'Somos jovens e não estamos prontos para morrer', disse homem no WTC; ouça os áudios compilados pelo iG dos ataques às Torres Gêmeas
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Momento do impacto do voo 175 da United Airlines contra a Torre Sul do World Trade Center nos ataques terroristas do 11 de Setembro de 2001 |
Às 9:19 do 11 de Setembro de 2001, Brad Vadas deixou uma mensagem na secretária eletrônica de sua noiva, Kris McFerren:
- Kris, houve uma explosão. Estamos presos em uma sala. A fumaça não para de entrar. Não sei o que acontecerá. Mas quero que você saiba que a minha vida foi muito melhor e muito mais rica porque você estava nela.
Após respirar pesadamente, Vadas afirma que fará tudo para sair da Torre Sul do World Trade Center (WTC), onde trabalha em Nova York. Apesar disso, não quer deixar dúvidas:
- Eu te amo. Adeus.
Às 9:59 do mesmo dia Jeffrey Nussbaum pergunta:
- Mãe, o que foi esse barulho?
A dez quilômetros de distância do WTC, Arlene Nussbaum assiste à TV e fala com seu filho, preso no 92º andar da Torre Norte, pelo telefone e responde:
- A outra torre acabou de desabar.
- Meu Deus do Céu!
Quase todas as imagens que há dos ataques ao WTC no 11 de Setembro foram feitas do lado externo dos prédios. Mas os detalhes dos últimos minutos de vida das vítimas nos aviões sequestrados e nos edifícios atacados ao sul da Ilha de Manhattan podem ser reconstituídos por meio de telefonemas gravados e mensagens de voz deixadas, quase sempre cheias de emoção, aos parentes e amigos. São pequenos registros que mostram, às vezes com detalhes, o que se passava dentro das Torres Gêmeas antes de elas desabarem.
Os diálogos descritos acima foram retirados do livro “102 Minutos - A História Inédita da Luta Pela Vida nas Torres Gêmeas”, dos jornalistas Jim Dwyer e Kevin Flynn. Esses e muitos outros recados e mensagens ajudam a montar o quebra-cabeça do que ocorreu dentro das torres nos 102 minutos que se passaram desde a colisão na primeira torre, às 8h46, até o último desmoronamento, às 10h28.
Na 1 hora e 42 minutos até a queda da última torre, 10.911 ligações foram feitas de dentro do WTC para as telefonistas do Departamento de Bombeiros, de acordo com as fitas liberadas por esse órgão em 2006. O primeiro ataque foi lançado com o voo 11 da American Airlines - um Boeing 767 carregado com 45 mil litros de combustível - contra os andares 93 e 99 da Torre Norte do WTC. O segundo ataque foi perpetrado com o voo 175 da United Airlines, que colidiu entre os andares 77 e 85 da Torre Sul às 9h03, 17 minutos depois do primeiro choque.
Pessoas que estavam acima do ponto de colisão dos aviões nas duas torres (ou imediatamente abaixo dos andares atingidos), que em sua grande maioria não conseguiram achar uma rota de fuga para deixar os prédios, foram autores da maior parte dos telefonemas feitos e das mensagens enviadas.
A vasta destruição nos 17 andares superiores da Torre Norte e nos 33 da Torre Sul deixou ao menos 1.946 mortos – mais de 70,5% do total de vítimas, de 2.753, no WTC. Após os primeiros dez minutos e, principalmente, após o ataque à Torre Sul, as linhas telefônicas foram completamente inundadas com chamadas, deixando milhares incomunicáveis.
O iG compilou algumas das ligações e mensagens mais representativas. Muitas foram divulgadas publicamente durante o julgamento do francês Zacarias Moussaoui, que foi acusado de conspirar para matar cidadãos americanos durante o 11 de Setembro, no único julgamento criminal dos ataques, enquanto outras foram veiculadas por uma comissão que investigou os atentados. Elas vêm acompanhadas pela gravação original em inglês e podem ser profundamente emocionantes e chocantes em alguns momentos.
