A Boeing sinalizou nesta terça-feira com a possibilidade de ampliar sua rede de fornecedores no Brasil, na tentativa de mudar a balança da disputa para vender caças para a Força Aérea Brasileira (FAB), atualmente favorável ao caça francês Rafale.
Para isso, a fabricante norte-americana realiza nesta semana conferências com 150 empresas brasileiras que podem conquistar uma fatia dos 45 bilhões de dólares anuais que a empresa gasta com fornecedores.
O diretor de relacionamento e novos negócios do programa F-18 da Boeing, Michael Coggins, estima que o Brasil represente menos de 10 por cento desse valor e acrescenta que existe espaço para que companhias brasileiras abocanhem uma fatia maior desse bolo, principalmente se o caça F-18 for escolhido pela FAB como vencedor do programa F-X2, que prevê a compra de 36 caças.
"É por isso que o F-X2 é importante para mudar isso (a baixa participação das empresas brasileiras na cadeia de fornecedores da Boeing)", disse ele durante encontro com jornalistas em São Paulo.
O apoio do governo dos Estados Unidos à proposta da Boeing estava claro no encontro com a imprensa, inclusive com a presença do cônsul-geral do EUA em São Paulo, Thomas White.
"O que está sendo oferecido aqui é o relacionamento com a maior empresa de defesa do mundo, que atua na maior economia do mundo, no maior mercado de defesa do mundo e que é parte de uma equipe que inclui alguns dos principais desenvolvedores de tecnologia do mundo", disse o cônsul.
O encontro da Boeing com a imprensa acontece cerca de uma semana depois da divulgação de uma nota conjunta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com seu colega francês, Nicolas Sarkozy, na qual o Brasil anunciou o início das negociações para a compra do Rafale, da Dassault.
Embora o comunicado de 7 de setembro tenha sido amplamente interpretado como um anúncio antecipado da vitória do Rafale no F-X2, o Ministério da Defesa soltou nota, no dia seguinte, afirmando que a concorrência não estava decidida e que os três finalistas poderão melhorar suas propostas. Além de Boeing e Dassault, a sueca Saab está na disputa com o caça Gripen NG.
"Não esperávamos o anúncio de 7 de setembro", disse o vice-presidente para o programa do caça F-18, Bob Gower. Ele afirmou, no entanto, ter obtido garantias de autoridades brasileiras que a concorrência será "aberta e justa".
O executivo procurou ainda destacar o que considera ser pontos negativos do Rafale, especialmente o preço da oferta, que segundo fontes ligadas ao governo francês seria da ordem de 5 bilhões de euros.
"Seria prematuro, durante uma competição, falarmos sobre o nosso preço, mas temos uma comparação extremamente favorável com os 5 bilhões de euros noticiado como preço do Rafale", disse Gower.
"Competimos com o Rafale várias vezes, em vários outros países, e vencemos todas elas. Tanto do ponto de vista da tecnologia, quanto do ponto de vista do preço", acrescentou.
INTERESSE EM CARGUEIROA Boeing também aproveitou a oportunidade para reiterar seu interesse no cargueiro KC-390, que a Embraer está desenvolvendo para a FAB.
"A Boeing e a Embraer estão em estágio bastante avançado na colaboração para a plataforma do KC-390", disse Gower.
Segundo ele, a tecnologia desenvolvida para o C-17, avião de transporte da fabricante norte-americana, pode ser utilizada pela Embraer no desenvolvimento do cargueiro.
"Isso pode reduzir o custo da KC-390 e aumentar a sua competitividade no mercado", disse o executivo.
O KC-390 vem atraindo a atenção dos finalistas do F-X2, que têm visto no cargueiro, cuja linha de montagem deve ficar pronta em sete anos, uma arma para seduzir o governo brasileiro no processo de escolha dos novos caças da FAB.
A intenção anunciada por Sarkozy de adquirir algumas unidades do cargueiro da Embraer é vista como um dos fatores que levaram à nota conjunta dos dois presidentes, que deu amplo favoritismo ao Rafale.
Fonte: Eduardo Simões (Reuters) via G1