Gata apresentou problemas de comportamento após voo para Belém.
Companhia aérea diz que está investigando o caso.
O diretor teatral Marcelo Gasparini e a esposa, que estavam se mudando de Campinas (SP) para Belém, decidiram trazer seus gatos através do serviço de transporte animal oferecido por uma companhia aérea. Para contratar o serviço, o casal pagou uma taxa de R$ 325, recebendo autorização para trazer um dos animais dentro da cabine do avião. O outro, por ser maior, foi levado no porão da aeronave.
Ao desembarcar na capital paraense, no último dia 27 de junho, Gasparini ficou revoltado ao constatar a situação em que estava a caixa de transporte e a gata. "A caixa estava toda quebrada, com fitas adesivas e lacres para segurar a grade protetora, além de estar pingando urina. E a minha gata estava muito assustada, mal deixou encostar nela", lembra.
Caixa que transportava gato vinha de Campinas/São Paulo para Belém
Foto: Marcelo Gasparini/Arquivo Pessoal
Segundo Gasparini, ainda no aeroporto de Campinas, o casal já estava preocupado com o fato da gata ter que ir no porão do avião. "Tentamos conversar com os funcionários mas não teve como levá-la na cabine. Mas eles nos garantiram que a gatinha teria tratamento especial, e a moça inclusive me pediu pra acompanhar o transporte até o bagageiro, e vi que realmente, levaram ela com todo o cuidado mesmo", conta.
Ao fazer uma conexão em Brasília, Gasparini solicitou aos funcionários da companhia aérea que dessem água para a gata. "Primeiramente eles negaram, e também não permitiram que eu mesmo o fizesse. Mas aí insisti e eles acabaram deixando, e eu fui lá, e ela bebeu água da minha mão mesmo. A caixa estava em bom estado, ainda. A gatinha estava assustada, claro, mas um estresse comum de viagem", explica.
Os problemas aconteceram a partir daí, segundo Gasparini. "Quando chegamos em Belém, ficamos aguardando instruções de como seria o desembarque dela, porque as caixas com animais não são trazidas pela esteira. Até que trouxeram em mãos a caixa toda quebrada, cheia de adesivos, com um buraco imenso, por onde ela poderia escapar a qualquer momento. Os funcionários me entregaram e foram embora sem dar explicações", afirma.
Animal ficou assustado e ainda apresenta comportamento violento
Foto: Marcelo Gasparini/Arquivo Pessoal
Ao procurar a companhia aérea para fazer uma reclamação no aeroporto de Belém, Gasparini conta que não teve sucesso. "Uma moça registrou uma espécie de boletim de danificação de bagagem, mas nada além disso. Não houve reembolso, nem retratação. Pedi que eles me dessem outra caixa, mas eles disseram que eu teria que comprar uma caixa nova para depois, se fosse o caso, eles me reembolsarem", comenta.
Animal apresentou alterações de comportamento
Mais do que o prejuízo financeiro, Gasparini diz que os danos psicológicos provocados no animal e a situação constrangedora vivida por ele e pela família, são irreparáveis. "Nossa família está estranhando o comportamento da gata, que até tentou atacar várias pessoas que são acostumadas a conviver com ela. É um processo muito triste, porque ela não permite uma aproximação, não deixa a gente fazer carinho, nem brinca, só fica dentro do armário. Eu fui lesado como consumidor, como tutor e como ser humano. O que a gente quer agora é que haja uma retratação, e queremos saber o que aconteceu. Se a empresa oferece este serviço, que o faça de forma satisfatória e comprometida", ressalta.
De acordo com Gasparini, a companhia aérea entrou em contato dias após o ocorrido, somente depois que ele publicou reclamações e fotos do animal nas redes sociais e em um site que agrupa denúncias e reclamações de vários internautas.
Em nota, a TAM informou que adota todos os procedimentos de segurança necessários para o transporte de animais nas aeronaves. A companhia disse ainda, que está apurando o que ocorreu durante o transporte da gata, "que não sofreu nenhum dano físico". A empresa afirma que já entrou em contato com o cliente para eventuais esclarecimentos.
Segundo o advogado Carlos Augusto Rezende Junior, os prejuízos financeiros neste caso são mínimos, se comparados ao dano moral sofrido pelo cliente enquanto consumidor e tutor de um animal de estimação. "Nesta situação há duas esferas de punição por dano moral, uma que diz respeito ao sofrimento que o tutor passou junto com o animal, porque existe uma relação afetiva entre eles, e a outra que compreende o aparente descaso da empresa com a situação, já que não houve nenhuma medida imediata para amenizar a situação, como a substituição da caixa, por exemplo", explica.
Veterinária diz que animais devem ser tranquilizados antes de embarcar
Segundo a veterinária Josyanne Cristine Conceição, o transporte de felinos é muito complicado porque situações de estresse influenciam muito os gatos. "Se malas normais já saem danificadas no aeroporto, imagina um bicho de estimação. Por isso, o transporte de animais, especialmente de felinos, é muito complicado, eles podem ter uma sequela permanente", afirma.
Sobre a alteração de comportamento que a gata do diretor Marcelo Gasparini apresenta atualmente, a veterinária diz que é uma questão fisiológica, e que o animal pode ter sofrido até mesmo uma parada cardiorrespiratória. "O ideal é que este animal passe por uma avaliação imediata. Assim como ela chegou com estresse, poderia ter outros problemas, especialmente problemas respiratórios. A mudança de comportamento pode ter sido por conta de uma parada cardiorrespiratória, que é comum em felinos por conta do estresse", explica.
Em casos de viagem, a veterinária informa que os donos de animais devem pedir um laudo atestando que o bicho de estimação está em bom estado de saúde e com as vacinas atualizadas. "Na volta, o dono pode pedir para outro veterinário periciar o animal para atestar quaisquer mudanças de comportamento. O transporte de animais no avião, inclusive, deve ser feito com tranquilização", explica Conceição.
Fonte: Ingrid Bico (G1 PA)