Pai de Nelson Marinho segura foto do filho com a família. Vítima do acidente era engenheiro especializado em mecânica de engrenagens
Muitas hipóteses foram levantadas: falha humana, falha elétrica, falha nos indicadores de altitude e velocidade (congelamento dos tubos de pitot) das aeronaves, tempestades e nuvens gigantes e até deslocamento de carga. Mas, na opinião do especialista em segurança de voo Roberto Peterka, "com as informações que temos hoje, não dá para afirmar nada, não dá para descartar ou aceitar qualquer hipótese, porque todas elas são válidas".
"Provavelmente foi uma associação de eventos. Um conjunto de fatores abruptos e graves. Presumo que os tripulantes não tiveram tempo de resolver os problemas, que foram se acumulando e crescendo de forma muito rápida", analisa.
Peterka diz que a possibilidade de uma falha humana também deve ser sempre considerada, mas que ela pode ter acontecido em qualquer ponto, do treinamento à manutenção. Segundo ele, é importante saber quem estava no controle da aeronave na hora do acidente, se era o copiloto ou o comandante, porque pode ter havido um erro de cálculo no desvio da rota ou um erro na hora de mexer nos radares.
O comandante Carlos Camacho, diretor de segurança de voo do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), concorda e diz que a falta de experiência pode ter levado à queda. "O clima era atípico, mas a outra aeronave que vinha na mesma rota, logo atrás, desviou e seguiu viagem sem problemas. Não sabemos quantos graus o avião desviou, mas pode ter havido um erro de cálculo", ressalta. Ele defende que o treinamento dos pilotos deve ser melhorado e intensificado e situações adversas devem ser mais trabalhadas nos simuladores de voo.
Além do voo AF 447, que sofreu o acidente, passou pela mesma rota, 20 minutos depois, o voo AF 459 (São Paulo-Paris). Em entrevista ao jornal francês "Le Figaro", o comandante de voo do 459 explica que, ao entrar na chamada Zona de Convergência Intertropical, aumentou a sensibilidade do radar da aeronave, o que deixa as leituras sobre as nuvens mais confiáveis. "Essa manipulação nos permitiu evitar uma grande massa de nuvens que não poderíamos ter identificado com o radar em modo automático", diz.
Um dos copilotos acrescenta que "essa massa nebulosa era difícil de detectar, porque não havia raios", mas a informação do radar fez com que a equipe decidisse contornar a região com um desvio de 126 quilômetros. Segundo o comandante, "nem todos fazem tal manobra".
O comandante de bordo afirma ainda que não houve nenhum contato por rádio com o voo AF 447. "Tentamos em vão contato pela frequência de emergência, mas não nos preocupamos muito com isso. Sempre pode acontecer problemas com o rádio de um avião. Esperávamos que um outro avião mais próximo conseguisse contato", conta.
Camacho explica que a região do acidente é sabidamente uma "zona negra", ou seja, existe ali uma espécie de ponto cego no espaço aéreo, que faz com que haja uma falha de comunicação do sistema de rádio, o que deixa a torre e as aeronaves sem comunicação.
"Todo mundo sabe e todo mundo voa por ali normalmente. É uma região que nenhum radar detecta. E isso pode ter colaborado para o acidente", afirma, ressaltando que o quadro deve ser revertido com a adoção do Automatic Dependent Surveillance-Broadcast (ADS-B) pelo Brasil, novo sistema que vai mapear o espaço aéreo por satélite e monitorar a posição exata dos aviões. "Aí sim o controle do tráfego será seguro e o espaço aéreo estará 100% coberto", diz.
Petarka diz que os radares realmente não alcançam aquela região, mas isso não chega a afetar a comunicação e não deve ter influenciado no acidente.
A queda do avião levou a Air France a trocar os sensores externos por modelos de nova geração em todas as suas aeronaves. Já a Airbus atualizou o manual para os pilotos e divulgou novos procedimentos no caso de discrepâncias de velocidade.
Na opinião de Peterka, a principal consequência do acidente na aviação mundial, nesse momento, é o fato de mais de 300 aviões Airbus estarem em pleno funcionamento sem que ninguém sabia com certeza se a queda não foi provocada por um problema técnico.
Fonte: Fabiana Uchinaka (UOL Notícias)