domingo, 30 de agosto de 2020

História: Bernard O'Reilly, o guarda florestal que revelou uma tragédia aérea

Após anos de experiência rural, o australiano contrariou autoridades e saiu para a floresta sem mapas, se deparando com uma tragédia.


Nascido em 3 de setembro de 1903, o jovem Alfonso Bernard O'Reilly teve pouco apreço pela vida urbana; do contrário, seguiu socializando durante a infância e adolescência em escolas próximas das zonas rurais de diferentes regiões da Austrália. Concluiu os estudos em 1917, passando a seguir o sonho de trabalhar no interior.

Tornou-se guarda florestal e, durante nove anos, foi responsável por proteger e realizar a manutenção de cordilheiras e gargantas da floresta tropical, ao redor do Parque Nacional de Lamington. Com a promoção do turismo na região durante a década de 1920, o aumento no número de visitantes fez com que o homem estabelecesse residência na região florestal para evitar a locomoção entre a área rural e sua residência no centro urbano.

Se casou em 1931 e prosseguia com a vida sem interferências externas até 1937, quando um desastre mecânico seria responsável pela preocupação de autoridades. Em 19 de fevereiro, o avião Stinson de prefixo VH-UHH desapareceu misteriosamente durante um trajeto entre Brisbane e Sydney, sem emitir alertas ou atualizações durante uma semana. No oitavo dia, Bernard decidiu auxiliar nas buscas.

O avião Stinger que caiu sobre a cordilheira McPherson

Homem do mato

Com anos de experiência florestal, o australiano solicitou as autoridades um mapa do trecho onde a última atualização foi mandada para a torre de comando e, se possível, uma trilha do trajeto caso fosse concluído com perfeição. Com as informações obtidas, O’Reilly contrariou oficiais e decidiu seguir a pé na cordilheira McPherson, após uma noite chuvosa. Por quase dois dias, Bernard não deu sinal de vida.

Voltou na noite do nono dia após o sumiço com a notícia de que havia encontrado dois sobreviventes, destroços e restos mortais recentes. Aproveitou o retorno para solicitar uma equipe de resgate, que prontamente se juntou ao guarda para reproduzir o caminho. Se impressionaram com o conhecimento florestal do rapaz, que percorreu 16 quilômetros sem consultar nenhum equipamento.

Ao chegar, os dois rapazes aguardavam auxílio com os corpos mutilados em decorrência da queda. Além do corpo inicialmente encontrado por Bernard, a equipe localizou outros quatro mortos nas engrenagens da aeronave. Além de auxiliar no transporte das macas e no pronto-socorro, o guarda orientou o retorno com perfeição.

Jornal noticia a descoberta de dois sobreviventes após a queda 

Orgulho nacional


Assim que a descoberta tornou-se pública por jornais e rádios, O'Reilly passou a ser uma referência de coragem e dedicação, sendo premiado com a medalha Albert, segunda classe, por bravura civil. Calmo, bem-humorado e modesto, era constantemente entrevistado após o feito, sendo elogiado não apenas pelo resgate, mas pela concisão nas palavras, esbanjando educação e respeito.

Motivado pela família a aproveitar a fama, decidiu escrever um livro sobre seu conhecimento florestal — limitando os fatos do resgate apenas aos capítulos. O ‘Green Mountains’, lançado em 1940, foi um sucesso de vendas e posteriormente adaptado ao cinema. Com isso, ainda lançou outros três livros narrativos sobre a vida no campo, além de lançar uma obra de poesias.

Mesmo com o dinheiro obtido com as vendas, fez questão de servir ao país entre 1942 e 1945 na 9ª Divisão da Força Imperial Australiana, sendo guia de navegação para leitura de mapas e navegação por estrelas nas tropas instaladas no Oriente Médio. Ao retornar, abriu um hotel e viveu nas montanhas até 1975, quando, em 20 de janeiro, foi internado no Hospital Beaudeset após um mal súbito em decorrência de uma pneumonia, falecendo aos 71 anos.

Estátua de bronze de O'Reilly retratando o resgate

Fonte: Wallacy Ferrari (aventurasnahistoria.uol.com.br) - Imagens: Australian Dictionary of Biography / Wikipedia

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