Agência espacial declarará equipamento, que pesquisou o planeta vermelho por seis anos, oficialmente desligado
Spirit, o robô –geólogo que cativou o mundo com suas aventuras em Marte antes de ficar preso em uma armadilha de areia, está prestes a encerrar sua vida, após seis anos de intensa produtividade.
O robô não se comunica com a base há mais de um ano, apesar de chamadas diárias da Nasa. A causa para o silêncio do Spirit pode não ser descoberta jamais, mas é provável que o inverno marciano tenha danificado suas partes eletrônicas, impedindo o jipe-robô de seis rodas de acordar.
A agência espacial dos Estados Unidos tem tentado há meses escutar algum sinal de vida do Spirit, sem sucesso. O gerente de projetos John Callas, do Laboratório de Propulsão a Jato, avisou que os últimos comandos serão enviados na quarta (25). Sondas em órbita no planeta vermelho deverão continuar monitorando por sinais do Spirit até o fim do mês, mas as chances de resposta são muito pequenas.
Segundo Callas, o robô é o responsável por “trazer Marte para as massas”.
“Marte não é mais esse lugar distante, misterioso”, disse. “Agora, ele é familiar a nós como nossa cidade natal, e isso é por causa do Spirit”.
Spirit e seu robô-gêmeo Opportunity chegaram de pára-quedas em lados opostos do hemisfério sul de Marte em janeiro de 2004, em uma missão planejada para durar três meses. Os jipes do tamanho de carrinhos de golfe, que funcionavam com energia solar, foram sucesso instantâneo com o público, que acompanhava suas andanças pelas planícies marcianas e suas paradas para perfurar rochas.
Seu maior feito foi descobrir provas geológicas que Marte, atualmente seco e poeirento, foi bem mais tropical, bilhões de anos atrás. O planeta era mais quente e úmido, condições que sugerem que houve ali um ambiente favorável para vida microbiana.
Mas, enquanto o Opportunity era ultra-produtivo, o Spirit só dava azar. Logo depois de chegarem a Marte, o jipe-robô entrou em condição crítica e começou a mandar dados sem sentido para a Terra. Os engenheiros da Nasa tiveram que cuidar dele à distância, e trazê-lo de volta à vida.
Ao contrário do Opportunity, que aterrissou em um leito seco de um lago, repleto de minerais que poderiam formar água, Spirit se aconchegou na cratera Gusev, de área igual a dois terços do estado de Sergipe, mas que continha poucas evidências de água.
O robô não teve escolha senão escalar para as montanhas, a fim de fazer descobertas. E ele conseguiu vários feitos, apesar do começo problemático: em 2005, escalou uma montanha da altura da Estátua da Liberdade. Foi também o primeiro a filmar os redemoinhos marcianos, que viraram filmes da Nasa.
Mas ao longo dos anos, o Spirit foi envelhecendo. Em 2006, uma das rodas da frente parou de girar, forçando o robô a andar de ré, meio manco. Mais frequentemente, começou a ter “ataques de amnésia”, tendo problemas para armazenar dados em sua memória flash.
Conseguiu sobreviver a três invernos marcianos, mas o valente robô não foi páreo para a última temporada de frio. Os problemas começaram em abril de 2009, quando o Spirit tentou atravessar um terreno mais fragmentado e acabou preso em um poço de areia. Durante as tentativas para desatolá-lo, outra roda traseira parou de funcionar, imobilizando o robô de vez.
Sem poder enviar um guincho, Nasa declarou o fim da carreira andante do Spirit em janeiro de 2010 - seis anos após sua chegada a Marte – e ele se tornou uma estação de pesquisa estacionária.
Mas os problemas continuaram quando os engenheiros não conseguiram manobrar os painéis solares do Spirit em direção do sol durante o inverno. Sem energia para continuar aquecido, o robô entrou em modo de hibernação, com sua temperatura chegando a -55°C.
Ainda assim, a agência espacial tinha esperanças de ter notícias do Spirit quando as temperatura saumentassem. Naves em órbita se revezavam diariamente procurando por sinais de vida do Robô, enquanto antenas espaciais na Califórnia, Espanha e Austrália faziam o mesmo na Terra.
Os gerentes da missão estiveram, nos últimos meses, considerando diminuir os esforços de escuta para uma vez por semana, mas ontem (23) Callas avisou à equipe do robô que ele havia decidido encerrar a escuta, alegando que qualquer esforço contínuo poderia prejudicar o financiamento de outras missões.
O Spirit viajou por 7,7 quilômetros desde sua chegada a Marte, enquanto o Opportunity registrou 30 quilômetros, mais de meia maratona, e já escavou três crateras. É a segunda nave de Marte a ser desativada, nos últimos três anos. Em 2008, a Nasa se despediu da Phoenix, após cinco meses de estudos da planície do Ártico marciano.
Mas o Opportunity não ficará sozinho por muito tempo. Os Estados Unidos devem lançar, ainda este ano, um mega jipe-robô, do tamanho de um Mini Cooper, que deverá chegar em Marte em meados de 2012.
Fonte: iG (com informações da AP) - Imagens: NASA