Fim de ano, aeroporto cheio. E o olhar atento do policial federal. Ele é um dos agentes treinados para identificar suspeitos na fila do embarque internacional.
Este mês de dezembro tem sido o mais trabalhoso dos últimos oito anos. Vinte presos até agora.
Dez homens e dez mulheres, que carregavam 119 quilos de cocaína.
O depósito está abarrotado. De janeiro até agora mais de 900 quilos só de cocaína já foram apreendidos no Aeroporto Internacional de São Paulo. Quase 50% mais do que no ano passado.
Era droga em poder das mulas. Os transportadores a serviço do tráfico. Também levam cocaína no estômago, em garrafas de vinho, em latas de cerveja, em spray de cabelo, na caixa de sabão em pó, na goma da toalha e recheando bagagens de mão.
Passageiros de países pobres do Leste Europeu representam quase a metade dos flagrantes de tráfico em dezembro. Eles são contratados por quadrilhas internacionais para vir ao Brasil buscar cocaína e entregar a droga em países ricos da Europa, onde o consumo aumenta consideravelmente nesta época, por causa das festas de fim-de-ano.
Para despistar a polícia, uma nova rota passando pelo Oriente Médio. Quatro mulas foram presas tentando embarcar para Dubai, nos Emirados Árabes. De lá, seguiriam para Portugal e Espanha.
No embarque de um vôo direto para a Espanha. Alin Florim Cioaca, romeno de 29 anos, foi tirado da fila. Ele passa pela checagem da mala. Mas é flagrado na revista pessoal.
A polícia encontra dois pacotes de cocaína na cintura.
Policial - Tem mais?
Alin- Não, não tenho mais.
Policial - Certeza?
Alin- Certeza.
Policial - Sapato, dentro?
Alin- Não tenho nada.
São duzentos gramas. Alin diz apenas que pegou a cocaína em Curitiba e entregaria em uma boate de Madrid. Como a maioria das mulas apanhadas em flagrante, ele não revela o nome do patrão.
Alin - Me telefonou e me disse: deixa para mim o dinheiro, te deixo isso e mais nada.
“Para o traficante, a mula é muito confortável porque ele fica oculto e quem paga a pena é a mula. Ela sabe que está fazendo uma coisa errada, mas não imagina as conseqüências, que ela só vai sentir depois que é presa”, explica o delegado federal Mario Menim Jr.
É exatamente o caso do romeno Alin Florin.
Policial -Olha, isso é tráfico internacional. Você está preso. São 5 anos, no mínimo.
Alin -(Pausa)... Por isso?!
Policial - Por isso. É a lei.
Reportagem de César Tralli
Fontes: G1 / Jornal Nacional (TV Globo)