Para o físico Stephan Hawking, considerado por muitos o maior gênio vivo, até o final deste milênio a humanidade pode ser destruída por milhares de eventos. Vírus geneticamente modificados, meteoros, catástrofes nucleares. Somos tão sujeitos à extinção quanto os dinossauros. A única escapatória para preservar o conhecimento, a arte e a tecnologia seria a colonização do espaço e a criação de uma base de emergência em outros planetas. Essa tese é usada por Jorge Luiz Calife, autor do livro “Como os astronautas vão ao banheiro e outras questões perdidas no espaço” para justificar por que o homem deve continuar investindo milhões na exploração do espaço.
Nas 254 páginas da obra, Calife responde às questões mais corriqueiras e curiosas sobre o Universo e as viagens ao espaço. E para celebrar o Dia Mundial da Astronomia, a Galileu compartilha com você algumas delas. Um belo aperitivo para a humanidade enquanto nem o fim do mundo nem a colonização do espaço chegam...
Como os astronautas vão ao banheiro?
Livro: Editora Record, 254 páginas, R$32,90
A pergunta é tão comum que está até no filme Apollo 13, com Tom Hanks. A resposta depende do tipo de nave em que o astronauta está viajando. Os primeiros astronautas, por exemplo, faziam viagens tão curtas que a nave nem sequer tinha banheiro. O primeiro dispositivo sanitário, que surgiu com as cápsulas Gemini, na década de 60, era bem rudimentar: uma garrafa plástica na qual eles faziam suas necessidades e com as quais tinham que conviver dolorosamente durante todo o tempo da viagem – imagine estar por 14 dias coexistindo com um vaso sanitário sem dar a descarga?
E o constrangimento não tem fim. Enquanto os astronautas do Projeto Apollo passeavam na superfície da Lua, em 1970, eles usavam grandes fraldas descartáveis como se fossem bebês. A primeira nave espacial americana a conter um banheiro decente foi a Skylab, de 1973. Os dejetos depositados em seu vaso sanitário eram guardados em sacos plásticos contendo germicidas – alguns deles eram levados para a Terra para exames mais tarde.
Quando os ônibus espaciais decolaram, a situação mudou de vez. Com a necessidade de transportar tripulações mistas de homens e mulheres, a Nasa teve que achar um jeitinho de garantir privacidade. Tudo que era feito na pequena cabine-banheiro desses ônibus era armazenado em um compartimento lacrado e exposto ao vácuo espacial. O vácuo levava os líquidos e todo o resto era trazido de volta pra Terra, para não emporcalhar o espaço.
O que são as manchas escuras na Lua?
Se você tiver a vista boa e observar a Lua esta noite vai reparar em duas manchas. Um ponto brilhante em uma das extremidades e uma pinta circular, escura, na extremidade oposta. O ponto brilhante é a gigantesca cratera de Tycho – que foi nomeada em homenagem ao astrônomo Tycho Brahe - e a pinta escura é o Mar das Crises. Todos os pontos escuros da superfície da Lua se chamam “mares” porque os astrônomos antigos acreditavam que fossem parte de um oceano lunar. Mais tarde, com a invenção do telescópio, eles descobriram que estas eram na verdade planícies secas, como é o caso do Mar das Crises.
Onde acaba a gravidade?
Quando assistem aos filmes espaciais algumas pessoas pensam que os astronautas estão flutuando porque saíram do campo de gravidade da Terra. Esse pensamento está errado. A gravidade não acaba num ponto qualquer do espaço. A Lua está a 383 mil quilômetros do nosso planeta e ainda sofre atração da gravidade terrestre. As pessoas dentro das naves só flutuam porque estão em queda livre ao redor do planeta. E essa velocidade é tão alta que ela anula a gravidade.
A mesma experiência pode ser repetida aqui mesmo, na Terra. Imagine um elevador cujo cabo foi cortado. Todo mundo dentro dele ficará flutuando dentro da cabine, até que ela toque o chão. Nem mesmo quando uma nave vai em direção a outros planetas ela perde a influência da gravidade. Quando se afasta muito da Terra, ela pode começar a agir sob a influência de outros corpos, como o Sol.
Existe outro Planeta como a Terra?
