Veja o que se sabe e o que ainda é dúvida sobre o acidente.
A Aeronáutica começou a investigar as causas do acidente aéreo que matou o presidenciável Eduardo Campos (PSB) e mais seis pessoas na quarta-feira (13) em Santos.
O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) é responsável por analisar o material recolhido pelos peritos, mas ainda não deu nenhuma versão sobre o ocorrido.
A Polícia Civil de São Paulo instaurou inquérito para investigar hipótese de homicídio culposo (sem intenção).
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AQUI e confira a cronologia do acidente, mapas, depoimentos e uma animação que mostra como pode ter sido a queda.
Abaixo, leia o que se sabe a respeito do acidente e dúvidas ainda não esclarecidas sobre o caso.
Quais eram as condições meteorológicas do voo?
As condições meteorológicas, segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), permitiam o pouso. Chovia no momento do acidente. A visibilidade era de 3.000 metros e as nuvens estavam a 300 metros do solo, condições mínimas para pouso. Essas situações são instáveis e podem ser alteradas conforme o piloto se aproxima da pista, segundo especialistas. Cabe ao piloto decidir se a opção mais segura é pousar ou arremeter.
Mau tempo, chuva, vento e baixa visibilidade dificultam as condições de voo e demandam maior atenção do piloto, mas isso não significa que foram a causa.
A tripulação estava cansada?
O Sindicato Nacional do Aeronautas (SNA) quer que o Cenipa apure se o cansaço relatado pelo piloto Marcos Martins na internet pode ter sido uma das causas do acidente. Em uma rede social,
ele disse estar “cansadaço” cinco dias antes da queda. Familiares também serão ouvidos para saber se o piloto e copiloto passavam por problemas pessoais.
O avião era seguro?
O Cessna Citation 560XL, prefixo PR-AFA, era um jato executivo com duas turbinas e 16 metros de comprimento com capacidade para 9 passageiros. Vale cerca de US$ 9 milhões. Segundo a Anac, a documentação da aeronave estava em dia e o jato tinha total condições de operar e era nova, de 2010. Tinha certificado de aeronavegabilidade válido até fevereiro de 2017 e inspeção anual de manutenção que venceria em fevereiro de 2015. Especialistas ouvidos pelo G1 afirmam garantir que a aeronave era segura.
Mas de acordo com o deputado estadual Wilson Quinteiro (PSB), líder do partido na Assembleia Legislativa do Paraná, o mesmo jato que caiu em Santos havia apresentado problemas durante decolagem em Londrina, no Paraná, em 16 de junho. Na ocasião, houve um problema de ignição na aeronave.
Um vídeo cedido (
clique AQUI) pela RPS Produtora mostra o momento em que o próprio Eduardo Campos brinca com o fato de ter se atrasado a um compromisso em Maringá, no norte do Paraná, por causa de um problema na aeronave.
O que aconteceu na hora do pouso?
O piloto seguiu o procedimento correto?
Segundo a Aeronáutica, quando se preparava para pouso, o avião arremeteu (voltou a subir antes do pouso) devido ao mau tempo. Em seguida, o controle de tráfego aéreo perdeu contato.
Especialistas afirmam que o chamado "procedimento de aproximação perdida", conhecido como arremeter, é normal em pousos por instrumentos e uma questão de segurança. A carta de aproximação por instrumentos da Base Aérea de Santos indica que, para arremeter, o piloto deve seguir para a esquerda em curva ascendente, sentido seguido pelo piloto de Campos (
veja mais no vídeo AQUI).
Se continuasse reto, iria de encontro à serra, mas ainda não se sabe se houve uma falha humana colaborou com a queda. A Anac informou que os pilotos que conduziam a aeronave, Marcos Martins (comandante) e Geraldo Magela Barbosa da Cunha (copiloto) estavam com a licença e com as habilitações válida.
O que os pilotos disseram antes da queda?
Gravação de
áudio obtida pelo Jornal Nacional mostra uma conversa entre o piloto Marcos Martins com controladores de voo, aparentando tranquilidade, sobre o procedimento de pouso.
O que dizem as caixas-pretas?
O conteúdo do Voice Recorder, o gravador de voz da aeronave, não tinha o áudio do voo que culminou na queda da aeronave, segundo o Cenipa. No jato não havia o Data Recorder, que grava dados do voo. A falta dessas informações dificulta as investigações.
O avião estava em chamas antes da queda?
Testemunhas afirmaram ter visto uma “bola de fogo” caindo do céu, mas somente a investigação da Aeronáutica irá determinar se houve um problema no ar. Segundo especialistas, o depoimento de testemunhas de quedas de avião quase sempre é impreciso.
Em qual posição a aeronave caiu?
Pelo impacto, a aeronave despencou, levando de 15 a 20 segundos para atingir o solo. Um termo que tem sido mencionado é o “estol de asa”, ou seja, a queda pela perda de sustentação ligada ao ângulo do avião, provavelmente com as asas na vertical, mas também existe a versão de especialista de queda de nariz. Apenas as investigações devem concluir qual foi a posição da queda.
Pode ter havido desorientação espacial dos pilotos?
Todas as hipóteses ainda estão sendo investigadas. A desorientação espacial ocorre em condições sem visibilidade, em que o piloto é levado a crer que a aeronave está em uma direção pelos instrumentos, mas está em outra. Nesse caso, poderia tomar uma decisão baseada nessa condição psicológica, que poderia ser corrigida pelo segundo piloto.
Uma possibilidade seria o piloto, dentro da nuvem, não acreditar que o avião estava indo para a esquerda, e forçar ainda mais a curva, colocando a aeronave em posição de "faca", com as asas na vertical, provocando uma queda brusca.
O piloto pode ter escolhido o local de colisão?
Pelo que restou da aeronave, especialistas creem que ela “bateu voando”, no jargão aeronáutico. Ou seja, teria havido um impacto muito forte, que não indica o padrão de quem tenta um pouso forçado, gradual, que teria arrasado várias casas no entorno do acidente. O avião atingiu apenas uma casa e abriu uma cratera de cerca de três metros no solo.
A fuselagem pode dar pistas?
Apesar de o impacto ter destruído o jato, ainda é possível analisar as peças do avião com perícia especializada, para saber se explodiu no solo, no ar, entre outros.
Pode ter havido pane no motor?
Somente as investigações podem determinar se houve esse tipo de falha. Segundo especialistas, o Cessna Citation pode arremeter com um motor apenas, se o outro falhar.
Um problema na ignição poderia ter derrubado o avião?
Segundo especialistas, a ignição não é necessária uma vez que o avião já esteja no ar, por isso, não pode ter sido a causa do acidente.
Um pássaro pode ter atingido as turbinas?
Há urubus na região, mas, mesmo com pássaros na turbina, seria possível o piloto manter a sustentação da aeronave. Como o caso do piloto da US Airways, que realizou um pouso forçado no rio Hudson, em Nova York, após o avião ter se chocado com um bando de gansos, enfraquecem a hipótese.
Quem investiga o caso?
A Aeronáutica apura as causas do acidente, e a Polícia Civil de São Paulo instaurou inquérito para investigar hipótese de homicídio culposo (sem intenção).
Fonte: Rosanne D'Agostino e Isabela Leite (G1)