![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLkXFRmmErRJP7XtCK6rCbiUrY4MmudSe6RnyDMpkqQdhdY5ffoi3U2KGr6i4tw1aSOaTW5iLZU5dnTn1jgjbUvePSQ-aNdmrOiePOyaBEKFBh7Q-NFLe6m0rx_me8iQjQb19MC-iMTNdH/s400/mi_3404969466468928.jpg)
Passageiros esperam até duas horas para poder embarcar
O Aeroporto Internacional de São Paulo é o território mais cosmopolita do Brasil. Cerca de 140 mil pessoas – entre passageiros vindos de 144 cidades e 26 países, funcionários e visitantes – circulam diariamente pelo local. Fincado em Cumbica, bairro do município de Guarulhos a 25 quilômetros do centro da capital paulista, o aeroporto é o mais movimentado da América do Sul e o segundo no ranking da América Latina. Só perde para o da Cidade do México. Sete de cada dez viajantes vindos do Exterior ou que voam para fora do Brasil, passam por Cumbica. Os números superlativos, no entanto, revelam uma estrutura superada. Nos horários de pico, o fluxo de gente costuma exceder em mais de 50% a capacidade dos terminais e os passageiros são obrigados a enfrentar cerca de duas horas de fila tanto no check-in quanto no desembarque internacional – enquanto os órgãos internacionais recomendam uma espera de, no máximo, 30 minutos. Nos últimos dias, ISTOÉ esmiuçou o cotidiano da principal porta de entrada e saída do País. Ouviu especialistas, autoridades do governo, funcionários e passageiros. A equipe de reportagem passou 24 horas consecutivas no aeroporto, entre a quarta-feira e a quinta-feira da semana passada. Testemunhou todo tipo de sentimento e reação: ansiedade, emoção, cansaço, descontração, indignação.
“Os serviços prestados em Cumbica são péssimos”, avalia Anderson Correia, diretor da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Transporte Aéreo. “O conforto e a forma de operação em alguns espaços, como as salas de embarque remotas (em que os passageiros são levados de ônibus às aeronaves) e as de restituição de bagagens, receberiam notas D ou E, segundo critérios internacionais. Estão próximas do colapso.” Viajantes como a paranaense Tatiane Souza, 30 anos, sentem na pele o que essas notas representam. “Foi um absurdo a forma como trataram a minha família”, diz. Por mais de 24 horas, ela tentou embarcar com o marido e os filhos para a Espanha. O calvário começou quando o avião que os trazia de Curitiba não aterrissou em Guarulhos no horário previsto. Quando finalmente a família conseguiu chegar, o embarque para Madri estava encerrado. Juscelino, marido de Eliane, conta que faltavam 25 minutos para o voo decolar, mas os funcionários da TAM não permitiram a entrada dos retardatários.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiY4znXBKQiu0jvn5EtUglNANt3z2XhOK8_B-aEQoqxhNwg4w1VV9MPlhVOLKjqYJ2HPj6oCYs5mlZCiir7bxvh8Q9B191zo6LQmnJ6X0JbOOSsGrSIUdaoY3FhFH3oe0SiVhXjiH1zvX14/s400/mi_3404994556295141.jpg)
A sensação de impotência e descaso que os passageiros experimentam é decorrência do crescimento vertiginoso e desordenado do aeroporto. Desde a inauguração, em 1985, o número de viajantes foi multiplicado por dez e o de pousos e decolagens aumentou quase cinco vezes. Mas os investimentos em infraestrutura foram escassos. O terceiro e o quarto terminais de passageiros, previstos desde a concepção de Cumbica, não saíram do papel até agora. Apenas um deles está em fase de licitação. Se tudo der certo, deve ser inaugurado em 2014, às vésperas da Copa do Mundo. Um estudo do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), divulgado recentemente, mostra que a situação de sete dos 12 aeroportos que servirão as cidades-sede da competição é preocupante. O de Brasília, por exemplo, fechou o ano passado com 12,2 milhões de passageiros – movimento 22% superior a sua capacidade. Mesmo que as obras planejadas sejam concluídas no prazo, é provável que sejam insuficientes. “Nosso maior desafio não é a Copa nem a Olimpíada, é atender ao aumento da demanda normal e as pessoas que já estão voando”, afirma Murilo Marques Barboza, presidente da Infraero, estatal que administra os aeroportos.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPWIhM2IX2GCV9FpLWdUMNraQ-ZO7PUYRqcvMy__PfypAAZvY6OPKGJe7Kge9G5YH4mMGmP5DZXrWXo3uIGbZnm1QUEApE3QsWvi1RzDC_z_FM70aus1VA1hFDfb4b8wOJ11m5MkdWJG1x/s400/mi_3405014407694563.jpg)
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAjN7Myios6utKfu56WQGoLgDThZT0TVu6b6e_weFvYoDAbdoD-5c9TSNnh4JJGOw5xFbjs7UIbuyOjqU_Iw3RlVK7EBUlk3fMhOB4AXgWThz3d6J6DRlYiq3qi7sWRY7y6VkvWRQ8RoGo/s400/mi_3405119032984886.jpg)
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMoH3CzTpo0D2PBPPwYQzlSZHbw-oMVhMf6C9K1hVpsM80wsx74Ah_PtWZ5h_Ccw5BOpv0GB0xsb13rA65HJFS1tGduqG9v9ybppsXRmOczLDMKOMpKFaJEVeK771r5Ppl7h9ic2wRuxI9/s400/mi_3405046873319319.jpg)
Mesmo nos trechos nacionais, em que não é preciso passar pelos controles da Polícia e da Receita, os passageiros penam. A empresária Gisele Ribeiro, 22 anos, levou duas horas para fazer o check-in para a capital do Amazonas na noite da quarta-feira. “Nunca peguei uma fila tão grande em toda a minha vida, que inferno”, reclama. Segundo Francisco Luiz Xavier de Lemos, presidente do Sindicato Nacional dos Aeroportuários, parte da lentidão é fruto da falta de fiscalização. “Muitas vezes, há filas enormes no check-in, e metade dos boxes das empresas aéreas não tem funcionários”, diz. “As esteiras ficam rodando vazias porque as companhias não colocam gente para levar as malas.” Para ninguém sair prejudicado, o aeroporto tem de funcionar como uma orquestra. Se alguém falha, os efeitos são imediatos. “Cumbica precisa incorporar as melhores ferramentas de gerenciamento de pistas e terminais”, acredita Respício do Espírito Santo Júnior, presidente do Instituto Brasileiro de Estudos Estratégicos e de Políticas Públicas em Transporte Aéreo. Segundo ele, um “choque tecnológico” é fundamental para melhorar a movimentação das aeronaves e o conforto dos passageiros.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixjoxJM5LPjpq1xkDwof_GkoFMrdCjQHq-y4UVh3O6uyY00pQE9rM8YHaSQ3XU9gi3Cga5kKiRhJkRTnVsR5Bmj8_yTTYZjBKE5Ir8HCDOqdaZNMYaMqRqKYDhD1Qr6UhEULmIdmLgIobS/s400/mi_3405064568989215.jpg)
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUuv3I9dXPrENGXyaFAj4pKJe37SlMrXUAvJfUins8vab1Q92xIs2N_CIO6s9ntISOdJnqLbAJ4DNMlIAviZPRf-oFaAJ3gli2AGs-Q1MGow_D0_tGncvNV6bmbgU8HvivH6NUdq_XqL-d/s400/mi_3405100061000492.jpg)
Fonte: Solange Azevedo e Alan Rodrigues com a colaboração de Hugo Marques (Revista IstoÉ) / Fotos: Cia. de Foto