Durante a II Guerra Mundial mais de 600 aviadores e 134 aviões militares aterrissaram ou caíram em território nacional, contou à agência Lusa Carlos Guerreiro com base num trabalho de investigação.Como resultado da "utilização" de Portugal pelos pilotos e aviadores americanos, ingleses e alemães, muitos ficaram "internados" no Alentejo e dezenas de aviões reverteram para Portugal.
O escritor Carlos Guerreiro iniciou a investigação deste tema há 15 anos, publicou um livro e lançou agora uma página eletrônica (
www.landinportugal.org) com dados novos, outros atualizados, sobre os aviões, pilotos e tripulações militares que combateram na II Guerra Mundial e que, por vários motivos, ficaram em solo português.
De acordo com o autor do livro "Aterrem em Portugal", Carlos Guerreiro, durante o conflito mundial de 1939 e 1945, os "primeiros pilotos a cá chegar foram os franceses e os belgas", que fugiram da ocupação nazi na Europa, os "últimos foram os alemães que fugiam da investida dos aliados, contra os nazis".
Num só dia - 15 de janeiro de 1943 - aterraram em Lisboa "11 aviões Bell 'P-39/P-400 Aircobra' e um em Aveiro, devido a um erro de navegação do avião guia (B-25), quando seguiam para o norte de África". Os caças ficaram sem gasolina e tiveram de aterrar na Portela e em São Jacinto, refere o autor.
Estes caças, de origem norte americana, "acabaram por ficar em Portugal e o Governo de Salazar pagou posteriormente 20 mil dólares por cada um" para integrarem a força aérea, de acordo com os documentos recolhidos pelo investigador.
Com o número crescente de tripulações "internadas", designação técnica dada pelo Governo aos pilotos e tripulações estrangeiras, "Salazar teve que arranjar um local controlado, fechado e longe dos olhares dos adidos e espiões estrangeiros, tendo escolhido a cidade de Elvas, no Alentejo", na pensão Internacional, referiu o autor.
Na opinião de Carlos Guerreiro, Portugal podia ter sido esmagado pelas potências envolvidas na Guerra, mas neste caso, "Salazar geriu de forma muito hábil e inteligente a questão dos pilotos", já que estavam cá (em Portugal) todos e o Governo negociava com todas as potências envolvidas no conflito.
Cerca de meia centena de pilotos acabaram mesmo por morrer em Portugal, devido à "queda das aeronaves ou por combates aéreos, ficando ingleses e alemães sepultados no país", nos cemitérios de Aljezur e Beja (alemães) e em Sagres, Lisboa, Porto e Loriga, na Serra da Estrela (ingleses), com os americanos a levarem os restos mortais dos seus pilotos.
A passagem de aviões e comboios de navios ao largo de Portugal levou a estórias de espionagem "muito curiosas", como por exemplo a do faroleiro do Cabo de São Vicente, que comunicava via rádio para a embaixada alemã em Lisboa a "passagem de navios aliados ao largo da costa algarvia", referiu o autor.
Os alemães, com as informações do faroleiro, davam ordens aos seus bombardeiros estacionados no sul de França para afundar os cargueiros com mantimentos e armamento, à entrada do mar Mediterrâneo, tendo alguns acabado por cair ou aterrar no Alentejo.
Já no final do conflito, Portugal "acolheu um avião alemão, um protótipo Junker, quando a tripulação fazia testes de gelo" e aproveitou para fugir para território nacional, trazendo roupas civis e malas de viagem consigo.
Carlos Guerreiro continua a recolher documentos, estando agora a analisar os depoimentos do tribunal de Nuremberg, contendo actividades de roubo de componentes de aviões que caíram em território nacional, por pessoas de várias aldeias alentejanas.
Com a informação disponível na Internet, em língua inglesa e em português, o autor tem "recebido muito material novo, de familiares de pilotos que passaram ou estiveram em Portugal durante o período da II Grande Guerra".
Fonte: SIC (Portugal)