Incêndios causados por baterias em aparelhos eletrônicos pessoais podem ser assustadores. Mas se uma bateria pegar fogo em um avião, os riscos serão ainda maiores.
Já que cada vez mais pessoas carregam uma alta variedade de eletrônicos em viagens - às vezes, há mais aparelhos que passageiros a bordo de um avião -, os incêndios causados por eles em aviões estão se tornando mais frequentes.
Mais de metade dos 22 incêndios causados por baterias em cabines de aviões de passageiros, de 1999 para cá, aconteceram nos três últimos anos. Um especialista em segurança aérea afirmou que esses aparelhos podem ser - um risco irrestrito de incêndio - que as pessoas podem carregar em aviões.
Este mês, a Administração Federal da Aviação (FAA) dos Estados Unidos decidiu promulgar diretrizes especiais para as linhas aéreas sobre um novo aparelho: os leitores de cartões de crédito que muitas delas começaram a fornecer aos comissários de bordo para que estes possam receber pelas bebidas, alimentos e suvenires vendidos em voo.
Embora as linhas aéreas já estejam usando esses leitores portáteis de cartões de crédito há anos, a FAA anunciou no começo deste mês que seria necessário que elas obtivessem aprovação de sua divisão de materiais perigosos, para o uso dos aparelhos. Como a maioria dos equipamentos eletrônicos portáteis, os leitores são acionados por poderosas baterias recarregáveis de lítio, que o governo considera perigosas.
"As linhas aéreas nos procuraram para perguntar se permitiríamos que usassem leitores de cartões de crédito a bordo, e queriam manter baterias sobressalentes para permitir troca de baterias", disse Christopher Bonanti, diretor do departamento de materiais perigosos da FAA.
"Fiquei preocupado com as baterias de lítio sobressalentes, e pedi que as empresas não adotassem essa prática".
Algumas das linhas aéreas concordaram com a adoção de treinamento especial sobre como lidar com as baterias, e assim foram autorizadas a transportar unidades sobressalentes, disse Bonanti. Mas outras empresas, como a Delta e a JetBlue, determinaram que seria mais seguro evitar o transporte de baterias sobressalentes.
" As baterias não são trocadas e não são removidas dos aparelhos a bordo do avião", informou Bryan Baldwin, porta-voz da JetBlue, em mensagem de e-mail.
Embora não tenham sido reportados incêndios causados pelos leitores de cartões de crédito, a lista de eventos de combustão espontânea causados por outros aparelhos parece um livro de suspense.
No mês passado, um aparelho portátil de DVD caiu no chão em um voo da American Airlines e causou incêndio.
Em março de 2008, um funcionário da United Airlines acendeu uma lanterna no compartimento de bagagem de um Boeing 757 no aeroporto de Denver. Um relatório diz que a lanterna explodiu "com som de tiroteio", e que o comutador se transformou em projétil.
Em um voo para Miami, no mesmo mês, oito pessoas saíram feridas quando uma pequena bateria caiu e colidiu com a armação metálica de um assento. Na explosão resultante, destroços queimaram uma orelha e o cabelo de um passageiro, e a fumaça causou enjoos a sete tripulantes.
Em 2004, uma câmera de uma equipe de jornalismo da rede de TV ABC explodiu em um aparelho que estava sendo usado na campanha de John Edwards, então candidato à presidência. Um assento pegou fogo, causando retorno de emergência ao aeroporto. E número ainda maior de eventos passa sem registro, de acordo com as autoridades.
"Se você enfrenta um problema no ar, não há muito que possa fazer para se recuperar disso", disse Gerald McNerney, vice-presidente da Motorola, que fornece aparelhos portáteis às linhas aéreas.
"Você coloca sua marca em risco caso um desses aparelhos tenha problemas de bateria. O que fizemos foi considerar a criação de backups e linhas duplicadas de desenvolvimento, de modo a evitar explosões".
Estatísticas disponíveis no site da Comissão de Segurança de Bens de Consumo apontam que pelo menos 400 mil baterias de aparelhos eletrônicos portáteis foram recolhidas até o momento este ano, em um sinal de que ocasionalmente a culpa é de problemas de fabricação. As baterias também estão ganhando potência, de modo que mesmo as menores delas podem gerar grande calor.
"O setor de baterias está tentando fazer com que elas comportem mais energia, de modo a prolongar sua duração", disse Joe Delcambre, porta-voz do departamento de materiais perigosos da FAA.
"Baterias menores, duração maior, terminais que podem causar superaquecimento do produto - é um risco", afirmou.
Se considerarmos que os problemas com baterias vêm surgindo em aviões de passageiros à razão de um a cada quatro meses, Merritt Birky, antigo especialista em incêndios e explosões no Conselho Nacional de Segurança dos Transportes americano e hoje consultor privado, sugere que elas deveriam ser guardadas em lugares nos quais os passageiros possam estar de olho, e de preferência não nos espaços de bagagem no topo da cabine.
"Sempre que acontece um incêndio a bordo de um avião, é uma experiência alarmante, especialmente nos compartimentos superiores de bagagem", disse Birky.
"A área está lotada de bagagens, casacos, e por isso há muito com que alimentar um incêndio, que além disso pode passar despercebido por tempo considerável".
O Departamento dos Transportes criou um site que inclui as normas sobre viajar com baterias de lítio, e está trabalhando com os fabricantes de eletrônicos portáteis para informá-los sobre os riscos. Mas o conselho de segurança nos transportes estima que menos de 1% dos passageiros aéreos norte-americanos visitem o seu site.
"A maioria dos passageiros e tripulantes de aviões provavelmente não está ciente dos riscos de incêndio das baterias de lítio", escreveu o conselho em 2008 ao recomendar uma abordagem mais agressiva quanto à educação do público.
A FAA planeja acatar a sugestão quando começar a transmitir anúncios de serviço público sobre a questão, no ano que vem, disse Bonanti.
"Há muitas coisas que podem sair errado, em uma bateria de lítio", ele disse, acrescentando que, por mais que as pessoas se sintam confortáveis com os seus aparelhos, a cautela continua a ser o melhor caminho.
Fonte: The New York Times via Terra - Tradução: Paulo Migliacci