Para a Nasa, a Agência Espacial Americana, os misteriosos rastros observados em lagos secos na Califórnia e em Nevada podem ser explicados de forma simples: as pedras andam porque deslizam no gelo.
Antes de entrar em explicações técnicas de como o gelo foi parar em um solo de argila seca no meio do deserto, vale explicar a história dessas famosas rochas andarilhas. O local mais famoso em que elas são observadas é conhecido como Racetrack Playa, no Vale da Morte, Califórnia. Mas desde a década de 1940 pesquisadores detectaram o mesmo fenômeno em diversas formações semelhantes.
As explicações óbvias foram logo descartadas para explicar o fenômeno: não houve ajuda de animais, gravidade ou terremotos. Para investigar melhor, a Nasa enviou uma equipe de 17 pessoas do Centro de Vôos Espaciais Goddard até a Racetrack Playa. Permanecendo seca a maior parte do tempo, essa grande planície possui 7,2 km de comprimento.
Para cada rocha e trilha encontradas, foram registradas coordenadas de GPS e tiradas fotos.
Os pesquisadores, muitos deles alunos, também desenterraram sensores colocados anteriormente para capturar dados de umidade e temperatura. Além de confirmar que algumas grandes rochas se moveram mais do que as pequenas, a equipe ainda descartou outras possibilidades: não havia campos magnéticos incomuns ou que sofressem variações, muito menos radiação ou qualquer inclinação relevante que explicasse o fenômeno. Análise das pedras também revelou que elas não possuem nenhuma composição ou propriedade excepcional – a não ser o fato de estarem localizadas muito longe das montanhas de onde caíram.
Algumas das rochas que se moveram pesam menos do meio quilo, mas a maioria pesa entre 11 e 13 quilos. A maior delas, chamada Karen, tem 317 quilos. A única explicação possível, a única força poderosa capaz de movê-la seria o vento – mas, ainda assim, os 240 km/h medidos não são suficientes para causar tamanho deslocamento.
Os cientistas então começaram a se perguntar se haveria alguma forma de reduzir a fricção entre as rochas e o chão argiloso, de modo que o vento pudesse empurrá-las. Uma das principais hipóteses era a de que a umidade transformaria a argila em uma fina lama, fazendo com que algas possivelmente dormentes formassem um limo no qual a pedra deslizaria. Apesar de ter sido provado que a umidade seria mesmo capaz disso, essa explicação das algas não seria suficiente para movimentar todas as pedras observadas.
Foi então que surgiu outra hipótese: o gelo. A neve que desce das montanhas se acumula em poças e congela durante a noite. Há décadas acreditava-se que o gelo poderia envolver grupos de rochas, que seriam então arrastadas pelo vento. Novamente, experimentos mostraram que esta explicação não era válida para todos os casos.
De volta aos modelos, os cientistas concluíram que um anel de gelo pode se formar na parte de baixo das pedras, provavelmente porque sua massa retém o frio. Quando mais água chega na pedra, essa camada de gelo ajuda o objeto a flutuar parcialmente, de forma que até mesmo uma rocha pesada consegue se mover com o vento. Isso também explica porque algumas das trilhas começam finas e vão ficando mais espessas: a rocha gradualmente afunda na argila úmida conforme o gelo vai derretendo.
As análises de temperatura provaram que seria mesmo possível a formação de gelo – o que levanta uma última hipótese a ser testada. Durante os estudos, o grupo da Nasa especulou se as rochas se movem por um processo de “regelo”, causado por uma diferença de pressão dos dois lados de um objeto. A água de um lado permanece líquida e escorre para o outro lado, prendendo bolhas de ar aonde o gelo se forma.
E enquanto tenta solucionar de vez o mistério das pedras que caminham, os pesquisadores convidam o públcio a colaborarem postando suas próprias fotos da Racetrack Playa no site do projeto.
Fonte: Paula Rothman (INFO Online) - Fotos: Goddard/Nasa