No decorrer desta semana, outra polêmica, talvez a mais surpreendente do ano até agora, cercou o noticiário dentro da aviação comercial brasileira, pois foram reveladas conversas da administração da Azul sobre o interesse da companhia aérea em adquirir a LATAM Airlines Brasil.
Na segunda-feira, foi divulgada a notícia de que a LATAM Brasil cresceria fortemente ao longo deste ano e que, com isso, seu acordo de codeshare com a Azul - firmado em meio ao auge da pandemia Covid-19 no ano passado - seria encerrado em nos próximos 90 dias.
“Esse acordo de codeshare foi uma alternativa identificada pelas duas companhias aéreas para enfrentar a queda nas vendas e a redução da rede durante o auge da pandemia”, disse Jerome Cadier, CEO da LATAM Brasil, em comunicado. “Além disso, tanto a expansão quanto o volume de passageiros que se beneficiam deste acordo estavam abaixo das expectativas iniciais da LATAM durante o ano de 2021.”
Pré-Covid-19, a Azul era a terceira maior operadora nacional no Brasil, com a LATAM Brasil a segunda maior. O acordo de codeshare foi assinado em junho do ano passado com o objetivo de unir as capacidades da rede doméstica de ambas as companhias aéreas, desbloqueando mais demanda para ambas.
Após o anúncio da LATAM, a Azul postou uma atualização em seu site de relações com investidores sobre “o mercado em codeshare com a Latam Airlines Brasil e possível consolidação da indústria”, mencionando que “contratou consultores e está explorando ativamente oportunidades de consolidação da indústria na região”.
“Também percebemos que a consolidação da indústria seria importante para a recuperação pós-pandemia e a Azul seria uma parte fundamental de qualquer atividade desse tipo”, disse o CEO da Azul, John Rodgerson. “No final do primeiro trimestre de 2021, contratamos consultores financeiros e estamos explorando ativamente oportunidades de consolidação. Acreditamos que o cancelamento do codeshare pela Latam seja uma reação a esse processo”.
Desnecessário dizer que o lançamento fez grandes ondas no mercado, com as ações da Azul saltando mais de 11% no dia seguinte.
No dia seguinte, Cadier repreendeu a ideia de que a unidade brasileira do Grupo LATAM Airlines pudesse ser vendida.
“Não há intenção de separar a operação Brasil do grupo”, disse ao jornal O Estado de São Paulo; “A força da LATAM está na complementaridade de operações [em diferentes países]. Separar não faz sentido economicamente para o grupo.”
No entanto, as fontes contaram uma história diferente. Não é que a Azul estivesse buscando a LATAM para comprar a unidade brasileira, mas sim que a Azul estava procurando os credores do Capítulo 11 da LATAM para negociar um possível negócio. O plano de recuperação do Capítulo 11 da LATAM ainda não foi aprovado por seus credores. “Houve tentativas de compra e até negociação direta com os credores do rival chileno-brasileiro”, noticiou a revista EXAME.
A agência também informou sobre dois fatores que poderiam impedir uma eventual aquisição: a dívida da Azul e a enorme concentração de mercado que resultaria de uma eventual fusão. Cerca de 60% da participação de mercado seria dominada pela empresa combinada, o que provavelmente seria impedido pelas autoridades brasileiras de defesa da concorrência.
Um Azul Embraer 195 taxiando em Manaus. (Foto: AirlineGeeks | João Machado) |
A notícia das negociações com os credores da LATAM desencadeou uma investigação da Comissão de Valores Mobiliários sobre a Azul.
“Como parte deste estudo ativo de oportunidades de consolidação do setor, a empresa pode avaliar vários tipos de consolidação, incluindo aquisições, fusões, acordos societários e/ou operacionais ou outras combinações de negócios, bem como manteve e manterá contato, por si mesma ou através de seus consultores, com diversos stakeholders e outros participantes nos mercados em que atua”, disse o CFO da Azul, Alex Malfitani, em sua resposta formal. “No entanto, até esta data, não há nenhuma proposta ou acordo vinculativo assinado em relação a essas oportunidades de consolidação.”
Por João Machado (AirlineGeeks)
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