Um grupo de cinco médicos legistas do Instituto de Pesquisas Criminais da Polícia Militar da França, que já atuou na identificação de vítimas de grandes catástrofes, como o tsunami no Sudeste Asiático e o acidente com o avião Concorde, em 2000, começará a trabalhar nesta terça-feira em Recife, em parceria com técnicos brasileiros, na identificação das vítimas do voo 447 da Air France.
Entre os legistas franceses da Unidade de Identificação de Vítimas de Catástrofes que chegam a Recife no final da noite desta segunda-feira estão um especialista em reconstrução de impressões digitais, um dentista e um biólogo, encarregado de recolher amostras de DNA em corpos que estejam muito deteriorados.
- Já temos uma segunda equipe pronta para ser enviada caso necessário - disse à BBC Brasil o coronel François Daust, diretor do Instituto de Pesquisas Criminais da Polícia Militar da França (IRCGN, na sigla em francês), situada nos arredores de Paris, que criou em 1992 uma unidade especializada na identificação de vítimas de catástrofes.
- Já atuamos em 25 catástrofes na França e no mundo e nossas investigações sempre permitiram identificar todas as vítimas, mesmo no caso do tsunami no Sudeste Asiático, que contou com várias equipes internacionais - afirma Daust.
DNAA equipe francesa também já trabalhou na identificação dos corpos no acidente no túnel do Mont Blanc, que liga a Itália à França, em 1999, e na queda de um avião na Venezuela no ano passado.
Segundo o diretor, uma vítima do voo 447 só será formalmente identificada "após uma reunião entre especialistas franceses e brasileiros que irão comparar os elementos do dossiê médico e dentário da vítima".
Para realizar a identificação, os especialistas franceses estão recolhendo os dados médicos e dentários junto aos familiares e profissionais de saúde que tratavam as vítimas, além de elementos descritivos, como joias usadas ou características físicas particulares.
As informações médicas, como cirurgias e fraturas, e dentárias dos passageiros devem permitir, na avaliação de Daust, a identificação "em 98% dos casos", de acordo com os métodos utilizados pelos legistas e dentistas franceses.
- Testes de DNA são realizados muito raramente quando os corpos estão inteiros. Os exames genéticos são feitos quando são encontrados apenas pedaços ou fragmentos dos corpos - afirma. Neste caso, os resultados podem levar "várias semanas", diz.
Segundo Daust, a França irá centralizar os dados médicos e dentários de todos os passageiros europeus. A maioria das 228 vítimas do acidente com o voo 447 é francesa. O trabalho de identificação dos corpos será totalmente realizado no Brasil.
Tsunami
Baseado na experiência do tsunami no Sudeste Asiático, o coronel Daust afirma que a identificação de corpos que ficaram muito tempo na água pode ser mais difícil em razão "da deterioração muito rápida dos tecidos".
Mas no caso do tsunami, vítimas localizadas mais de um mês após a catástrofe puderam ser identificadas pelos ossos e, sobretudo, pela dentição.
- A identificação a partir dos dados médicos e dentários, além das impressões digitais, funciona perfeitamente, mesmo nesse caso. Quando os corpos estão inteiros, a identificação é possível, não existem dificuldades que não possam ser superadas - afirma o coronel.
- No caso de fragmentos o trabalho é mais difícil, mas quase sempre existe a possibilidade de identificação - afirma.
A França praticamente já terminou a coleta de DNA de parentes das 72 vítimas do país.
A Unidade de Identificação de Vítimas de Catástrofe trabalha de acordo com protocolos internacionais fixados pela Interpol (a polícia internacional).
Além dos cinco especialistas do Instituto de Pesquisas Criminais da França, o grupo francês que chega a Recife também é formado por dois investigadores e um outro legista.
Eles trabalham no âmbito das investigações da Procuradoria de Paris e acompanharão os resultados dos resgates dos destroços e dos corpos para fornecer elementos à investigação realizada pela Justiça sobre o acidente com o avião da Air France, que poderá apontar eventuais responsáveis pela catástrofe.
Fonte: BBC Brasil via O Globo