Por: Eduardo Freitas - Imagem: Lucas Lacaz Ruiz - A13/AgoraVale
A indústria geoespacial vem experimentando várias mudanças nos últimos anos, com maior destaque para o sensoriamento remoto, que é a área responsável por gerar imagens da superfície terrestre a partir de plataformas móveis. Se há alguns anos existia uma separação muito clara entre imagens de satélites – com menor poder de detalhamento – e aerofotos – com maior resolução -, hoje existem várias áreas de sobreposição entre os produtos gerados e as aplicações das imagens obtidas por sensores remotos orbitais e aerotransportados.
Os satélites comerciais de altíssima resolução - com menos de 50 centímetros de detalhamento - invadiram uma área que, até recentemente, era apenas das imagens obtidas através de aviões. Por sua vez, a aerofotogrametria ampliou o leque de sensores, e hoje os veículos voam com equipamentos ópticos, radar e laser, obtendo uma vasta gama de imagens e de modelos digitais de terreno em três dimensões.
Agora, uma novidade que está alterando o jogo de forças no setor de sensoriamento remoto é a invasão dos Veículos Aéreos Não Tripulados (VANTs), equipamentos com baixíssimo custo – em relação à aerofotogrametria – que podem gerar produtos muito próximos dos obtidos através de métodos clássicos de levantamentos. Por outro lado, os VANTs ainda carecem de uma legislação clara para a execução de voos sobre áreas habitadas para mapeamento rural e urbano.
Resposta rápida a desastres
Além do mapeamento em si, os VANTs podem ser muito úteis na resposta a desastres naturais e acidentes, já que possibilitam uma agilidade que não é encontrada no uso de aviões e na programação de imageamento por satélites. Empresas brasileiras já possuem projetos e equipamentos que poderiam contribuir em aspectos relacionados a acidentes que resultam no derramamento de óleo no mar ou em resposta a deslizamentos de terra.
Hoje, existem várias opções de VANTs, com distintas autonomias de voo, que poderiam se encaixar em diferentes missões, desde a detecção de manchas de óleo no oceano e sua evolução, até o rastreamento e identificação das praias do litoral em risco de serem afetadas. O sobrevoo a áreas com deslizamentos de terra também pode ser feito com agilidade para a resposta rápida a emergências.
Os satélites com sensores ópticos, por exemplo, ficam limitados em relação à presença de nuvens na região, o que requer o uso de imagens radar. Já os VANTs não sofrem com isso, pois voam abaixo das nuvens. Outra diferença é em relação ao custo operacional e humano, pois operar um avião não tripulado custa menos, além de não expor a tripulação a riscos.
Outra área na qual os VANTs já são amplamente utilizados é a segurança. A Polícia Militar Ambiental do Estado de São Paulo, por exemplo, usa veículos não tripulados para a detecção de diversos tipos de crimes ambientais. Em 2011, o governo brasileiro criou o Núcleo de Excelência em Desenvolvimento de Sistemas Embarcados para Veículos Aéreos Não Tripulados e Robôs Táticos Móveis, com o objetivo de desenvolver um sistema de segurança nas fronteiras da Amazônia e monitorar o meio ambiente.
Os resultados esperados do projeto, que tem previsão de quatro anos de duração, deixarão o Amazonas numa condição favorável em relação ao controle das fronteiras, uma vez que, nesses locais, ocorrem com frequência o tráfico de drogas, guerrilhas, dentre outras atividades. Os VANTs vão desempenhar funções estratégicas na captura de informações, que posteriormente serão processadas e encaminhadas aos órgãos competentes, como a Polícia Federal e o Exército.
Restrições
Mas um VANT não é um simples aeromodelo. Antes de se fazer um levantamento é preciso obter uma autorização Notam, emitida pelos órgãos da Aviação Civil e Militar, avisando que será feito um sobrevoo a um determinado local. Além disso, esses locais não podem ser densamente habitados, o que tem sido um empecilho para o mercado com foco em segurança.
Existem, em todo o mundo, vastas pesquisas e desenvolvimentos sobre VANTs, baseadas em diversos tipos de aeronaves, como aviões, helicópteros e dirigíveis. Esse tipo de aparelho possui um grande campo de aplicação, podendo ser empregado no monitoramento e estudo de florestas e regiões de interesse ecológico, em levantamentos de áreas rurais de aspectos agropecuários. Também pode auxiliar na medição da composição do ar e de níveis de poluição e sua dispersão em centros urbanos e industriais. Além disso, serve para a inspeção de grandes estruturas, levantamento de ocupação urbana e prospecção topográfica, mineral e arqueológica.
Espera-se, para os próximos anos, uma presença cada vez maior de VANTs nas áreas de mapeamento, defesa, inteligência e segurança, o que não significa que o uso das fotos obtidas com aviões e imagens de satélites estejam em declínio. Com maior oferta de produtos, a aerofotogrametria se moderniza e fornece imagens cada vez melhores. Os satélites também aumentam cada vez mais a resolução e geram imagens com mais opções de detalhamento e revisita. As tecnologias estão se complementando, com algumas áreas de sobreposição, mas cada uma com sua especificidade e área de aplicação.
* Eduardo Freitas é engenheiro cartógrafo, técnico em edificações, mestrando em SIG, editor do portal e revista MundoGEO e coordenador técnico do evento MundoGEO#Connect LatinAmerica.
Serviço
MundoGEO#Connect LatinAmerica 2012
Data: 29 a 31 de maio de 2012
Local: Centro de Convenções Frei Caneca, 569 - Consolação, São Paulo (SP). Informações e inscrições: http://mundogeoconnect.com