Em meio ao resgate de corpos, dúvidas sobre causas do acidente persistem.
O acidente com o voo 447 da Air France entre Rio de Janeiro e Paris, que deixou 228 mortos em 2009, é o tema de reportagem de capa da "The New York Times Magazine" desta semana.
O texto recapitula os principais lances do acidente e da sua investigação e se detém nas perguntas ainda não respondidas sobre o que teria provocado o desastre sobre o Oceano Atlântico.
Leia abaixo - e nos próximos post's - a íntegra do texto de Wil S. Hyldon, com tradução de Luiz Marcondes:
No final da manhã de 3 de abril, o navio de expedição Alucia foi violentamente sacudido no Atlântico Sul por ventos fortes no convés de popa, enquanto a tripulação se amontoava vestida com capas de chuva e observava um borrão amarelo no horizonte através dos mares cada vez mais pesados. Esse objeto era um submarino-robô de reconhecimento, trazendo 15 mil fotos que eles estavam ansiosos para ver.
Mas ele havia flutuado para a superfície bem na hora em que os ventos aumentaram de velocidade, chegando a 30 nós, e as ondas, a 1,2 metro de altura, atingindo a popa. Era perigoso demais recolher o submarino. Por isso eles observaram e esperaram.
Durante oito dias, o Alucia havia percorrido o oceano perto do local conhecido com L.K.P. (Last Known Position), a última posição conhecida do voo 447, onde caiu o jato da Air France que havia desaparecido em junho de 2009, na metade do caminho entre a América do Sul e a África. Nos quase dois anos seguintes, três outras equipes de busca procuraram por destroços, mas esta era a primeira vez que o Alucia tentava.
O navio levava a bordo três submarinos Remus 6000, alguns dos veículos de busca submarina mais avançados do mundo, que varriam o fundo do mar em turnos de 20 horas, depois vinham à superfície para entregar imagens de sonar à equipe científica do Alucia, que analisava os dados em turnos de 12 horas sem parar. Até agora, eles não haviam encontrado o avião, mas na véspera um cientista apontou algo incomum no monitor e disse: “E o que é isto?” Desde então, o clima a bordo do Alucia ficou tenso.
Todos sabiam o quanto estava em jogo. Este não era um scan do Mar dos Sargaços ou um estudo de amostras de salinidade. As famílias dos 228 passageiros estavam ansiosas por resultados. A busca já durava dois anos e havia custado mais de US$ 25 milhões.
Mais US$ 12 milhões foram gastos com o Alucia este ano, mas os investigadores franceses haviam decidido em silêncio que este ano seria o último. Se o Alucia não achasse o avião, ninguém o encontraria nunca.
O líder da expedição, Michael Purcell, era metade colega e metade chefe, com uma voz rouca, uma risada poderosa e um sarcasmo brincalhão, mas ele conhecia os submarinos Remus tão bem quanto qualquer outra pessoa.
Olhando para a marca desfocada em seu monitor, ele sabia que eles haviam encontrado algo que não era natural. Era estreito e comprido demais para ser algo geológico. Era diferente de tudo mais que havia no fundo do mar. Por outro lado, se aquilo não fosse o avião do voo 447, Purcell sabia que a decepção seria evidente.
Enquanto se preparava o submarino fotográfico para voltar ao fundo para uma missão de 18 horas, Purcell cochichou com outro cientista: “tenho 95% de certeza de que é isso. Mas, cara, se não for serão dois meses e meio muito longos”.
O submarino mergulhou às 21h45. Às 2h, Purcell ainda estava acordado em sua cabine. Ele pegou seu diário. “Cansado, mas sem sono”, escreveu. “Talvez tenha encontrado o avião hoje. Todo mundo está tenso”.
Quatro horas depois, Purcell já estava acordado com o sol nascente e no fim da manhã já estava no convés com a tripulação vendo o Remus voltando à tona ao longe. Pouco depois das 13h, eles içaram o submarino a bordo e conectaram dois cabos grossos a ele para fazer o upload de seus dados nos computadores da sala de controle da missão.
Eles fecharam as cortinas da sala para que a tripulação não cientista não pudesse ver lá dentro e deixaram o link de satélite offline para que as novidades não vazassem. Então, eles se reuniram em torno do monitor do computador enquanto as primeiras imagens do voo 447 começaram a aparecer na tela: turbinas, trem de pouso e partes da fuselagem, todos nitidamente visíveis no fundo do oceano.
Mas, quando eles ligaram o satélite de novo e começaram e enviar as primeiras fotos para os investigadores de acidentes aéreos na França, as implicações mais profundas de sua descoberta começaram a vir à superfície.
Leia a reportagem original publicada neste domingo no New York Times.
Fonte: Wil S. Hylton (New York Times) via G1