Na mesma semana em que o maior avião comercial do mundo, o Airbus A380, visitou o Brasil, a Boeing anunciou que cumpriria o prazo e entregaria o primeiro 787 Dreamliner no final do ano que vem, depois de começar a resolver os problemas de cadeia de suprimento que retardaram em seis meses o seu cronograma inicial de produção. A aeronave é a aposta da empresa americana para concorrer com o avião europeu.
Em conversa telefônica com analistas, a Boeing informou que esperava entregar o primeiro 787 em novembro ou dezembro de 2008, e mais 109 aparelhos do modelo no ano seguinte. Isso confirma o cronograma anunciado pela empresa ao anunciar a revisão dos planos originais, em outubro.
A declaração otimista da Boeing contrastou com o surpreendente anúncio, dois meses atrás, de que a empresa estava abandonando o cronograma de desenvolvimento que resultaria na entrega do primeiro 787 à All Nippon Airways até maio.
O cronograma foi complicado ainda mais pelo fato de que a empresa está pela primeira vez dependendo de uma extensa rede mundial de subcontratados para ajudá-la a projetar e produzir o avião.
"Estamos satisfeitos com os progressos que realizamos, nos termos dos planos", disse Scott Carson, presidente-executivo da Boeing Commercial Airplanes. "Continua a haver riscos. Mas eles existem sob margens normais. As lições que aprendemos tornarão o programa mais forte no futuro".
A Boeing está fazendo uma grande aposta com o 787, em diversas áreas. Será o primeiro avião comercial a ser produzido integralmente de um material plástico composto que é mais forte que o titânio e mais leve que o alumínio. O aparelho wide-body, com lugar para entre 200 e 300 passageiros, também oferecerá novas turbinas de alta eficiência no uso de combustível, o que já está se provando atraente junto às linhas aéreas.
O aparelho é o jato comercial de vendas mais rápidas na história, com 762 encomendas firmes, de 53 linhas aéreas. A Boeing vendeu 314 modelos 787 este ano, de acordo com Carson.
O anúncio, em outubro, de um atraso de seis meses nas entregas foi o primeiro sinal de problemas sérios com o programa. Pouco depois que a decisão foi anunciada, a Boeing indicou um novo comandante para o programa 787, Patrick Shanahan, um veterano da empresa conhecido por ter resolvido crises em outros programas. Shanahan tomou o lugar de Michael Bair, considerado um visionário, que liderou o projeto 787 por quatro anos.
As declarações de Shanahan na conversa com analistas foram seu primeiro pronunciamento público quanto ao progresso do programa. Ele disse que tem realizado "reuniões diárias na fábrica", e acrescentou que o projeto básico do avião estava "100% completo" .
Os seis primeiros aparelhos de testes, alguns com turbinas produzidas pela General Electric e outros com turbinas produzidas pela Rolls-Royce, entrarão em teste final em janeiro, segundo Shanahan. Quando o programa estiver em operação normal, a Boeing planeja produzir seis 787 por mês, um ritmo que ela jamais foi capaz de atingir para aviões de grande porte. Os 109 aparelhos a serem entregues em 2009 incluirão alguns produzidos em 2008.
Perguntado se a Boeing conseguiria cumprir o cronograma, Shanahan se declarou confiante, devido ao nível mais elevado de automação e às novas técnicas de montagem de estrutura que permitirão que a empresa produza o 787 mais rápido do que os aparelhos tradicionais de alumínio do mesmo porte.
Shanahan acrescentou que a Boeing e a Administração Federal da Aeronáutica (FAA) norte-americana haviam fechado acordo quanto aos vôos de certificação. "Esta é a primeira vez em que nós e a FAA concordamos quanto a todos os requisitos, antes do vôo", ele disse. "O próximo passo será demonstrar que cumprimos o combinado. Mas o que conseguimos até agora é uma grande conquista para nós e reflete quatro anos de relacionamento muito estreito entre a Boeing e a FAA".
Fonte: New York Times / Tradução: Paulo Eduardo Migliacci