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Além de outros fatores, a Azul ressalta que a alta do dólar e do combustível também influenciam nos valores das passagens (Foto: Pixabay) |
Quem embarcou de Belo Horizonte para Belém (PA) no dia 20 de abril e retornou no dia 27, pagou pelos bilhetes R$ 1.436. Na mesma companhia, o passageiro que embarcar na segunda-feira 30/5 e retornar sete dias depois, pagará R$ 3.981,73. Mesmo considerando que o preço varia conforme a data da compra – quanto mais antecipada, menor o valor –, a diferença está acima de 2.500 reais.
Levantamento do Kayak, plataforma de comparação de voos, feito no mês de março em relação ao mês anterior, indica que Florianópolis foi o destino com maior alta no preço médio da passagem, R$ 1.132 ( variação de 45%), seguido por Brasília R$ 956 (41%), São Paulo R$ 989 (40%) e Rio de Janeiro R$ 982 (40%). Belo Horizonte apresentou alta de 28%, com preço médio de R$ 888.
Na comparação com fevereiro a Decolar.com mostra aumentos entre 16% e 40% em rotas originárias nos aeroportos de São Paulo (Congonhas e Guarulhos). De acordo com a plataforma, o bilhete de São Paulo ao Rio de Janeiro custava ao passageiro R$ 504,19 em média em fevereiro, passou a R$ 598,99 em março, uma alta de 19%. Para Recife, passou de R$ 559,82 para R$ 783,57, alta de 40%.
Pandemia, desemprego, queda do poder de compra do cidadão brasileiro, política de preços de combustíveis e alta do dólar são alguns fatores apontados por especialistas e representantes do setor da aviação para justificar a alta das passagens. Entre 1º de janeiro e 1º de maio, a alta do QAV (querosene de aviação) aproximou-se dos 50%.
Representantes das companhias aéreas e do governo reconheceram o problema em audiência das comissões de Infraestrutura (CI) e de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, realizada em 5 de maio. O presidente da Associação Brasileira de Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanowicz, explicou que o querosene de aviação subiu 209% desde abril de 2017, e o dólar, 60%.
O gerente de Previsão de Preços, Mercado e Vendas da Petrobras, Diogo Bezerra, alegou que os preços dos combustíveis em geral, assim como de outras commodities, são negociados internacionalmente e influenciados pelos balanços globais.
Também ouvido, o conselheiro Gustavo Augusto Freitas de Lima, do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), disse que a instituição não tem o papel de tabelar preços dos produtos e serviços, mas de dizer se o preço pago pelos consumidores é justo ou está sendo inflado artificialmente.
“Nos últimos dez anos, investigamos mais de 20 cartéis, identificamos 15 cartéis no setor de óleo e gás e foram aplicados mais de R$ 500 milhões em multa.”
O que dizem as empresas
As companhias aéreas Latam, Gol e Azul informaram que não comentam e nem fornecem informações de comparação de preços.
“A Azul esclarece que os preços praticados na comercialização de seus bilhetes variam de acordo com uma série de fatores importantes como trecho, sazonalidade, compra antecipada, disponibilidade de assentos, entre outros. Além disso, a companhia ressalta que a alta do dólar e do combustível também são elementos que influenciam nos valores das passagens”.
A LATAM esclareceu em nota que o preço das passagens aéreas segue sendo impactado pela escalada contínua do preço dos combustíveis no Brasil. Entre 1º de janeiro e 1º de maio, a alta no QAV chegou a quase 50% no Brasil e essa conjuntura afeta diretamente os custos de operação, a precificação das passagens e a própria retomada do setor aéreo brasileiro.
Esse percentual de 50% ainda não reflete todo o aumento esperado no QAV para os próximos meses, podendo afetar ainda mais os preços das passagens.
A GOL informou que não abre dados sobre precificação de trechos específicos. A companhia adota o modelo de precificação dinâmica. E a curva de precificação praticada pela GOL permite que os diferentes perfis de clientes tenham acesso ao transporte aéreo no país, seja ele corporativo ou de lazer.
Este modelo faz com que as tarifas tenham oscilação constante – considera a antecedência de compra da passagem e a ocupação da aeronave – permitindo que, em contrapartida, os passageiros que não conseguem se planejar e necessitam adquirir de última hora um bilhete também tenham opções disponíveis (muitos dos casos dos clientes corporativos, ou aqueles de viagens de emergência).
