sexta-feira, 17 de junho de 2022

Desnível na pista deixou um avião Airbus A319 sem piloto automático e sem inercial

Um desnível na pista de decolagem causou problemas num jato Airbus A319, que ficou sem sistema inercial de navegação e sem piloto automático.

Airbus A319 da British (Foto via © Marvin Mutz)
O caso em questão foi registrado no Reino Unido com um Airbus A319 que voava de Edimburgo, na Escócia, para o Aeroporto de Heathrow, na capital inglesa. O que era para ser um serviço corriqueiro da British Airways, começou a dar problemas ainda na decolagem, quando um barulho foi ouvido na corrida para sair do chão.

Como não houve nenhuma indicação no avião, a decolagem e subida prosseguiram normalmente até a aeronave atingir 34 mil pés (cerca de 10 km) de altitude, quando o copiloto notou que surgiu um aviso de “Checar posição do Sistema Inercial número 3” (CHECK IRS 3/FM POSITION).

O sistema inercial (INS ou IRS) é um conjunto de giroscópios a laser, que consegue detectar os movimentos verticais, laterias e longitudinais da aeronave. Antes do voo começar, este sistema é alinhado com a posição GPS da aeronave no solo, com a inserção da posição geográfica. Com a inércia do voo, este sistema vai calculando a posição atualizada da aeronave, servindo como um backup do sistema de navegação principal, que é a navegação por satélite (GPS).

Piloto automático desconecta


Este aviso CHECK IRS3 sumiu segundos depois, não dando tempo para que a tripulação tomasse alguma atitude. Porém, logo em seguida, o piloto automático foi desconectado, assim como o controle automático de potência, deixando o avião com pilotagem completamente manual.

Sendo assim, o Comandante nivelou “na mão” o A319 no nível de voo 350, e declarou urgência dizendo “Pan Pan” para o Controle de Tráfego Aéreo, já que perdeu a sua capacidade de RVSM, que significa Separação Vertical Mínima Reduzida. Esta capacidade é necessária acima do nível de voo 290, e dentre os requisitos está o piloto automático operante.

Isto é necessário porque acima do nível de voo 290 os altímetros comuns perdem precisão, e para manter uma distância menor entre uma aeronave e outra (1.000 pés) é necessário ter o piloto automático monitorando, para maior segurança.

Nenhum outro aviso soou na aeronave, e após 5 minutos de voo manual, a tripulação conseguiu reabilitar o piloto automático e continuou seu voo para Londres.

Enquanto investigava o problema, a tripulação percebeu que tinha algo anormal com os três sistemas IRS, já que um não mostrava a posição geográfica e os outros dois estavam iguais, porém, havia oscilações a ponto de zerar todas as informações ou mostrar diferenças maiores que 30 milhas náuticas, sendo que o aceitável é uma pequena diferença de uma milha.

Dado a discrepância entre os dados, a tripulação pediu para que o Controlador de Voo desse os rumos para o pouso em Londres, para garantir que estavam indo na direção correta.

Como nenhum outro alerta apareceu, a tripulação decidiu por não tentar realinhar o sistema inercial em voo, já que poderia piorar a situação que já estava sob controle.

Durante a aproximação, novamente o piloto automático desligou sozinho e o diretor de voo (que mostra o caminho ‘virtual’ a ser seguido) também sumiu. Por causa disso a aproximação foi descontinuada com a realização de arremetida. Uma nova verificação de checklist foi feita e uma aproximação totalmente manual foi realizada, pousando o A319 com segurança.

Aeroporto de Edimburgo (Foto: Divulgação)
Dias após o voo, a caixa preta (gravador de dados) foi retirada da aeronave. Os investigadores britânicos da AIBB, órgão responsável pela investigação de acidentes aéreos, detectaram que o acelerômetro do trem de pouso do nariz (que mede as forças verticais) teve três mudanças bruscas durante a corrida de decolagem.

Depois destas mudanças de indicação no trem de pouso, o sistema inercial da aeronave começou a variar e estar em desacordo com o GPS. Com isso, o computador de voo do A319 começou a descartar a informação enviada por um dos três IRS.

O problema foi piorando e, no final da subida, todos os sistemas IRS estavam com informações desencontradas, fazendo com que o computador de voo os desconectasse automaticamente, bem como desligasse o piloto automático e o controlador de potência automática, momento em que os pilotos perceberam que algo estava errado.

A investigação descobriu que antes deste incidente de 2021, outros 5 casos similares ocorreram em voos da British Airways saindo de Edimburgo, um por ano nos 5 anos anteriores.

Uma análise profunda feita na pista detectou que um desnível causado por um ‘remendo’ feito numa parte da pista ocasionou um impacto acima do normal no trem de pouso dianteiro da aeronave.

(Foto via © AIBB)
Como mostrado na imagem acima, o compartimento de aviônicos (“Avionics bay”) fica logo atrás do compartimento onde o trem de pouso do nariz fica alojado (“NLG bay”). Devido ao problema de desnível na pista, associado à posição de uma extensão de um absorvente (pneumático) de impactos do trem de pouso, houve uma vibração extrema nos aviônicos, incluindo o IRS, que começou a ficar desalinhado até perder sua ‘confiabilidade’ exigida.

A investigação também concluiu que o modelo de computador de voo instalado na aeronave é um pouco mais sensível a vibrações que o normal.

Sendo assim, a AIBB recomendou que a pista de Edimburgo fosse readequada (o que já foi feito no início do ano), que inspeções mais frequentes fossem feitas no sistema de suspensão/pneumático do trem de pouso, assim como uma avaliação dos computadores de voo e sua sensibilidade a impactos externos. O relatório na íntegra, em inglês, pode ser acessado neste link.

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