Em quatro anos, o Aeroporto Internacional Salgado Filho registrou 44 colisões entre aves e aeronaves, uma média de 11 por ano.
Para reduzir os riscos, o terminal de Porto Alegre está prestes a se tornar o segundo do país a ter a pista vigiada por falcões, seguindo experiência bem-sucedida do aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte (MG).
A licitação para contratação da empresa responsável pela prestação do serviço será lançada na segunda-feira, e a expectativa é de que até março esteja concluída. Adestrados, pelo menos quatro gaviões permanecerão de plantão diariamente para afastar quero-queros e garças nas proximidades da pista. A técnica é considerada uma das mais eficazes e ecológicas na prevenção a esse tipo de acidente.
Segundo o superintendente adjunto da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) na Região Sul, Marco Aurélio Franceschi, a estratégia começou a ser estudada há dois anos. Outras medidas complementares, como corte de grama, drenagem de água e limpeza nos entornos da área do aeroporto, já foram adotadas, contribuindo para tornar o local menos atrativo aos pássaros. Graças aos cuidados redobrados, entre 2007 e 2008 o número de colisões caiu de 18 para seis.
– O nosso perigo aviário é menor porque aqui não temos aves muito grandes, mas isso sempre preocupa. A ave é sugada pela turbina, e isso faz com que a turbina pare. Graças a Deus, os custos até hoje foram somente financeiros, em episódios durante pousos e decolagens, sem maiores consequências – analisa Franceschi.
O biólogo e falcoeiro Gustavo Trainini, que realizou cursos sobre o uso de falcões em aeroportos na Argentina, em 1999, e hoje treina 11 falcões importados do Peru para a atividade, em Canoas, salienta que mesmo aves pequenas, como sabiás, podem causar estragos, pois com a velocidade do avião atuam como um míssil. Uma garça de aproximadamente 1,5 kg, por exemplo, ao se chocar com uma aeronave a 600 km/h provoca um impacto de cerca de cinco toneladas.
– A presença dos falcões é suficiente para espantar os quero-queros, pois as aves ficam com medo e fogem. A vantagem é que não usamos armas, nem agentes químicos – afirma Trainini.
Em todo o país, a Infraero registrou no ano passado 219 casos de colisões entre aeronaves e pássaros num universo de 2,1 milhões de pousos e decolagens. Os casos representam 0,02% do total. O maior prejuízo costuma ser financeiro: cada turbina danificada custa cerca de US$ 6 milhões.
– O índice de colisão com pássaros seria desprezível, mas ninguém despreza, porque sempre há um risco, por isso reforçamos as medidas de prevenção – afirma o superintendente de segurança aeroportuária da Infraero, Abibe Ferreira Jr.
Pioneiro no uso da falcoaria, em março do ano passado, o aeroporto de Belo Horizonte conseguiu reduzir em 37% o número de ocorrências, com apoio de quatro falcões e dois gaviões.
– Os pássaros já existiam quando o avião foi inventado, não vamos acabar com eles. O que precisamos é mitigar os riscos – resume Ferreira.
Confira o número de colisões entre aves e aeronaves registradas no aeroporto Salgado Filho ano a ano:
2005 = 10
2006 = 10
2007 = 18
2008 = 06
Fonte: Zero Hora - Foto: Arquivo do Blog