Fotos, troféus, livros e medalhas estão em sala improvisada.
Criado em 1990, centro histórico fica no Campo de Marte.
O pesquisador Edgar Prochaska segura um gorro de piloto da década de 1950 - Foto: Carolina Iskandarian (G1) O ciúme está estampado no rosto do senhor simpático de olhos azuis. “Tenho ciúme. Só eu mexo; é precioso”, diz ele. O ‘tesouro’ em questão são as centenas de fotos, troféus, medalhas, livros e objetos que contam um pouco da aviação brasileira, sobretudo em São Paulo. Aos 76 anos, é Edgar Orlando Prochaska, fundador do Museu do Aeroclube de São Paulo, quem cuida de tudo e luta por um espaço para suas peças.
O centro histórico, do qual ele é também curador, fica no Aeroporto do Campo de Marte, na Zona Norte da capital, onde funciona a sede do Aeroclube desde 1931. Ali, jovens se formam pilotos da aviação civil na “melhor escola da América Latina”, como garante Prochaska. Sócio do local há 40 anos, é piloto amador, escritor, pesquisador, dentista aposentado e um apaixonado por aviões.
Há um ano, viu seu acervo ser colocado em caixas e móveis improvisados porque a antiga sala foi demolida para reforma. Junto com ela, também virou entulho o antigo restaurante social do Aeroclube, que será totalmente reformado. “Estou ansioso para ver o espaço que vão reservar para mim”, brinca o paulistano.
Foto mostra dia de vôo inaugural da falida Vasp, em 1933, no Campo de Marte (Foto: Reprodução/ Arquivo Aeroclube de SP)
Carta
A obra só deve ficar pronta no meio do ano que vem. Enquanto a nova sala não chega, as peças ficam no auditório, disputando espaço com mesas e carteiras de estudante. Prochaska explica que não existem muitos documentos com a história do Campo de Marte e do Aeroclube de São Paulo. Por isso, a ajuda dos amigos foi fundamental.
As primeiras peças do museu foram descobertas por acaso, depois do esbarrão em uma caixa jogada em um hangar. “Vi que o caixote tinha troféus históricos, que estavam oxidados. Mandei restaurar. Daí surgiu a idéia de montar o centro histórico”, conta.
Com o argumento de que “precisava preservar o passado do Campo de Marte” e aumentar seu acervo, o pesquisador resolveu mandar uma carta aos sócios do Aeroclube, pedindo que cedessem objetos pessoais da aviação. “Passaram a vir quadros, jornais antigos, troféus, medalhas. Isso constitui o passado da aviação em São Paulo”.
Passado em foto
Entre as fotos, está a da primeira turma de pilotos formados no Aeroclube paulista em 1933. Há também a imagem do avião da Vasp, que fez o vôo inaugural da empresa no Campo de Marte, no mesmo ano de 1933. Gente bem vestida e carros de época ajudam a compor a foto naquele dia de festa. No álbum em que todas estão misturadas, tem ainda registrada a cena de um dos tradicionais jantares do Aeroclube em 1951.
O Campo de Marte, segundo Prochaska, o primeiro aeroporto de vôo comercial na capital, foi criado em 1920. O Aeroporto de Congonhas, hoje o mais movimentado da cidade, surgiu 16 anos depois, em 1936. É um pouco da história do aeroporto de Santana que o pesquisador quer contar no seu quinto livro. Os outros também falam de aviação e mergulho (outra paixão de Prochaska), além de uma publicação infanto-juvenil.
Aeroporto de Campo de Marte é cenário de vôos de exibição (Foto: Reprodução/ Arquivo Aeroclube de SP) Enquanto dava a entrevista, na sexta-feira (7), Prochaska passava os olhos por suas peças, parecendo saber o local exato de casa uma delas. Tirava o pó de algum quadro que seria fotografado pela reportagem e apontava livros considerados por ele como raridades.
Um deles, publicado em 1910 em francês, é sobre o Aeroclube da França. Outro que o curador considera valioso é o Tratado de Aeronáutica, de 1991, sobre navegação de dirigíveis. Não podia faltar um exemplar com a história de Santos Dumont. Curioso que o livro sobre o homem tido como o pai da aviação brasileira foi escrito em inglês. “Mas tem tradução em português”, apressa-se em explicar Prochaska.
Para o homem que calcula voar desde os 20 anos, tem um filho piloto e se dedica a livros sobre aviação, é difícil calcular em números o valor do acervo. Mas não em palavras. “É modesto, pequeno e único”.
Prochaska mexe nos livros da estante, onde diz ter raridades (Foto: Carolina Iskandarian/G1)
Fonte: Carolina Iskandarian (G1)