Uma experiência realizada para um
documentário da BBC mostrou que o avião que fazia o voo 253 da Northwest Airlines entre Amsterdã e Detroit no Natal teria conseguido pousar mesmo que os explosivos embaixo do banco de um passageiro tivessem detonado com sucesso.
A simulação foi feita com um Boieng 737 e, segundo os engenheiros que participaram do teste, as conclusões também podem ser aplicadas a outros aviões de grande porte, como o Airbus A330-300 usado pela Northwest na rota Amsterdã-Detroit.
Usando os mesmos explosivos encontrados com Abdulmutallab, a explosão de teste não foi capaz de romper a fuselagem do avião.
Segundo especialistas, porém, pelo menos o suspeito de carregar os explosivos e o passageiro ao lado teriam morrido caso ele tivesse conseguido detoná-los.
O documentário
How safe are our Skies? (Quão seguros são nossos céus?) foi ao ar na noite desta quinta-feira na Grã-Bretanha.
Condições recriadasJohn Wyatt, um especialista internacional em terrorismo e explosivos e consultor da Organização das Nações Unidas, recriou as condições a bordo do voo 253 em uma fuselagem de um Boeing 747 retirado de serviço.
Ele usou a mesma quantidade do explosivo pentaeritritol (PETN) que Abdulmulattab supostamente levava durante o voo. O explosivo foi colocado na mesma posição em que o nigeriano estava sentado no avião.
Wyatt e o capitão J. Joseph, investigador sobre acidentes aéreos, concluíram que a quantidade de explosivos usada não teria sido suficiente para romper a fuselagem.
"Se fosse um material mais rígido, poderíamos ter visto uma fissura ou rompimento, mas esse é na verdade um material bastante flexível", afirmou Wyatt.
"Eu fiquei bastante impressionado pela estrutura da aeronave. Ela aguenta uma pancada bem forte", disse.
Pouso com segurançaJoseph, por sua vez, disse que eles verificaram que o avião perdeu alguns rebites, mas que nenhum controle de voo ficou comprometido.
"Certamente nenhum tanque de combustível foi rompido. Estou bastante seguro de que a tripulação poderia ter controlado o avião sem problemas e pousado com segurança", afirmou.
Porém os especialistas dizem que a morte do suspeito de levar a bomba e do passageiro ao seu lado teria sido uma experiência bastante traumática para os demais passageiros.
"Teria sido bem horrível. Obviamente que a própria explosão causaria rompimento do tímpano", disse Wyatt.
Segundo Joseph, o barulho e a fumaça na cabine seriam terríveis. "Sem mencionar as partes de corpos que teriam sido desintegradas com a explosão", disse.
Apesar disso, ele considera que a explosão de teste deve servir para acalmar os viajantes. "Acho que isso deve aumentar a confiança dos passageiros. Após ver o quão bem a aeronave manteve sua integridade estrutural, e obviamente a capacidade do piloto de manejar o avião, isso daria a eles um alto grau de confiança", afirmou.
Por questões de segurança, os especialistas não puderam dar detalhes sobre os danos causados pela explosão dentro da cabine.
'Quadro realista'Para Kip Hawley, ex-chefe do serviço americano de segurança nos transportes (TSA, na sigla em inglês), a experiência realizada por Wyatt e Joseph "dão um quadro realista dos efeitos de uma bomba semelhante à usada no Natal".
"A questão de que as fuselagens atuais são mais resistentes do que muitos imaginam é um ponto crítico", disse.
Segundo ele, os governos realizam testes sofisticados semelhantes ao do documentário e usam seus resultados para basear as medidas de segurança vistas nos aeroportos.
"Especificamente, esse é o tipo de teste que levou à decisão de limitar a 100 mililitros a quantidade de qualquer líquido, levado em uma bolsa plástica fechada, que pode passar pela checagem de segurança (no embarque para qualquer voo)", afirmou.
Os resultados dos testes realizados pelo documentário da BBC devem ser agora divididos com autoridades e especialistas em segurança em todo o mundo.
Fonte: BBC Brasil via O Globo - Imagem: Reprodução/BBC