em filas de controle e terminais aeroportuários, o que pode trazer um contato próximo com outras pessoas e superfícies frequentemente tocadas [...] O distanciamento social é difícil em voos lotados, e sentar-se a 1,8 metro de distância de outros, às vezes por horas, pode aumentar seu risco de contrair covid-19".
Em 8 de outubro, a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata) disse que "o risco de um passageiro contrair a covid-19 a bordo [de um avião] parece muito baixo".
"Com apenas 44 casos potenciais identificados de transmissão relacionada a voos entre 1,2 bilhão de viajantes, temos um caso para cada 27 milhões de viajantes. Reconhecemos que isso pode ser uma subestimação, mas mesmo que 90% dos casos não fossem relatados, seria um caso para cada 2,7 milhões de viajantes. Achamos que estes números são extremamente tranquilizadores", diz David Powell, assessor médico da Iata.
Qualidade do ar durante voos
Um artigo no MIT Medical, que está associado ao Instituto de Tecnologia de Massachusetts, diz que a qualidade do ar em voos comerciais é "bastante alta" porque o avião é ventilado regularmente, a cada cinco minutos.
A circulação do ar nos aviões se move de cima para baixo e depois para fora - ele entra na cabine através de aberturas aéreas e sai pelo chão. Parte desse ar é despejada para fora, e o resto é filtrado usando um sistema de filtros hospitalares conhecido como HEPA. Esse ar filtrado é então misturado com ar fresco do exterior do avião antes de ser introduzido na cabine.
Entretanto, um estudo de 2018 sugere que os passageiros e a tripulação que circulam pela cabine durante o voo "podem facilitar a transmissão de doenças". Os pesquisadores sugerem que os riscos não se encontram apenas no local onde se está sentado, distante de uma pessoa infectada, mas também se você se levanta e vai ao banheiro, estica suas pernas ou fala com amigos e familiares sentados em outro lugar.
Os autores do estudo escrevem que, "com mais de 3 bilhões de passageiros aéreos anualmente [em 2018], a transmissão a bordo de doenças infecciosas é uma importante preocupação de saúde global". Mas eles admitem que "os riscos de transmissão são desconhecidos".
Dados divulgados pelo Departamento de Defesa dos EUA no início de outubro sugerem que o risco de exposição ao coronavírus em voos é baixo.
Conduzido nas aeronaves Boeing 777 e Boeing 767 da United Airlines, o estudo constatou que uma média de 0,003% das partículas de ar dentro da zona de respiração ao redor da cabeça de uma pessoa eram infecciosas, mesmo com uso de máscara. Porém, foram filtradas 99,99% das partículas do ar que circulava na cabine dentro de seis minutos.
Um porta-voz da United Airlines descreveu as chances de exposição ao coronavírus em um de seus aviões como "quase inexistente, mesmo que o voo esteja cheio".
Isso torna ainda mais difícil de explicar como foram possíveis tantas contaminações no voo para a Irlanda, que estava quase vazio.
Fonte: Zulfikar Abbany (Deutsche Welle)
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