O Rio tem hoje uma rodoviária melhor que o principal aeroporto da cidade — uma constatação já feita pelo governador Sérgio Cabral, que em setembro de 2008 chamou o Galeão de "rodoviária de quinta". Os passageiros que usam o terminal de ônibus reinaugurado ontem após ampla reforma, conhecido há décadas pelas péssimas condições, agora dispõem de mais conforto e melhores serviços do que os oferecidos pelo Aeroporto Internacional Tom Jobim, submetido, a passos lentos, a obras de melhorias.
A preferência dos usuários e a infraestrutura demonstram o contraste entre os dois terminais — e a inversão histórica de lugares no ranking do conforto. Em janeiro deste ano, por exemplo — mês que é auge da temporada turística todos os anos —, a rodoviária recebeu mais passageiros do que o aeroporto: 1,5 milhão de pessoas usaram a Novo Rio para sair da cidade, contra 1,1 milhão que embarcaram em aviões no Tom Jobim.
O estacionamento do aeroporto é, atualmente, a principal fonte de queixas dos usuários. A ocupação das vagas é caótica: todas a calçadas da parte interna do Terminal 1 são invadidas por carros que fogem da área externa, sem cobertura. Ontem, embora houvesse vagas do lado de fora, os motoristas preferiam parar irregularmente na sombra. As agruras continuam a caminho do check-in. Alguns motoristas deixam seus veículos em frente às rampas que dão acesso aos elevadores, bloqueando a passagem. As lixeiras estão quebradas, e há restos de entulho em vários locais. Na manhã de ontem, não havia funcionários para orientar os motoristas.
— Sempre dão um jeitinho de parar perto do elevador. Isso atrapalha muito a vida de quem passa por aqui com bagagem, porque as entradas ficam fechadas pelos carros — reclama a comerciante Flávia Aguiar, de 45 anos, que tentava passar com suas malas entre dois carros parados irregularmente.
O estacionamento do Aeroporto Tom Jobim: carros parados irregularmente no único trecho coberto
Depois de desviar dos veículos largados no meio da passagem, os usuários que chegam pelo estacionamento do Terminal 1 precisam dar a sorte de ter parado perto de um elevador que funcione. Um acesso para o embarque e desembarque foi interditado, e dois elevadores estão cobertos por tapumes. Nem os carrinhos de bagagem fogem à regra: são sujos e antigos. Vários deles estão sem rodas e amassados e, com a falta de manutenção e limpeza, ficam jogados no entorno dos acessos para o saguão do Terminal 1.
Os problemas continuam na conexão com o Terminal 2. Três esteiras estão interditadas para obras, cena que não é mais novidade para os passageiros que costumam andar por ali. Em abril de 2007, a Firjan já apontava, num levantamento, a precariedade da manutenção das esteiras e dos elevadores. Se faltar dinheiro, o passageiro do aeroporto precisa fazer uma boa caminhada até cantos escondidos do Tom Jobim, nos andares das praças de alimentação, onde ficam os caixas eletrônicos. Há apenas dois pontos, um em cada terminal, com 28 caixas ao todo. A rodoviária tem 22 postos de saque, mas a localização é melhor.
Os equipamentos ficam ao lado do embarque e desembarque. A Novo Rio e o Tom Jobim têm redes de internet sem fio. Mas só na rodoviária o serviço é gratuito. O terminal rodoviário, que sempre foi o primo pobre do aeroporto, conseguiu inverter o jogo. Com um amplo estacionamento coberto, oferece carrinhos de mala novos em folha, que contam até com fitas de velcro para prender bolsas. Os novos elevadores panorâmicos já estão funcionando. A iluminação também é mais eficiente do que a do Tom Jobim, ainda carregada de tons escuros nas paredes, herança da inauguração de 31 anos atrás.
— A Rodoviária dá de dez a zero no aeroporto e é um exemplo de parceria com a iniciativa privada que deu certo — resumiu Cabral ontem, na reinauguração da Novo Rio. O aeroporto só leva vantagem nos banheiros, reformados recentemente. Em geral, são mais limpos e modernos do que os da rodoviária.
A Novo Rio também tem sanitários reconstruídos, mas, para estes, o serviço é pago. A praças de alimentação são similares entre os dois terminais. Há serviço de lanches rápidos e restaurantes.
Conforme O GLOBO mostrou, por mais que a rodoviária pareça um shopping por dentro, o seu entorno ainda é abandonado e perigoso. Como resposta, a prefeitura fez ontem uma operação para retirar ligações clandestinas feitas por camelôs na rede elétrica. Uma equipe de 16 guardas municipais vasculhou a área e levou quatro menores para a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA). Com eles, foi apreendido uma serra, que seria usada para ameaçar motoristas. A Casa Civil do governo do estado está formando um grupo de trabalho que estuda projetos de revitalização no entorno da rodoviária, incluída no plano Porto Maravilha.
Em nota, a Infraero informa que vai gastar, até 2014, R$ 944,95 milhões na reforma do Tom Jobim. O piso do Terminal 1 foi polido e os banheiros, reformados. Segundo a nota, oito elevadores já estão sendo trocados e serão entregues no mês que vem. No total, 60 elevadores dos dois terminais serão modernizados até meados de 2011, assim como as escadas rolantes. A Infraero diz também que as três esteiras paradas ficarão prontas até o fim do ano. Sobre o estacionamento, a Infraero diz que há orientadores de tráfego e alega que o movimento do Tom Jobim aumentou por causa das condições meteorológicas que afetaram o Santos Dumont nas últimas semanas. Para resolver a lotação, será construído um edifício garagem no Terminal 1. De acordo com a Infraero, as lixeiras serão trocadas.
Fonte: O Globo via Fórum Contato Radar - Fotos: Marco Antonio Cavalcanti (O Globo)