A agência espacial americana acredita que sim. Só na nossa galáxia devem existir uns mil mundos como a Terra, orbitando outros sóis muito distantes de nós. Em 2012 a Nasa pretende ir à caça dessas possíveis Terras. Eles vão lançar no espaço um telescópio gigante, o Terrestrial Planet Finder (descobridor de planetas terrestres). Esse super telecóspio será capaz de observar planetas do tamanho da Terra até 500 trilhões de quilômetros.
É claro que ninguém espera encontrar um planeta habitado por homens e mulheres como os da Terra. A forma de vida que nós somos hoje é resultado de milhares de acidentes e coincidências ao longo de milhões de anos. Qualquer forma de vida que apareça por aí deve ser tão diferente quanto uma girafa de uma lesma.
De onde vem a lenda, que alimentou tantos filmes de ficção científica, de que existe vida inteligente em Marte?
Tudo começou com os gregos. Quando viam Marte da Terra, assim como hoje, eles enxergavam uma estrela avermelhada como o sangue. Por isso a chamaram de Ares, o deus da guerra. Por associação, eles esperavam que os habitantes desta estrela fossem um povo guerreiro. Em 1877, quando já existia o telescópio, o italiano Giovanni Schiaparelli afirmou que tinha visto “canali” na superfície do Planeta. A palavra italiana quer dizer “trechos navegáveis de um rio”, mas foi erroneamente traduzida para o inglês como “canals”, canais de construção artificial. O mundo todo ficou animado acreditando que ele tinha visto sinais de vida inteligente em Marte.
Um desses entusiasmados era o americano milionário Percival Lowell, que mandou construir um observatório no Arizona crente que descobriria mais sobre a vida inteligente em Marte. Logo saiu por aí dando palestras e desenhando mapas sobres os canais artificiais marcianos que eles haviam construído por todo o planeta para aliviar seus problemas com a seca – mais ou menos como uma gigantesca transposição do São Francisco. Foi por aí que surgiram livros como o de H.G. Wells, que mais tarde daria origem ao filme “A guerra dos Mundos”. Obviamente, em pouco tempo, outros astrônomos descobriram que o ar de Marte era tênue demais para permitir a existência de água líquida em sua superfície e que Lowell estava errado. De toda forma foi um mal-entendido de bons frutos: afinal, o que faríamos com nosso cinema de ficção científica sem os marcianos?
Fonte: Mariana Lucena (Revista Galileu) - Imagens: Agência Shutterstock / Divulgação
Nas 254 páginas da obra, Calife responde às questões mais corriqueiras e curiosas sobre o Universo e as viagens ao espaço. E para celebrar o Dia Mundial da Astronomia, a Galileu compartilha com você algumas delas. Um belo aperitivo para a humanidade enquanto nem o fim do mundo nem a colonização do espaço chegam...
Como os astronautas vão ao banheiro?
Livro: Editora Record, 254 páginas, R$32,90
A pergunta é tão comum que está até no filme Apollo 13, com Tom Hanks. A resposta depende do tipo de nave em que o astronauta está viajando. Os primeiros astronautas, por exemplo, faziam viagens tão curtas que a nave nem sequer tinha banheiro. O primeiro dispositivo sanitário, que surgiu com as cápsulas Gemini, na década de 60, era bem rudimentar: uma garrafa plástica na qual eles faziam suas necessidades e com as quais tinham que conviver dolorosamente durante todo o tempo da viagem – imagine estar por 14 dias coexistindo com um vaso sanitário sem dar a descarga?
E o constrangimento não tem fim. Enquanto os astronautas do Projeto Apollo passeavam na superfície da Lua, em 1970, eles usavam grandes fraldas descartáveis como se fossem bebês. A primeira nave espacial americana a conter um banheiro decente foi a Skylab, de 1973. Os dejetos depositados em seu vaso sanitário eram guardados em sacos plásticos contendo germicidas – alguns deles eram levados para a Terra para exames mais tarde.
Quando os ônibus espaciais decolaram, a situação mudou de vez. Com a necessidade de transportar tripulações mistas de homens e mulheres, a Nasa teve que achar um jeitinho de garantir privacidade. Tudo que era feito na pequena cabine-banheiro desses ônibus era armazenado em um compartimento lacrado e exposto ao vácuo espacial. O vácuo levava os líquidos e todo o resto era trazido de volta pra Terra, para não emporcalhar o espaço.
