sexta-feira, 24 de julho de 2009

A fantasiosa conquista de Marte

Há exatamente quatro décadas (e quatro dias) atrás, Neil Armstrong pisou na superfície lunar, dando um grande salto para a humanidade, nos termos dele. Uma das poucas reminiscências que tenho dessa data é do meu primo reclamando que a imagem (vinda de lá) tava tão ruim que “não dá pra ver p*rr* nenhuma” — segundo suas próprias palavras.

Para mim, esse evento ia passar meio batido se não fosse pelo meu colega e chapa Cláudio Pucci, que escreveu na concorrência um excelente texto falando sobre a fantasiosa conquista do espaço feita pelo cinema.

Depois de ler o texto, eu só achei que para ficar completo faltou na relação um obscuro filme do final dos anos 1970 onde, desta vez, o homem viaja para Marte, mas não pisa exatamente no planeta vermelho.

Capricórnio 1 (Capricorn One - 1978), escrito e dirigido por Peter Hyams (Outland, 2010, Fim dos Dias), conta a história da primeira missão tripulada para Marte onde — nos segundos finais — os três astronautas (entre eles, O. J. Simpson, ainda na época em que era bom moço) são arrancados do foguete (que decola vazio) e são secretamente enviados para uma base no meio do deserto.

O motivo — segundo o chefe da missão — é o hábito do governo de adquirir equipamentos das empresas que os vendam pelo menor preço (alguém já pensou nisso? ir para o espaço no foguete mais baratinho que a NASA consegue comprar?), de modo que a agência descobriu que o sistema de suporte de vida usado simplesmente não funcionaria e assim a tripulação faria um desvio para o céu dos astronautas lá pelo meio da viagem. Mas entre abortar o projeto e enfrentar um escândalo que poderia enterrar o programa espacial, a agência preferiu bolar um plano mirabolante para enrolar todo mundo, encenando o resto da missão, incluindo o passeio pela superfície marciana.

Obviamente o esquema começa a melar quando um técnico de telemetria da missão desconfia que os sinais da nave estavam vindo da Terra e de tanto encher seus superiores sobre esse pau no equipamento, ele some sem deixar rastros junto com seu apê.

Mas ainda bem, ele era amigo de um jornalista abelhudo que começa a investigar o seu desaparecimento e acaba descobrindo toda a trama. E o resto todo mundo pode adivinhar: soco, tiro, pancadaria, perseguição de carro, helicóptero, jatinho executivo e até biplano. No fim, os mocinhos vencem os bandidos e tudo acaba bem.

Para quem ainda não pescou, o enredo desse filme é fortemente baseado em um dos clássicos das teorias conspiratórias — o chamado Moon Hoax — cujos defensores juram de pé junto que o homem nunca foi para a Lua e que as fotos divulgadas — além de serem muito boas para terem sido tiradas com uma câmera manual, sem visor e que ficava preso no peito do astronauta — possuem diversas inconsistências de iluminação, retoques de cenas e até erros de cenário como pedras marcadas com caneta.

Eu já vi alguns documentários e textos sobre esse assunto e a minha opinião é que os whistle-blowers concentram demais seus argumentos em fatos pontuais como uma foto, uma cena, informações científicas etc. Mas o conjunto da obra não consegue criar um cenário completo que consiga explicar como toda a missão foi fraudada.

E se levarmos em consideração aquele ditado que diz que “segredo entre três só matando dois” e que passados mais de 40 anos nenhum astronauta abriu o bico dizendo que tudo foi encenação, acho que devemos dar um crédito para esses caras que colocaram o deles na reta numa aventura tão arrojada como foi o projeto Apollo.

O engraçado é que os defensores do Moon Hoax até usam o fato que todos os astronautas da Apollo voltarem vivos para a Terra (incluindo a micada Apollo 13) como algo a ser visto com desconfiança, principalmente depois das recentes tragédias com o ônibus espacial.

Acho que no final das contas, eles só foram mais sortudos.

Trivia:

A câmera fotográfica usada na missão Ap0llo era uma Hasselblad sueca especialmente adaptada, uma escolha que a americana Kodak americana nunca engoliu, já que foi uma grande jogada de publicidade. Outro caso célebre foi o Omega SpeedMaster, que também deixou pra trás outra empresa americana — a Bulova — que na época já tinha um moderno relógio de pulso com o avançado sistema Accutron (um mecanismo eletrônico com diapasão). Depois eles tiveram alguma compensação, já que o relógio do painel de controle da cápsula espacial usou um mecanismo Accutron.

Fonte: Mário Nagano (Zumo) - Fotos: Divulgação

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