Três tipos de caça disputam a preferência do governo brasileiro para estar entre as aeronaves de combate da Força Aérea. O objetivo desse processo de renovação é a compra imediata de 36 jatos. Nos próximos anos, o país deve aumentar as compras para chegar até 120 unidades.
Os modelos que continuam no páreo são: o Rafale, produzido pela francesa Dassault; o sueco Gripen NG, cuja fabricante é a Saab; e finalmente o FA-18 Super Hornet, da americana Boeing.
A BBC Brasil ouviu analistas para entender melhor as vantagens e desvantagens dos três modelos.
O reitor do Royal Air Force College (Faculdade da Força Aérea britânica), Joel Hayward, e o analista de aviação da consultoria Jane's, Craig Caffrey, acreditam que as três aeronaves têm capacidades similares.
Mas Hayward vê no Rafale a melhor aeronave para defender os céus brasileiros, enquanto Caffrey crê que o Gripen pode oferecer a melhor oportunidade de desenvolvimento da indústria aeroespacial do país.
Performance e poderio bélico
Segundo os especialistas ouvidos, os três modelos são bastante parecidos.
"Nenhum dos três caças tem alguma grande vantagem de desempenho em relação aos demais", diz Caffrey. O Rafale e o FA-18 voam a uma velocidade máxima de 2 mil quilômetros por hora, enquanto o Gripen chega a 1500. Todos os três superam os 3 mil quilômetros de autonomia.
No quesito capacidade de carga bélica (mísseis e bombas que podem carregar), todos são semelhantes também. "Os três caças portam bombas de precisão guiada e avançados mísseis para atingir alvos no ar", explica Caffrey.
Mas o Gripen tem uma vantagem e uma desvantagem nesse quesito. Por ser o menor, o caça sueco pode transportar 6,5 toneladas desse tipo de material, enquanto o francês leva oito e o americano 9,5 toneladas. "Porém ele está sendo desenvolvido para portar uma maior variedade de armamentos do que os outros dois", diz Caffrey.
O fato de o sueco ter apenas um motor contra dois dos concorrentes é visto com reticência por alguns pilotos. Mas Caffrey explica que os motores modernos são extremamente confiáveis. "A Força Aérea Sueca opera a primeira geração do Gripen desde 1997 e estou certo de que eles nunca perderam um caça por causa de problemas no motor", comenta o analista.
Joel Hayward concorda, dizendo que os monomotores são tão confiáveis quanto os demais. Para o reitor do Royal Air Force College, o que realmente deve pesar nessa questão de performance é a função que o caça irá desempenhar.
"Se o objetivo primordial do governo brasileiro é patrulhar a faixa de mar do pré-sal e a Amazônia, ou seja, lidar com alvos no solo, qualquer uma das três aeronaves é perfeitamente capaz. Mas se o país quer estar preparado para se defender de ataques aéreos de outras nações sul-americanas, o modelo francês é certamente o mais adequado", diz Hayward.
O reitor explica que o Rafale tem maior agilidade nas manobras e seus avionics (conjunto de instrumentos de pilotagem e combate) são os mais avançados.
Transferência de tecnologia
O Brasil colocou a transferência de tecnologia como critério essencial nessa negociação. Hayward explica a importância desse aspecto:
"É como quando você compra um computador. Se você não domina os códigos-fonte do processador, será sempre dependente dos avanços que o fabricante conseguir, o que certamente terá um custo alto. Mas se você tem os códigos, pode desenvolver o equipamento por sua própria conta".
Todos os três fabricantes prometem transferir integralmente a tecnologia. Mas na prática pode não ser bem assim. "É muito comum que na hora de vender o produto, as empresas prometam transferir completamente a tecnologia de seus caças. No entanto, depois do contrato assinado, muitas vezes as coisas não transcorrem tão bem", comenta Hayward. Por isso ele crê que a boa relação diplomática entre Brasil e França deve pesar, já que ela pode garantir o cumprimento do contrato.
Os especialistas avisam que também é preciso considerar o grau de desenvolvimento atual de cada aeronave, pois isso indica o quanto o modelo ainda poderá ser explorado pelo Brasil.
Para Caffrey, o FA-18 talvez ofereça a maior garantia de desenvolvimento, porque a Marinha americana ainda vai utilizá-lo por muitos anos e, portanto, investir nele. Quanto ao Gripen NG, que é a nova geração do Gripen original, é o que promete o maior desenvolvimento tecnológico futuro por ser o mais novo.
"Se o Gripen for o escolhido, então o Brasil poderia se tornar um parceiro nos estágios finais do programa de desenvolvimento do caça. Nenhum dos demais concorrentes pode oferecer esse grau de envolvimento", diz Caffrey. Mas Hayward observa que, ao contrário dos rivais, essa nova geração do Gripen ainda não foi testada em combate.
Preço
Um último fator que também pode ser decisivo é o custo das aeronaves. O pacote completo do Gripen deve sair por R$ 5 bilhões, enquanto o do FA-18 custaria R$ 8 bilhões e o do Rafale por R$ 10 bilhões. Além disso, o custo operacional de cada aeronave também varia. Cada hora de vôo do modelo sueco custa US$ 4 mil, incluindo combustível e manutenção, enquanto para os demais esse valor chegaria a US$ 14 mil.
"Supondo uma transferência total de tecnologia e preços semelhantes para os três, eu ficaria com o Rafale da França por ser o melhor caça. Mas se houver realmente uma diferença brutal de preço, aí eu poderia mudar de idéia, pois com os mesmos recursos o Brasil compraria muito mais aeronaves", completa Hayward.
Essa pode ter sido a interpretação da FAB. Em um extenso relatório, a Aeronáutica classificou o Gripen como a melhor opção, levando em conta a performance, o preço e o potencial de transferência de tecnologia.
O poder executivo brasileiro, porém, já havia declarado em setembro do ano passado que o Rafale é o favorito, principalmente porque Brasil e França assinaram uma parceria estratégica no setor militar. Por se tratar de um assunto de segurança nacional, quem dará a palavra final é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Fonte: BBC Brasil