Familiares das vítimas que morreram no vôo 3054 da TAM preparam protestos e homenagens para marcar um ano do acidente, em 17 de julho. Nesta quinta-feira, haverá um ato ecumênico no local onde o Airbus caiu, próximo ao Aeroporto de Congonhas, matando 199 pessoas. A missa deve começar às 18h, mas antes haverá uma caminhada. No domingo, a pedido dos próprios familiares, que organizaram a apresentação, haverá um concerto de música clássica na Sala São Paulo, espaço nobre da música paulista. O espetáculo vai misturar um tom de saudade e mensagens de superação.
- Eles não queriam um clima fúnebre, mas sim uma homenagem para valorizar a vida. Não dá para esquecer o que aconteceu, mas a intenção deles é lutar por uma vida melhor - diz o maestro Renato Misiuk, de 41 anos.
Ex-integrante da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), Misiuk dividiu a escolha do repertório com os familiares. Renato Misiuk vai ser acompanhado por 60 músicos e cem cantores do Allegro Coral e Orquestra. Todos dispensaram cachê para a homenagem.
- Nas nossas reuniões, quando eu colocava uma música para eles ouvirem, todos começavam a chorar e a contar suas histórias - diz
O repertório vai misturar composições eruditas de Verdi e Tchaikovsky à MPB de Tom Jobim e Vinícius de Moraes.
- Muita gente pode criticar a salada de repertório. Só que o concerto não se guia pela lógica refinada da música clássica, e sim pelas emoções dos familiares e do público. Mesmo quem não está acostumado a ir à Sala São Paulo vai se identificar com alguma canção - afirma.
- Alguns músicos estranharam a música "Ursinho Pimpão" (clássico infantil da Turma do Balão Mágico). Mas tinha uma adolescente que estava no vôo e andava com o ursinho. Para essa mãe, essa música é a principal do programa - diz.
As despesas para a viagem dos familiares devem ser pagas pela TAM. Nesta terça-feira, a Justiça obrigou a empresa a voltar a pagar passagens aéreas aos familiares das vítimas. Segundo despacho do desembargador Roberto Bedaque, da 22ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, a empresa terá de custear passagens e estadia completa aos familiares das vítimas da tragédia que participam das reuniões mensais da Associação de Familiares e Amigos das Vítimas (Afavitam) com as autoridades que investigam as causas do acidente.
O inquérito policial já tem 50 volumes, com mais de 13 mil páginas. Há depoimentos de 300 pessoas, análises de documentos, simulações de vôos e dados da caixa-preta. A gravação da caixa preta do Airbus A320 mostra que o co-piloto Henrique Stephanini e o comandante Kleyber Lima tentaram parar a aeronave, mas não tiveram sucesso. Os segundos finais do áudio são dramáticos.
Na gravação ouvem-se também muitos ruídos e conversas vindas de um outro vôo. A CPI do Apagão Aéreo divulgou a transcrição - não o áudio - dos segundos finais dessa conversa em agosto do ano passado, mas até agora, apenas autoridades e um grupo de pilotos e de parentes de vítimas tinham escutado toda a gravação.
Antônio Nogueira Neto é o perito em aviação da polícia paulista que vai assinar o laudo final sobre as causas do acidente. O perito explica que a caixa-preta do avião registrou o que é considerado pela polícia o principal problema: durante o pouso, um dos motores permaneceu em aceleração. Era o que estava com reverso pinado, travado.
- O problema dessa manete é que levou ao acidente. Elas deveriam ter sido puxadas pra trás e uma delas ficou lá em cima, acelerando. Agora a gente precisa ver o por quê. Descobrir se foi um erro humano ou um erro técnico ou uma combinação dos dois - diz Antônio Nogueira.
Como o avião estava acelerando, os spoilers - que ficam na parte de cima das asas e funcionam como freios aerodinâmicos - não atuaram. O áudio dos segundos finais revela a angústia dessa situação, até o momento da batida no prédio da TAM Express. Segundo a investigação, há ainda outros fatores que contribuíram para o maior acidente aeronáutico do Brasil.
- Uma hora e quarenta minutos antes do acidente, essa pista chegou a ser interditada. Dois funcionários da Infraero, sem qualquer instrumento, depois de 12 minutos, liberaram a pista - relata o delegado Antonio Carlos Menezes Barbosa.
O delegado diz ainda que sete meses antes da tragédia, a Anac - a Agência Nacional de Aviação Civil - divulgou em seu site esta norma: "Em pista molhada, a tripulação deve usar o máximo reverso". No avião da TAM, com um dos reversos travado, isso seria impossível.
- A Anac sabia da norma, as operadoras sabiam da norma, e conseqüentemente se ela fosse respeitada não teria ocorrido o acidente - conclui o delegado.
Fontes: O Globo / Diário de S.Paulo