Há poucos anos era comum rotular o passageiro de avião como privilegiado, com alto poder aquisitivo. Porém, esta afirmação já não é mais verdadeira. Cada vez mais as companhias de aviação apostam nas classes C e D, que passam a acreditar no seu potencial de consumo e investir em passagens aéreas.
Maria Benedita Alcântara, moradora de Diadema, é exemplo disso. Tradicionalmente passa as festas de fim de ano com a família em Salvador e este ano resolveu se presentear com uma passagem de avião. "No fim das contas estou economizando com a viagem. Além de ficar por quase três dias dentro de um ônibus para chegar a Salvador eu pagava muito caro por isso. Este ano resolvi comprar a passagem aérea em outubro e vou pagar praticamente a mesma coisa em uma viagem de cerca de três horas", conta a aposentada.
Justamente de olho nesse consumidor em potencial, as companhias aéreas investem em infraestrutura para auxiliar na aquisição das passagens.
A GOL/Varig conta com o cartão Voe Fácil, que permite o parcelamento das passagens em até 36 vezes. Para fazer o cartão, basta ter mais que 18 anos, e ter renda de pelo menos um salário-mínimo (não é necessário comprovar a renda). Na última semana, a empresa inaugurou, no Largo 13 de Maio, em Santo Amaro, a primeira loja física Voe Fácil, onde o cliente pode comprar suas passagens aéreas utilizando o cartão da empresa, cartões de crédito, débito ou dinheiro.
A companhia aérea destaca que para vislumbrar bons preços é importante adquirir os tíquetes com antecedência de, no mínimo, 21 dias. O tempo de permanência no destino (quanto maior, a possibilidade de descontos cresce), e a aquisição dos trechos de ida e volta também influencia no valor da passagem.
Atualmente a GOL/Varig opera frota jovem com 110 aeronaves Boeing e a companhia está na fase final do seu plano de substituição das aeronaves 737-300 por 737-800 NG e 737-700 NG, para operação em rotas de curto e médio percurso. Estas aeronaves têm menor custo operacional, maior eficiência e economiza até 3% no consumo de combustível ao ano.
A TAM também tem ações estratégicas e anunciou o parcelamento de passagens em até 48 vezes, com financiamento do Itaú. Além disso, lançou sistema de perfis de tarifas, que têm cinco opções (Promo, Light, Flex, Max e Top) desenhadas para se adaptarem às necessidades do cliente. Esse sistema atende tanto o passageiro que determina sua compra em função das promoções de passagens quanto o executivo que viaja frequentemente e busca maior flexibilidade.
Além disso, no site Ofertas TAM (www.ofertastam.com.br), os clientes podem acompanhar semanalmente as passagens com os melhores preços oferecidos a cada período. O site ainda traz dicas sobre os melhores dias e horários para o cliente viajar e comprar suas passagens.
MercadoSegundo dados divulgados no início deste mês pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), a TAM manteve a liderança no market share (participação de mercado) doméstico em novembro, registrando 43,9% nesse mês e de 45,9% no acumulado dos primeiros onze meses do ano. No mercado internacional, a participação foi de 85,4% no mês passado e de 86,7% de janeiro a novembro.
Atualmente, a frota é composta por 132 aeronaves e a estimativa é chegar ao final de 2013 com 152 aviões em operação.
Consumidor pode adquirir alimentação extra na aeronavePara atrair os clientes e oferecer conforto aos passageiros que precisam de refeição completa durante o vôo, a Gol/Varig oferece, desde o início de junho deste ano, o serviço de venda a bordo.
Em alguns voos saindo de São Paulo (Aeroporto de Cumbica), Recife, Porto Alegre, Belém, Fortaleza, Brasília, Salvador, Natal, Rio de Janeiro (Aeroporto do Tom Jobim/Galeão), Florianópolis e Foz do Iguaçu, os passageiros podem solicitar alimentação extra na aeronave, mas mesmo com essa opção, não deixam de receber o lanche habitual.
Com o serviço, o passageiro pode solicitar desde cafés, por R$ 3, cervejas por R$ 5 e até sanduíches, que variam de R$ 10 a R$ 15. A previsão é que esse serviço seja expandido para outras rotas ao longo de 2010.
Setor quer recompor margem em 2010As cinco maiores empresas de aviação comercial no Brasil esperam um ano novo bem melhor do que 2009, porém suas perspectivas são bem diferentes.
Enquanto as duas grandes, TAM e Gol/Varig, que ainda controlam 86% dos voos domésticos, preveem um crescimento acompanhando a evolução natural do setor, de 2,5 vezes o PIB; as menores, WebJet, Azul e OceanAir, estimam um avanço acima de 30%.
Acompanhando este crescimento, uma elevação de tarifas é esperada por todas, entre 10% e 20%.
Neste ano, os preços médios dos bilhetes chegaram a cair mais de 50% ante o pico de 2008. Em 2010, as empresas esperam recompor suas receitas, embora todas concordem que será difícil voltar aos níveis do ano passado. O movimento nos aeroportos no próximo ano deve ficar, no mínimo, 12% maior que o de 2009, com uma alta de 16% a 17% na demanda do setor.
O presidente da TAM, Líbano Barroso, espera que a empresa avance entre 10% e 12%. Como suas passagens são normalmente mais caras que a dos concorrentes, nos trechos domésticos, a TAM está facilitando o financiamento dos bilhetes e oferecendo voos em horários alternativos. Quanto aos voos internacionais, em que é líder absoluta, no próximo ano, a companhia planeja mais um destino internacional, que pode ser para a África do Sul.
Além de recuperar a rentabilidade, o setor terá em 2010 um importante desafio, acredita o presidente da Gol, Constantino de Oliveira Júnior: superar as limitações de infraestrutura diante da entrada da nova classe média neste mercado. A grande questão, segundo ele, será entender qual a melhor forma de atrair e atender a demanda da classe C. "Uma das alternativas para absorver esse fluxo adicional é fazer um planejamento eficiente das rotas, transferindo, por exemplo, voos com conexões nos aeroportos de Guarulhos e Congonhas para outros terminais, como Galeão, Confins, Brasília", exemplifica.
Constantino espera que haja algum aumento nos preços dos bilhetes, "mas nada muito acima" dos valores praticados em 2009. Assim, a rentabilidade do setor virá com redução de custos - ajudada pelo dólar e petróleo mais baixos -, ganho de produtividade, eficiência e atração de novos clientes, com a melhora do poder aquisitivo da nova classe média.
Fonte: AE/Michele Loureiro (Diário do Grande ABC)