Um ano depois do ataque do tráfico ao helicóptero da PM no Morro dos Macacos, no Rio de Janeiro, o jornal EXTRA apresenta histórias exclusivas sobre o episódio no especial 'O Dia do Abate' - parte 1.
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Por volta das 17h, escuta telefônica feita por uma delegacia da Polícia Civil detecta a movimentação dos bandidos do Complexo da Penha. O então diretor do Departamento Geral de Polícia da Capital (DGPC), Ronaldo Oliveira, é avisado e repassa o alerta ao subsecretário de Inteligência da Secretaria de Segurança, Rivaldo Barbosa. Não são produzidos relatórios de inteligência (Relints) por causa da urgência da notícia. A comunicação é feita por celular e radiostransmissor. Mas a Polícia Civil, apesar de saber, não aciona delegacias ou a Coordenadoria de Recursos Especiais (Core).
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- A estratégia estava pronta desde a noite de sexta, mas a intensidade da invasão foi surpreendente - admite Busnello.
O comandante do Grupamento de Ações Táticas (GAT) do 6º BPM, tenente Luiz Fernando Aca, prepara duas equipes, com dez PMs cada. Uma vai para o Macacos e outra para o Morro da Casa Branca. O Batalhão de Policiamento de Choque (BPChoque) envia oito carros em apoio: três (12 PMs) em apoio ao GAT e cinco (20 PMs) à Favela do Arará, dominada pela mesma facção do bando que está partindo para o Macacos. É evidente que a favela não será tomada pelo grupo. São 20h e traficantes do São João, reforçados por Mangueira, Jacarezinho, Manguinhos, Mandela, Vila Cruzeiro, Alemão, Arará e Matriz começam a entrar na terra inimiga. "Às 3h, cinco policiais escutaram disparos vindos do Cruzeiro. Segui com o blindado e não vi traficantes. Saí e esperei clarear", revela Aca, em depoimento.
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O abate é o estopim do caos. A fumaça passeia pela cidade, com dez ônibus e um carro incendiados. A Polícia Civil convoca uma reunião. As portas da sala do chefe Allan Turnowski, à Rua da Relação, estão fechadas. O diretor do Departamento Geral de Polícia Especializada, Rodrigo Oliveira, quer invadir as favelas e partir pra cima dos traficantes. Outro delegado da cúpula pondera e lembra que será difícil segurar a tropa: há risco de matança. Turnowski, que está há seis meses como chefe, decide não invadir favelas. Policiais civis de folga são chamados para cercar Manguinhos, Jacarezinho, Mangueira e Complexo da Penha, pois novos bondes querem sair para reforçar o São João.
O 3º BPM vai às ruas, segundo o depoimento do soldado Willian Noronha - corroborado por um oficial da unidade, somente às 9h30m de sábado. Se junta ao 6º BPM, 9º BPM (Rocha Miranda), BPChoque e Batalhão de Operações Especiais (Bope). Um entra na área do outro. O caos leva à formação do gabinete de crise, na sala do comando do 6º BPM, à Rua Barão de Mesquita. Quinze dias antes, o Rio fora escolhido sede das Olimpíadas de 2016. "Como está o Patrício, do Fênix 3?" e "O que o mundo vai pensar disso tudo?" são as preocupações. O comandante-geral da PM, coronel Mário Sérgio Duarte, inicia a operação Grande Cerco. O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, admite que tinha conhecimento da invasão, mas seu chefe o desmente. Mais de 48 horas, um Fênix abatido e 13 pessoas mortas depois, o governador diz que ninguém sabia.
- Não temos essa informação de que a polícia sabia. Nessa hora, o que mais tem é palpiteiro. Toda hora que estressa, aparecem os urubus para gerar um clima em torno do assunto que estamos tratando com a maior seriedade. Eu e Mariano não temos a informação de que a policia sabia - declarou Sérgio Cabral, na manhã de segunda-feira, dia 19.
Fonte: Fernando Torres, Guilherme Amado e Guto Seabra (Extra) - Fotos (na sequência): Cléber Júnior / Ricardo Leoni / Reprodução