Pedro Janot diz que infraestrutura de aeroportos deve melhorar em breve.
A guerra de tarifas entre as companhias aéreas derrubou os preços das passagens e fez crescer em quase 20% a procura por voos domésticos no ano passado. A expectativa do setor é de que o número de passageiros dobre nos próximos cinco anos – e, para a Azul, parte desse crescimento deve vir da conquista dos brasileiros que hoje viajam de ônibus.
“São 100 milhões de viagens de ônibus por ano [no país]. Então nosso objetivo é capturar uma parte dessas pessoas para os nossos aviões”, afirmou em entrevista ao G1 o presidente da empresa, Pedro Janot. Para ganhar passageiros do ônibus, a empresa também aposta em preços semelhantes: “A ideia é manter [o preço] próximo ao ônibus”, disse o executivo.
Quase uma “estreante” no mercado nacional, a Azul – que começou a operar em 2008 – encerrou janeiro como a quarta maior companhia aérea do país, ultrapassando a concorrentes Ocean Air em participação de mercado. Ainda assim, sua fatia 4,99% do mercado é bem menor que a das duas grandes: TAM e Gol concentram, juntas, 83,83% da aviação doméstica.
Nos próximos anos, dois eventos devem movimentar esse mercado e trazer grandes desafios para o setor: a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.
Parte importante desse desafio será adequar a deficitária infraestrura aeroportuária brasileira a um número bem maior de passageiros. Há hoje planos de obras para sete grandes aeroportos brasileiros – mas o cronograma de obras prevê que parte dos projetos será encerrada apenas em 2014.
Janot diz acreditar, no entanto, que o país terá capacidade de resposta e não terá do que se envergonhar diante dos milhares de turistas esperados por aqui: “[O setor aéreo] tem gargalos realmente sérios, seja de infraestrutura aeroportuária, seja de navegação aérea, seja de regulamentação. [Mas], no curto prazo, se a Infraero fosse capaz de responder às demandas, com baixo investimento e mais decisão você pode aliviar essa estrutura em uns 20%."
Leia abaixo os principais trechos da entrevista do G1 com Pedro Janot:
'Guerra’ de tarifas
– O que aconteceu foi que a aviação terminou um ciclo: quando a Gol comprou a Varig em 2007, de cinco companhias virou duas [TAM e Gol], mas já tinha na outra mão o nascimento de novas companhias, a Azul e a WebJet e a expansão da Trip, e todo esse movimento de mercado trouxe uma redução de tarifas.
A forma mais rápida de colocar pessoas a bordo [quando a Azul começou] era fazer uma promoção agressiva para gerar experimentação, porque nós nascemos num aeroporto secundário, como Viracopos [em Campinas, no interior de São Paulo], que há 25 anos estava no limbo. Você estimula o mercado através de preço.
No reflexo da Azul, as duas companhias [TAM e Gol] baixaram o preço mais ainda. E em agosto setembro teve uma guerra tarifária entre TAM e Gol no Brasil inteiro, numa busca por market share [participação de mercado], aí os preços foram predatórios até meados de novembro, quando eles voltaram a buscar uma nova acomodação.
Estratégia de preços
– A idéia é manter [o preço das passagens] próximo ao ônibus, porque o Brasil tem ainda uma grande população que se desloca de ônibus. No mercado de trabalho poucas pessoas conseguem tirar 30 dias de férias e viajar durante três dias para Recife.
Com a inserção dessas pessoas no mercado de trabalho com mais renda, essas pessoas estão precisando de um serviço que as leve para lá com velocidade e preço. Então isso é uma estratégia nossa, já está acontecendo. São 100 milhões de viagens de ônibus por ano. Então nosso objetivo é capturar uma parte dessas pessoas para os nossos aviões.
Passagem a R$ 59 [preço a que a companhia vendeu passagens nos dias de carnaval] não é sustentável, mas eu prefiro ter novos entrantes do que voar com uma ocupação baixíssima.
Mas isso não é uma estratégia consistente. O que é consistente são as passagens a 30 dias, que fica em torno do preço de ônibus. Quanto mais longe elas [as pessoas] compram do dia do embarque, mais barato elas pagam. Eu vendo com antecedência, recebo com antecedência, meus bancos vão ficar todos lotados com pessoas novas.
Ampliação da malha aérea
– Nosso projeto até agora está completamente focado no mercado nacional, tem muito o que oferecer nesse mercado. O modelo vigente hoje na aviação brasileira usa quatro aeroportos: Galeão, Brasília, Congonhas e Guarulhos.
É um processo de baldeação: quem vem do sul e quer ir para o norte, para em um desses aeroportos e faz uma baldeação. Nós não vamos usar esses grandes "hubs", vamos usar hubs [centros] secundários. Antes de buscar cidades ainda que ricas e poderosas do interior, a Azul tem outro desafio, que é ligar as cidades entre si em voos diretos sem escala.
Em 2014, as nossas conexões entre cidades vai estar muito mais amplificadas do que hoje. Ao longo deste ano, a gente vai começar a ligar mais cidades entre si, melhorando a conectividade e fatalmente melhorando esse serviço para a Copa do Mundo.
Gargalos na infraestrutura
– A aviação do Brasil deve dobrar em cinco anos. Então quando você bota essa perspectiva, você vê que tem gargalos realmente sérios, seja de infraestrutura aeroportuária, seja de navegação aérea, seja de regulamentação. No curto prazo, se a Infraero fosse capaz de responder às demandas, com baixo investimento e mais decisão você pode aliviar essa estrutura em uns 20%.
[Mas] não é uma coisa da Infraero só. Já saiu o plano de obras de sete aeroportos importantes, todos vão acontecer até 2014. A Azul nessa época vai estar beirando 70 aviões. Aí tem um novo desafio, fazer com que os cronogramas sejam cumpridos, deveremos ter uma boa infraestrutura. Acho que o Brasil vai ter uma boa capacidade de resposta.
Participação de mercado
– Nós não temos nenhum objetivo de falar de market share [participação de mercado]. O que nós queremos ser é importantes nas rotas que nós fazemos. Então, se isso nos der 15% do mercado, 14%, é irrelevante. O que nós queremos é nas rotas que nós fazemos ser os maiores e os melhores.
Operação em Congonhas
– Hoje, Congonhas está artificialmente restrita a 30 movimentos por hora, quase que metade da capacidade. Eu acredito que um dia vai voltar a operar como já operou, com 48, 50 por hora. Acho que brevemente, entre seis meses e dois anos, Congonhas deve continuar o processo gradual de abertura de novos slots
Quando isso acontecer, nós vamos entrar em Congonhas, mas sem desmontar Viracopos, porque o sucesso da Azul em Viracopos é inquestionável e irreversível.
Fonte: Laura Naime (G1)