A comissária de bordo Betty Ong, que falou por 23 minutos com a central de operações da American Airlines até o voo 11 se chocar com a Torre Norte do WTC, em NY
Diretamente do voo AA 11
Betty Ong, comissária de bordo da American Airlines, conseguiu fazer uma ligação de 23 minutos com a central de operações da companhia aérea. O tempo corresponde aos últimos minutos do voo até a colisão com a Torre Norte do WTC. Com a voz calma, ela anuncia à atendente Nydia Gonzalez:
- Ninguém atende ao telefone na cabine do piloto. Alguém foi esfaqueado na classe executiva e estamos com dificuldades para respirar aqui na executiva, eu acho que usaram spray de pimenta, ou algo assim. Não conseguimos respirar, mas acho que estamos sendo sequestrados. Estou sentada no fundo do avião, tem alguém vindo da classe executiva, por favor, aguarde... (silêncio)
- O nosso primeiro comissário foi esfaqueado. Outro comissário também. Ninguém sabe quem esfaqueou quem. Nós nem podemos ir até a executiva agora porque ninguém consegue respirar. Oh! O nosso primeiro comissário está sendo esfaqueado nesse momento. O nosso número 5, o passageiro da primeira classe, o comissário e o tesoureiro foram feridos, e nem podemos ir à cabine do piloto porque a porta está trancada. Não sabemos quem está lá.
Ligações para o serviço de emergência 911 no dia 9/11
O número de telefone para emergências em todos os EUA é 911. Nos EUA, o 11 de Setembro é chamado de 9/11 (“nine eleven”), pois em inglês o mês precede ao dia em uma data. Nos minutos e nas horas seguintes aos ataques ao WTC, o 911 recebeu milhares de ligações.
A primeira ligação:
Christopher Hanley, 31 anos. Ele participava de uma conferência no restaurante Windows of the World, no 106º andar da Torre Norte, e foi a primeira vítima a ligar para o 911 naquele dia.
- Alô, estou no 106º andar do WTC. Ouvimos uma explosão agora há pouco.
- 106º andar? – pergunta a atendente.
- Sim. Estamos em uma conferência. Vemos fumaça e a situação está ficando muito ruim, não conseguimos descer as escadas.
A atendente passa diretamente aos bombeiros.
- Estamos chegando, vamos ir buscar vocês, por favor, acalmem-se e nos aguardem, estamos a caminho – diz o bombeiro.
- Por favor, venha rápido – diz Christopher – e obrigado.
Os pais de Hanley receberam uma cópia da ligação alguns meses depois dos ataques. Como seu corpo nunca foi encontrado nos escombros das Torres Gêmeas, essa ligação é o último testemunho do rapaz.
“O dia em que recebemos essa gravação foi muito importante. Para mim, ela é muito emocionante para saber exatamente onde estava o meu filho quando tudo aconteceu. A parte que mais me emociona é quando ele diz: ‘Por favor, venha rápido, e obrigado. Por favor e obrigado.’ Mesmo nos momentos mais difíceis, mesmo sob pressão, Christopher conseguiu manter a calma e ser educado. Fico muito orgulhoso dele por isso”, disse Joe Hanley, pai de Christopher.
A última ligação:
Kevin Cosgrove, 46 anos. Ele estava em seu escritório no 105o andar da Torre Sul, a segunda a ser atingida, mas a primeira a desabar. Na relativamente longa conversa que Kevin tem com a atendente do 911 e do corpo de bombeiros, ele explica em detalhes o que está acontecendo, até que a primeira das torres desaba. É possível ouvir os ruídos do prédio e Cosgrove gritando até a ligação ser cortada.
- Somos jovens e não estamos prontos para morrer. Tenho filhos pequenos. Por favor, mandem alguém aqui logo.
- Entendo, senhor, estamos com todo o nosso pessoal aí. Estou tentando explicar a eles onde está, por favor, fique na linha.
- Oh, por favor, rápido. A fumaça está muito intensa.
- Fique calmo, por favor, sente-se e aguarde – diz o bombeiro.
- Vocês ficam dizendo isso, mas a fumaça está muito forte.
- É tudo o que eu posso fazer, senhor.
- Até que andar vocês já chegaram? – pergunta Kevin.
- Estamos chegando, estamos chegando.
- Não parece, cara. Eu tenho crianças pequenas.
- Eu entendo, senhor, estamos a caminho.
No fim da conversa, Kevin está soletrando o seu nome e o da sua empresa, quando se ouve um forte ruído, e ele grita: "Ai, meu Deus! Ai meu Deus!" É o momento exato em que a primeira torre entra em colapso, e a última chamada recebida de dentro do WTC pelo 911.
Fonte: Carolina Cimenti, de Nova York, especial para o iG - Fotos: AP / Reprodução