ANP e Petrobras
Em nota, a Agência Nacional de Petróleo (ANP) declarou que os preços dos combustíveis são livres no Brasil, por lei, desde 2002.
“São fixados pelo mercado. Não há preços máximos, mínimos, tabelamento, nem necessidade de autorização da ANP, nem de nenhum órgão público para que os preços sejam reajustados ao consumidor. Os reajustes são feitos pelo mercado, pelos agentes que nele atuam, como as refinarias (em sua maioria, da Petrobras), distribuidoras e postos de combustíveis.”
A agência disse que acompanha os preços dos combustíveis como forma de dar transparência aos valores praticados no mercado e publica um levantamento semanal que mostra os preços ao consumidor praticados pelos postos nos municípios e as médias nos estados e no Brasil.
Também através de nota, a Petrobras disse que os preços de venda de QAV da companhia para as distribuidoras buscam equilíbrio com o mercado internacional e acompanham as variações do valor dos produtos e da taxa de câmbio, para cima e para baixo.
“Essa lógica econômica se aplica a outros tipos de commodities comercializadas no Brasil, e em economias abertas em geral, como, por exemplo, as commodities agrícolas (soja, café, etc.). A prática de preços de QAV alinhados a referências internacionais é amplamente adotada em mercados aéreos de países desenvolvidos e também nos emergentes. Os ajustes de preços praticados pela Petrobras são mensais e definidos conforme fórmula contratual negociada com as distribuidoras, mitigando os efeitos da volatilidade diária das cotações internacionais e do câmbio. Esta prática perdura por cerca de 20 anos, sendo amplamente consolidada no mercado de aviação.”
O setor aéreo registrou, em fevereiro, 5,5 milhões de passageiros transportados em voos nacionais. Uma alta de 28% na comparação com o mesmo período de 2021 (4,3 milhões), segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). São os últimos dados atualizados da agência.
O Brasil contabilizou mais de 62,5 milhões de pessoas voando pelo país em 2021. O número representa um crescimento de 20,4% na comparação com o ano anterior, quando 51,9 milhões de passageiros haviam trafegado pelos aeroportos do país, mas ainda distante dos 119 milhões transportados em 2019, um ano antes da pandemia.
IPCA-15 revela maior alta das passagens aéreas desde 2016
As passagens aéreas apresentaram uma alta de 18,4% somente no mês de maio. A maior desde 2016, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), divulgado na terça-feira (24/5) pelo Instituto Brasileiro de Gerografia e Estatísticas (IBGE).
Em 12 meses, a alta foi de 89,19%, perdendo somente para cenoura, 146,31%.O grupo de transportes foi o que apresentou maior impacto positivo no cálculo do índice, com crescimento de 1,8%, uma desceleração em relação ao mês de abril que foi de 3,43%, demonstrando que os bilhetes para viagens de avião fizeram movimento contrário aos demais ítens do setor.
A carestia das passagens fica mais evidente diante dos números gerais, que apontam o IPCA de maio de 0,59%, 1,14 ponto percentual (p.p.) abaixo da taxa registrada em abril (1,73%). A maior variação para um mês de maio desde 2016, quando o índice foi de 0,86%.
No ano, o IPCA-15 acumula alta de 4,93% e, em 12 meses, de 12,2%, acima dos 12,03% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores. É a maior variação acumulada em 12 meses desde novembro de 2003, quando o acumulado foi de 12,69%. Em maio de 2021, a taxa foi de 0,44%.
Nos transportes (1,80%), a maior contribuição veio das passagens aéreas (18,40%), cujos preços subiram pelo segundo mês consecutivo (a alta havia sido de 9,43% em abril). Os combustíveis (2,05%) também seguem em alta, embora a variação tenha sido inferior à registrada no mês anterior (7,54%).
A gasolina, em particular, subiu 1,24%, enquanto o etanol subiu 7,79%. Destaque para o seguro de veículo (3,48%), que já acumula 18,24% de variação no ano.
Segundo o IBGE, oito dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados tiveram alta em maio. A exceção foi Habitação (-3,85%).
A maior alta veio de Saúde e cuidados pessoais (2,19%), que contribuiu com 0,27 pontos percentuais no índice do mês. O maior impacto positivo, 0,4 pontos percentuais, veio dos Transportes (1,80%), que desaceleraram em relação a abril (3,43%), assim como aconteceu com alimentação e bebidas (1,52% em maio frente aos 2,25% do mês anterior).