Depois da alteração na localização do novo aeroporto na Ota, onde foram gastos muitos milhões de euros em estudos, eis a vez do aeroporto de Beja. A poucos meses da inauguração oficial, este aeroporto não tem nenhum contrato assinado com qualquer companhia aérea e, mais grave, as ligações rodo-ferroviárias são muito deficientes.
Enquanto isso, em Espanha, o aeroporto de Ciudad Real abriu portas em Dezembro de 2008 com todas as acessibilidades possíveis e com dois acordos com companhias aéreas. E mais preocupante para os interesses portugueses é que entra em funcionamento, ainda em 2009, o aeroporto «low cost» de Badajoz.
A TVI procurou saber o que falhou na projecção do aeroporto de Beja, que o Primeiro-ministro José Sócrates considerou um investimento ponderado, mas que, por enquanto, não passa mesmo é de um grande erro.
Em Janeiro de 2007, José Sócrates anunciou, em Beja, com toda a pompa e circunstância, a construção do aeroporto na base aérea nº11. Um investimento ponderado e que, de acordo com o Governo, estaria apto a receber voos civis no decorrer de 2008. Mas, quase no fim do ano, este aeroporto vocacionado para os voos «low cost» continua em construção, sem acessibilidades e sem qualquer tipo de acordo para voos comerciais ou voos de carga.
Augusto Mateus, antigo ministro da Economia no Executivo de António Guterres, foi um dos mentores deste aeroporto. Num estudo intitulado «Plano Regional de Inovação do Alentejo», realizado pelo próprio gabinete para a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo (CCDRA), Mateus enuncia as principais razões para a construção desta infra-estrutura na cidade alentejana.
Uma das razões apontadas é a «plataforma logística para a carga a receber e a expedir de/para a América e África, incluído o transporte de peixe, utilizando aviões de grande porte e executando em Beja o transhipment para aviões menores para a ligação com os aeroportos europeus».
«Entreposto para a carga recebida no porto de Sines, passível de ser transportada por meios aéreos, frescos agrícolas produzidos na zona de regadio do Alqueva e Andaluzia» é outro dos objectivos apontados no estudo.
Três anos e 33 milhões de euros após este estudo, os objectivos definidos estão longe de ser atingidos. Nas vésperas da abertura deste novo aeroporto, não existe nenhum contrato assinado com qualquer companhia aérea.
Mas porque razão este aeroporto não está a funcionar? Olhando para a vizinha Espanha, verificamos que os critérios primordiais na escolha de um aeroporto vocacionado para «low cost» são: a proximidade de uma auto-estrada, a proximidade de uma estação de comboios convencional e ainda a proximidade de uma estação de comboios de alta velocidade.
Em Beja, nenhum daqueles critérios foi ainda aplicado, o que contrasta, por exemplo, com o novo aeroporto espanhol de Ciudad Real. Este aeroporto vai abrir nos próximos dias, mas ao contrário de Beja tem já instaladas duas companhias: a Air Berlin, de «low cost», e a Air Nostrum.
Além disso, as acessibilidades existentes no aeroporto espanhol estão já preparadas: Alta Velocidade, rede ferroviária convencional e autoestrada. A distância entre os três meios é de apenas três minutos. Sendo mesmo possível chegar ao centro de Madrid em 50 minutos. E tudo isto tendo em conta que a distância entre Ciudad Real e Madrid é maior que entre Beja e Lisboa.
Mas ao contrário do que acontece em Espanha, em Beja, a autoestrada não existe, o projecto da Alta Velocidade não passa sequer pela cidade e a rede ferroviária convencional não pára no local do novo aeroporto.
Aliás, quanto às ligações de comboio só existe actualmente uma viagem por dia da cidade alentejana para Lisboa. Viagem essa que demora, na melhor das hipóteses, duas horas e seis minutos.
Fonte: TVI - Televisão Independente (Portugal)