O procurador do Ministério Público do Trabalho de São Paulo, Fábio Fernandes, afirmou que há pelo menos duas grandes zonas cegas no espaço aéreo maranhense, o que seria suficiente para causar um acidente aéreo de proporções similares ao ocorrido, no ano passado, entre um Boeing da Gol (vôo 1907) e um jato Legacy. Fernandes participou da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do “Apagão Aéreo”, instalada após esse acidente que vitimou 154 pessoas, em setembro do ano passado, e investigou os problemas no espaço aéreo brasileiro durante aproximadamente um ano.
De acordo com o procurador, existem duas zonas de superposição no Maranhão nos centros operadores de aeronaves de influência direta no estado: o Cindacta 3 (Recife) e o Cindacta 4 (Manaus). Quando as aeronaves chegam a esses dois pontos (entre o aeroporto de São Luís e Petrolina e entre São Luís e Recife), os controladores de vôo de um centro, durante o monitoramento e condução de uma aeronave, não conseguem visualizar as informações repassadas pelo outro e vice-versa, justamente no momento dessa transição.
Um exemplo: na rota Petrolina – São Luís, quando os controladores do Cindacta 3 estão passando a aeronave para o Cindacta 4, os controladores do Cindacta 4 começam a operação sem visualizar ao certo a aeronave, tomando como base apenas o plano de vôo.
“Essa é uma situação que pode causar um acidente gravíssimo a qualquer momento”, alertou Fábio Fernandes. Um detalhe: até o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno, afirmou, no ano passado, que havia três zonas cegas no país, uma delas no sul do Maranhão. Justamente na área de transição dos Cindactas 3 e 4.
Acidente
Conforme o procurador Fábio Fernandes, essa, curiosamente, era uma das circunstâncias do acidente envolvendo o Boeing da Gol e o jato Legacy. “Assim como o radar de São Félix do Araguaia na área entre Manaus e Brasília (Cindacta I), somente Manaus tinha a visualização de radar da área, mas quem controlava a região era Brasília. A minha intenção é apenas alertar, porque não se pode brincar com vidas humanas dessa forma”, assinalou Fernandes.
Outro problema da região é que, segundo o procurador, o Centro de Recife possui um dos equipamentos de controle de tráfego aéreo mais antigos do Brasil, que é o console “AMC”, da década de 80. Em Manaus e Brasília, é operado o X-4000. “Mesmo esse equipamento mais moderno de Manaus apresenta alguns problemas, porque são constantes as duplicações de aeronaves ou a visualização de aviões que sequer estão naquele espaço aéreo”, ressaltou.
Ainda conforme Fábio Fernandes, apesar das tragédias seguidas na aviação aérea brasileira, incluindo-se o acidente com o Airbus 320 da TAM este ano no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, várias ocorrências de “quase acidentes” ainda vêm sendo registradas pelos controladores de vôo. Recentemente, cerca de 20 aeronaves ficaram transitando sem orientação na região de influência do Cindacta 3 e, na última semana de setembro deste ano, um avião cargueiro bloqueou o radar de Brasília. Houve perda de radar em Cindacta I e o controlador acabou coordenando o nível de vôo errado para Manaus.
“Felizmente, não havia nenhuma aeronave em rota oposta. Agora, esses fatos são registrados, mas, como as notícias são dinâmicas, há uma sensação de que a crise no setor aéreo acabou, mas ela está é piorando. O problema é que esses fatos não são divulgados”, ressaltou o procurador.
Fonte: O Estado do Maranhão