domingo, 16 de maio de 2010

Observatório Europeu do Sul planeja construir no Chile o maior telescópio terrestre do mundo

O primeiro telescópio do mundo foi apontado para o céu há 400 anos por Galileu Galilei. Desde então, o desenvolvimento de novas técnicas resultou em inúmeras conquistas para a astronomia. A evolução científica chega agora a um novo patamar, com o Telescópio Europeu Extremamente Grande (E-ELT, na sigla em inglês), a ser erguido em Cerro Armazones, no Chile, segundo anúncio do Observatório Europeu do Sul (ESO). O aparelho em nada se parecerá com a luneta usada pelo astrônomo italiano quatro séculos atrás, com lentes encaixadas uma na outra de forma simples. Seu espelho principal, por exemplo, terá 42m de diâmetro. O tamanho, dizem os especialistas, é proporcional à complexidade das perguntas que ele ajudará a responder.

As dimensões de um telescópio são importantes por duas razões: quanto maior, mais luz ele pode coletar e melhor é o nível de detalhes que permite visualizar. O cientista do ESO Lars Lindberg Christensen afirma que o diâmetro do espelho principal do novo equipamento é o mínimo necessário para explicar algumas questões que intrigam os astrônomos. “Poderemos capturar imagens e caracterizar as atmosferas de exoplanetas (corpos que orbitam uma estrela que não seja o Sol e podem abrigar vida) e medir a aceleração de expansão do Universo”, exemplifica em entrevista ao Correio, por e-mail.

Segundo a astrônoma da Universidade de São Paulo (USP) Beatriz Barbuy, a nitidez das imagens dos novos telescópios só é alcançada graças a tecnologias sofisticadas. “Softwares muito elaborados e mecânica fina tornaram os telescópios mais performáticos. Observam-se objetos cada vez mais fracos e distantes, e em mais faixas de comprimentos de onda, desde o ultravioleta até o infravermelho distante”, destaca. Christensen explica que espelhos adaptados serão incorporados ao sistema ótico do E-ELT para compensar a imprecisão das imagens provocada pela turbulência atmosférica. “Um desses espelhos é apoiado por mais de 5 mil atuadores, que podem distorcer a sua forma mil vezes por segundo. O telescópio terá inúmeros instrumentos científicos e poderá mudar de um instrumento para outro em poucos minutos. O instrumento e a cúpula também serão capazes de mudar de posição no céu e começar uma nova observação num curto espaço de tempo”, descreve.

A previsão é que o E-ELT seja construído até 2011 e entre em funcionamento por volta de 2018. Centenas de cientistas estão engajados na empreitada, sendo que o estudo do design do E-ELT tem envolvido vários institutos de pesquisas e indústrias por toda a Europa. Os custos estão estimados em 1 bilhão de euros. Parte desses gastos já estão previstos no orçamento do ESO para a próxima década e pagos pelos 14 estados membros do observatório.

O local escolhido para sua implantação, Cerro Armazones, é uma montanha com 3.060m de altitude, situada na região central do Deserto do Atacama. O sítio é considerado um dos melhores do mundo para a observação espacial, em particular pela qualidade de baixa turbulência atmosférica. “Há ainda outras vantagens práticas, como a proximidade do VLT (sigla em inglês para Telescópio Muito Grande, também da ESO), o que permitirá o uso da infraestrutura existente. O centro da nossa galáxia também pode ser visto do Hemisfério Sul”, afirma Beatriz Barbuy. Para a astrônoma brasileira da Agência Espacial Norte Americana (Nasa) Duília de Mello, o Chile já é o maior centro mundial de observações astronômicas. “As montanhas chilenas são altas e secas, ou seja, ideais para a observação”, destaca.

Avanços

O E-ELT representará a novíssima geração de grandes telescópios, que desde os anos 1920 ajudam os cientistas a desvendar o espaço. “Nessa época, começamos a construir equipamentos maiores, como os do observatório de Monte Wilson (nos Estados Unidos), de 1,5m a 2,5m de diâmetro, onde Edwin Hubble pôde observa as galáxias”, conta Duília de Mello. De acordo com ela, na década de 1950, mais um avanço foi registrado com a construção do Palomar, de 5m, na Califórnia. “Com ele, fizemos um mapa de quase todo o céu do Hemisfério Norte, o que revolucionou toda a astronomia. Porém, nesta época, ainda usávamos placas fotográficas. Outro passo importante foi quando começamos a utilizar as câmeras do tipo CCDs, na década de 1970, e a produzir imagens gravadas diretamente no computador”, afirma a cientista.

Os maiores telescópios do planeta são o VLT, composto por quatro equipamentos de 8m cada, também construído pelo ESO; dois aparelhos Gemini, também de 8m, localizados no Chile e no Havaí; e dois aparelhos de 10m pertencentes à Fundação Keck, no Havaí. O novo projeto do observatório europeu será superior a todos eles. “Com seus 42m de diâmetro, o E-ELT vai captar 15 vezes mais luz do que o maior telescópio ótico em operação atualmente. Ele também fornecerá imagens cerca de 15 vezes mais nítidas que as produzidas pelo (telescópio espacial) Hubble”, informa o diretor-geral do ESO, Tim de Zeeuw. Não por acaso, o equipamento vem sendo chamado de “o maior olho do mundo no céu”.

Assista ao vídeo sobre o projeto:



Fonte: Gisela Cabral (Correio Braziliense) - Imagem: eso.org

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