Uma coluna da semana passada no “The New York Times” sobre uma proposta da Administração da Segurança do Transporte foi seguida de milhares de e-mails. O texto apresentava um plano para colocar máquinas que projetam a imagem de todo o corpo em substituição aos detectores de metal nos aeroportos.
Poucos apoiaram a declaração da agência de que o “whole-body imager” (projetor de corpo inteiro, em tradução livre) – do tipo que fornece uma imagem do corpo nu – seria bem recebido pelo público.
Atualmente, a agência está testando suas máquinas em 19 aeroportos, e seus oficiais disseram que a aceitação dos passageiros foi alta. Eles também disseram que, em testes, passageiros passavam pelo controle com a mesma velocidade daqueles que passavam no detector de metais.
Originalmente, o “whole-body imaging” foi proposto como uma alternativa para os relativamente poucos passageiros escolhidos para uma segunda checagem, permitindo-os a optar pela máquina que passa a imagem do corpo ao invés da revista física. Agora que a agência está propondo o uso da máquina no sistema de segurança primário, muito mais pessoas parecem estar dando atenção às implicações.
Invasão de privacidadeLaura Holmes Jost, de Miami Beach, é uma delas. Jost e seu marido são donos de uma empresa de investimentos de bens imobiliários e viajam ao menos uma vez por semana. Em uma entrevista na semana passada, ela disse saber que as máquinas estavam sendo testadas e jurou ficar longe delas.
No entanto, inconscientemente, ela acabou indo a uma delas em um aeroporto de Miami.
“Eu estava estressada e com pressa”, disse ela, sobre o momento em que uma segurança a direcionou para uma máquina que se parecia com uma cabine. Jost disse ter achado que era outro tipo de máquina, daquelas chamadas dispositivo peixe-bola, que busca por traços de explosivos.
“Quando descobri, me senti realmente violada e brava comigo mesma”, disse. “Eu venho tentando evitar essas máquinas e literalmente entrei em uma delas sem saber. Eu realmente não liguei os pontos até que estava sentada no avião e disse: meu Deus, aquela era uma daquelas máquinas de despir a pessoa”.
Foi assim que ela descreveu o processo:
“Eles me pediram para entrar na cabine e apontaram os pontos no chão onde eu deveria colocar os pés. Fizeram-me levantar os braços, e então o homem saiu da máquina, fechou a porta e algo começou a girar em volta de mim como se estivesse fazendo um raio-x. Então, a porta se abriu.
“O homem me pediu para virar de lado e havia outro par de marcas no chão para eu pisar. A porta se fechou novamente, algo girou em volta de mim de novo, a porta se abriu. Fiquei esperando lá fora enquanto o homem pegava as informações de uma luz na frente da máquina, o que eu acho que era uma pessoa em outro local dizendo, ‘OK, ela está limpa’.”
Uso abusivo das imagensComo Jost, muitas pessoas que protestam contra a natureza invasiva dessas máquinas insistem que não são puritanos. Na Europa, por exemplo, a oposição furiosa está fazendo de tudo para evitar que as máquinas sejam colocadas nos aeroportos.
Esses projetores receberão uma atenção mais detalhada e intensa do público com o crescimento da tecnologia de segurança do “brave new world” (livro de Aldous Huxley que fala sobre uma sociedade altamente controlada). Mas a avaliação pessoal de Jost, que reflete as opiniões ouvidas de outros viajantes, merece uma consideração séria.
“Quando eu descobri o que aconteceu, me senti violada”, disse ela. “Eu não quero um estranho olhando uma imagem minha, nua, na sala ao lado. É uma invasão do meu direito de privacidade”.
Ela disse ter ficado incrédula com a declaração da agência de segurança de que os passageiros que participaram dos testes se moveram na mesma velocidade que aqueles que passaram nos detectores de metais – isto é, em poucos segundos. “Demorou cerca de dois minutos”, disse.
A agência também alega que a capacidade da máquina de armazenar as imagens dos passageiros será desativada. Porém, muitas pessoas que ouvi disseram que mesmo assim se preocupam com a possibilidade de imagens de pessoas nuas serem armazenadas e usadas com abuso.
“Você realmente acha que se a Angelina Jolie ou a Britney Spears passarem nessa máquina, não haverá pessoas tentando descobrir como pegar essas fotos?”, questionou Jost.
Fonte: Joe Sharkey (New York Times) via Último Segundo (IG) - Imagem: www.tsa.gov