- Mas isso não aumenta o perigo de um acidente? - pergunta o leitor.
- Não - diz José Nürmberger Racowski, gerente de unidades de negócio da voadora. - Vamos usar para o serviço o sistema da empresa OnAir, já certificado pela AESA (agência europeia de segurança aérea). O sistema tem uma antena que fica instalada dentro do avião e gera o sinal para os celulares. Ela também impede que eles se comuniquem diretamente com suas antenas usuais no solo, evitando assim um embaralhamento de sinais.
O sistema no avião se conecta com uma antena especial da OnAir, localizada em Mônaco, que por sua vez se comunica com uma rede de satélites ao redor da Terra. Esses satélites repassam o sinal para o avião, permitindo aos celulares fazer ligações e enviar dados.
Entretanto, na decolagem e na aterrissagem, os aparelhos deverão continuar desligados. Seu uso só será permitido quando o avião atingir altitude de cruzeiro, ou seja, três mil metros.
- Nesses momentos do voo, a inclinação da aeronave não permite uma comunicação a contento, porque a antena interna não captaria bem o sinal - afirma José. - Além do mais, do ponto de vista operacional, são momentos em que os comissários de bordo têm, assim como os passageiros, de ficar sentados com os cintos afivelados, e não poderiam auxiliar as pessoas quanto ao uso dos celulares. Assim, a altitude de cruzeiro é a hora mais recomendada para ligar os telefones.
No caso das chamadas de voz, no entanto, haverá um limite. No máximo, poderão ser feitas ligações de 12 celulares ao mesmo tempo. Do décimo terceiro em diante, a pessoa ficará em espera.
- A experiência, nesse caso, será muito parecida com a que acontece no Réveillon, por exemplo, quando muitas ligações são feitas ao mesmo tempo e acabamos recebendo, por vezes, um sinal de que estamos em fila e não poderemos falar em determinado momento - lembra José.
Paciência, pois. A velocidade limitada na banda sem fio da OnAir também não permitirá uma navegação 3G na internet a contento em netbooks com modems wireless de operadoras, ou tablets como o iPad.
O motivo da limitação da velocidade, diz José, é que o foco do serviço está mais para os telefones celulares e smartphones que para qualquer outra coisa. Não é um serviço para navegação pesada na internet.
- Você poderá até navegar, mas terá dificuldade com os aplicativos multimídia online, como o Skype, e sites de vídeo, como o YouTube - pondera.
A opção da TAM faz sentido até porque é preciso lembrar que usar o celular no avião não vai ser muito barato, não. Com o sistema da OnAir, os aparelhos vão estar em roaming, isto é, acessando outras redes que não as suas originais.
- As tarifas para o uso dos celulares nos aviões vão depender de cada operadora, mas acreditamos que ficarão próximas dos preços do roaming internacional - esclarece José. - E essa tarifa será praticada mesmo que seja um voo doméstico, porque como se está usando um sistema de satélites, não faz diferença se você sobrevoa o Brasil ou a Inglaterra.
Por falar em preço, José informa que a OnAir ainda está em negociação com as operadoras brasileiras para o oferecimento do serviço. E quando ele estará funcionando, afinal?
- Já temos a aprovação técnica da Anac para o sistema, e falta apenas um ok da Anatel com relação à antena que ora instalamos nos aviões - diz José. - Uma vez que esse sinal verde seja dado e os contratos com as operadoras, firmados, poderemos começar. Nossa expectativa é oferecer o serviço já em setembro ou, no mais tardar, em outubro.
O sistema funcionará em caráter experimental durante seis meses a um ano, em voos domésticos, em pelo menos quatro aviões da TAM. No momento, ele já está instalado num Airbus 321, com 220 lugares, e há mais duas aeronaves na fila para recebê-lo - um Airbus 320 (174 lugares) e um Airbus 319 (144 lugares). A empresa tem no momento 145 aviões em sua frota.
Além da certificação europeia, o sistema da OnAir também é usado em linhas aéreas na Ásia e na Oceania. Nos Estados Unidos, o foco está mais voltado para o acesso à internet nos aviões do que para a voz, conta José. Segundo ele, a TAM tem ainda planos de criar aplicativos para serem usados futuramente nos smartphones (como o iPhone) durante os voos da empresa.
Fonte: André Machado (O Globo) - Fotos: AFP / Divulgação