Ao custo de R$ 8,9 milhões, o sistema antinevoeiro prestes a entrar em operação no aeroporto internacional de Cumbica, em Guarulhos (Grande São Paulo), atenderá a minoria dos voos e será usado raramente --pouco mais de um dia a cada ano.
Chamado de "ILS (sistema de pouso por instrumentos, na sigla em inglês) categoria 3a", o equipamento estará em funcionamento neste inverno, disse a Infraero, estatal que o comprou e o instalou.
A maioria dos passageiros que usa Cumbica não será beneficiada pelo equipamento.
Isso porque usar o antinevoeiro requer que as companhias aéreas tenham aviões certificados e pilotos treinados --o que TAM, Gol, Azul e Avianca Brasil não têm.
Elas são responsáveis por 70% dos voos no aeroporto.
Assim, quando houver nevoeiro em Cumbica, o que deve ocorrer principalmente no mês que vem, os voos dessas empresas terão que ser desviados para outros lugares.
A justificativa das empresas é o custo: treinar pilotos é caro e exige treinamento constante. Em Cumbica, que fecha cerca de 40 horas (0,4% do ano) ao ano por causa da neblina, o investimento não compensa, diz Ronaldo Jenkins, diretor da Abear, associação que reúne TAM, Gol, Azul e Avianca.
As maiores companhias, diz ele, são habilitadas para o ILS 2, na qual os pousos ocorrem com visibilidade horizontal mínima de 350 metros. Enquadram-se nesse requisito quase todas as operações em Cumbica, afirmou.
O equipamento prestes a operar permite pousar com visibilidade ainda menor, de 175 metros.
Serão beneficiadas as companhias aéreas americanas e europeias, que, por atuar em condições climáticas adversas em seus países de origem, são certificadas para usar o equipamento. A alemã Lufthansa, por exemplo, afirmou que está apta a fazê-lo.
Outras tecnologias
Na Europa e nos EUA está em discussão a adoção de outras tecnologias como alternativa ao ILS 3, considerado caro, com o uso de satélites para ajudar o avião a pousar, em vez de aparelhos no solo.
A Anac informou que os requisitos para o sistema antinevoeiro funcionar ainda não foram cumpridos integralmente para liberar o seu uso.
A agência informou estar em contato com a nova administração de Cumbica, a concessionária GRU Airport, para que haja as alterações necessárias para o ILS categoria 3 começar a funcionar.
Atraso
O equipamento está instalado desde janeiro do ano passado em Cumbica, mas ainda não têm autorização da Anac para operar.
A implantação deveria ter sido feita em dezembro de 2011, um ano e meio atrás, segundo estimativa da própria Infraero.
OUTRO LADO
A Infraero não se manifestou sobre o fato de o equipamento de R$ 8,9 milhões atender a uma pequena parte dos voos de Cumbica. A Folha enviou questões à estatal anteontem à noite.
À reportagem um dirigente da companhia mostrou insatisfação com o fato de as companhias aéreas não treinarem tripulações para usar o equipamento antineblina.
A TAM informou que está em processo de pedir à Anac aval para usá-lo nos seus aviões maiores, que fazem rotas intercontinentais (Boeings 767 e 777 e Airbus A330), assim como treinar as tripulações a fazê-lo.
A Gol informou que aguardará a implantação do ILS 3 antes de se manifestar. Em janeiro de 2012, a empresa havia dito à Folha não ter interesse em adotá-lo, pois seus aviões são autorizados a usar o ILS 2, tido como suficiente.
A Azul diz que tem interesse em habilitar parte da frota. A Avianca não respondeu.
Fonte: Ricardo Gallo (jornal Folha de S.Paulo) - Imagens: Editoria de arte/Folhapress
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