O que são as manchas escuras na Lua?
Se você tiver a vista boa e observar a Lua esta noite vai reparar em duas manchas. Um ponto brilhante em uma das extremidades e uma pinta circular, escura, na extremidade oposta. O ponto brilhante é a gigantesca cratera de Tycho – que foi nomeada em homenagem ao astrônomo Tycho Brahe - e a pinta escura é o Mar das Crises. Todos os pontos escuros da superfície da Lua se chamam “mares” porque os astrônomos antigos acreditavam que fossem parte de um oceano lunar. Mais tarde, com a invenção do telescópio, eles descobriram que estas eram na verdade planícies secas, como é o caso do Mar das Crises.
Onde acaba a gravidade?
Quando assistem aos filmes espaciais algumas pessoas pensam que os astronautas estão flutuando porque saíram do campo de gravidade da Terra. Esse pensamento está errado. A gravidade não acaba num ponto qualquer do espaço. A Lua está a 383 mil quilômetros do nosso planeta e ainda sofre atração da gravidade terrestre. As pessoas dentro das naves só flutuam porque estão em queda livre ao redor do planeta. E essa velocidade é tão alta que ela anula a gravidade.
A mesma experiência pode ser repetida aqui mesmo, na Terra. Imagine um elevador cujo cabo foi cortado. Todo mundo dentro dele ficará flutuando dentro da cabine, até que ela toque o chão. Nem mesmo quando uma nave vai em direção a outros planetas ela perde a influência da gravidade. Quando se afasta muito da Terra, ela pode começar a agir sob a influência de outros corpos, como o Sol.
Existe outro Planeta como a Terra?
A agência espacial americana acredita que sim. Só na nossa galáxia devem existir uns mil mundos como a Terra, orbitando outros sóis muito distantes de nós. Em 2012 a Nasa pretende ir à caça dessas possíveis Terras. Eles vão lançar no espaço um telescópio gigante, o Terrestrial Planet Finder (descobridor de planetas terrestres). Esse super telecóspio será capaz de observar planetas do tamanho da Terra até 500 trilhões de quilômetros.
É claro que ninguém espera encontrar um planeta habitado por homens e mulheres como os da Terra. A forma de vida que nós somos hoje é resultado de milhares de acidentes e coincidências ao longo de milhões de anos. Qualquer forma de vida que apareça por aí deve ser tão diferente quanto uma girafa de uma lesma.
De onde vem a lenda, que alimentou tantos filmes de ficção científica, de que existe vida inteligente em Marte?
Tudo começou com os gregos. Quando viam Marte da Terra, assim como hoje, eles enxergavam uma estrela avermelhada como o sangue. Por isso a chamaram de Ares, o deus da guerra. Por associação, eles esperavam que os habitantes desta estrela fossem um povo guerreiro. Em 1877, quando já existia o telescópio, o italiano Giovanni Schiaparelli afirmou que tinha visto “canali” na superfície do Planeta. A palavra italiana quer dizer “trechos navegáveis de um rio”, mas foi erroneamente traduzida para o inglês como “canals”, canais de construção artificial. O mundo todo ficou animado acreditando que ele tinha visto sinais de vida inteligente em Marte.
Um desses entusiasmados era o americano milionário Percival Lowell, que mandou construir um observatório no Arizona crente que descobriria mais sobre a vida inteligente em Marte. Logo saiu por aí dando palestras e desenhando mapas sobres os canais artificiais marcianos que eles haviam construído por todo o planeta para aliviar seus problemas com a seca – mais ou menos como uma gigantesca transposição do São Francisco. Foi por aí que surgiram livros como o de H.G. Wells, que mais tarde daria origem ao filme “A guerra dos Mundos”. Obviamente, em pouco tempo, outros astrônomos descobriram que o ar de Marte era tênue demais para permitir a existência de água líquida em sua superfície e que Lowell estava errado. De toda forma foi um mal-entendido de bons frutos: afinal, o que faríamos com nosso cinema de ficção científica sem os marcianos?
Fonte: Mariana Lucena (Revista Galileu) - Imagens: Agência Shutterstock / Divulgação
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