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terça-feira, 2 de março de 2021

Julgamento por acidente do voo AF447 Rio-Paris em 2009 será debatido na quinta

No dia 1 de junho de 2009, um Airbus A330 que viajava entre Rio de Janeiro e Paris caiu no Oceano Atlântico. Todos os passageiros e membros da tripulação - 228 pessoas de 34 nacionalidades diferentes - morreram no acidente.

Os primeiros destroços do avião foram retirados do mar em 2009 (Foto: Reuters)
Acontecerá um julgamento contra a Air France e a Airbus pelo acidente aéreos do voo Rio-Paris de 2009? 

A Procuradoria Geral e os parentes das vítimas tentarão convencer na quinta-feira (4) o tribunal de apelações de Paris a cancelar um arquivamento concedido à companhia aérea e à fabricante de aviões.

A decisão da corte, que não será revelada antes de várias semanas, será fruto de debates que acontecerão a portas fechadas na quinta-feira na capital francesa, quase 12 anos depois do acidente do voo AF447.

No dia 1 de junho de 2009, um Airbus A330 que viajava entre Rio de Janeiro e Paris caiu no Oceano Atlântico. Todos os passageiros e membros da tripulação - 228 pessoas de 34 nacionalidades diferentes - morreram no acidente, o pior na história da companhia francesa.

Em agosto de 2019, depois de uma década de investigações e batalhas de especialistas sobre as causas da tragédia, juízes de instrução franceses ordenaram o fim dos processos contra Airbus e Air France, que haviam sido acusadas em 2011 por "homicídio culposo".

O Ministério Público francês, no entanto, se pronunciou a favor de um julgamento contra as duas empresas.

"Começávamos a perder a esperança e agora vemos a possibilidade de um julgamento", afirmou à AFP Danièle Lamy, presidente da associação 'Entraide et Solidarité AF447' (Ajuda e Solidariedade AF447).

Alain Jakubowicz, um dos advogados da associação, que reúne quase todos os parentes das vítimas francesas, agradeceu "o apoio jurídico e moral muito valioso" do MP.

"Nesta fase, não se trata de decidir se Airbus ou Air France são culpados, e sim sobre os indícios que justificam a realização de um julgamento. É tudo o que as famílias pedem: um debate do contraditório", disse.

"Erros de pilotagem"


No documento de 29 de agosto de 2019, os magistrados consideraram que o acidente se explicava "obviamente por uma combinação de elementos que nunca haviam acontecido e que, portanto, evidenciam perigos que não haviam sido percebidos antes".

As investigações "não levaram à caracterização de falha da Airbus ou Air France em relação (...) com os erros de pilotagem (...) na origem do acidente", consideraram.

Segundo os relatórios dos peritos, o congelamento durante o voo das sondas de velocidade Pitot provocaram uma perturbação nas medições de velocidade do Airbus A330 e desorientou os pilotos, que perderam o controle do avião.

O MP, porém, considera que a companhia "cometeu negligência e imprudência" ao não divulgar a seus pilotos informações suficientes sobre o procedimento a adotar em caso de anomalias relacionadas com as sondas, que permitem controlar a velocidade do avião, após vários incidentes do mesmo tipo nos meses anteriores.

No que diz respeito a Airbus, o Ministério Público considera que a fabricante europeia subestimou "a periculosidade dos incidentes anemométricos após o congelamento das sondas", segundo o jornal Le Parisien.

Após a denúncia da Air France e da Airbus em 2011, as investigações foram prolongadas por uma batalha entre peritos, contestada pelas partes civis que os acusavam de corporativismo por serem procedentes do mundo da aeronáutica.

Enquanto um primeiro relatório de 2012 havia concluído que aconteceram falhas da tripulação, problemas técnicos e falta de informação dos pilotos sobre o congelamento da sonda, um contra-relatório, solicitado pela fabricante, apontou uma "reação inadequada da tripulação" e falhar da Air France.

As partes civis conseguiram a anulação desta segunda avaliação e a reabertura do inquérito. Mas uma terceira e última avaliação de especialistas, em 2017, também destacou "ações inapropriadas na pilotagem manual" e tendeu a isentar a Airbus.

Fonte: AFP


terça-feira, 14 de outubro de 2014

Dois dos três pilotos do voo AF 447 dormiam antes de acidente


Dois dos três pilotos do voo Air France 447 que caiu no oceano Atlântico em junho de 2009 enquanto ia do Rio de Janeiro a Paris estavam dormindo até poucos minutos antes do avião se chocar contra a água e matar as 228 pessoas a bordo.

É o que emerge de uma investigação publicada na edição de outubro da revista britânica "Vanity Fair".

Registros das gravações das conversas na cabine de comando mostram que David Robert, 37, e Marc Dubois, 58, foram descansar e deixaram o Airbus A330 nas mãos do menos experiente dos três, Pierre-Cedric Bonin, 32. Neste momento, a aeronave enfrentava uma forte tempestade tropical, que acabou congelando as sondas de velocidade do avião --chamadas de tubos de pitot. 

Com isso, o Airbus passou a sofrer perda de sustentação, ou estol. Quando isso acontece, os pilotos devem baixar o nariz da aeronave, e não levantá-lo, como teriam feito. Pouco mais de um minuto e meio após o problema com os tubos de pitot, Dubois finalmente entrou na cabine. Em seguida, Robert disse: "F***, nós vamos bater! Isso não é verdade! O que está acontecendo?".

Logo depois, ou ele ou Bonin afirmou "F***, estamos mortos".

Poucos segundos mais tarde, o avião atingiu o oceano. "Se o capitão [Dubois] tivesse ficado na sua posição durante a tempestade, ele teria atrasado seu cochilo em não mais do que 15 minutos, mas, por causa de sua experiência, talvez a história tivesse um final diferente", declarou à "Vanity Fair" o investigador-chefe do caso, Alain Bouillard.

"Mas eu não acredito que ele tenha saído por causa de fadiga.

Isso era um comportamento usual, parte da cultura de pilotagem da Air France. E sua saída não estava contra as regras", acrescentou.

A Air France e a Airbus serão levadas a julgamento na Justiça francesa pelo crime de homicídio involuntário.

Fonte: ANSA via UOL Notícias - Imagem: Reprodução

terça-feira, 3 de junho de 2014

Acidente no voo 447 da Air France completa cinco anos


Na noite de 31 de maio de 2009, o voo AF447, com 228 passageiros a bordo, deixava o Rio em direção a Paris. Eles jamais chegariam a seu destino. Cerca de três horas depois da decolagem, uma série de incidentes técnicos resultou na queda do Airbus A330 da Air France no meio do oceano Atlântico.

Neste fim de semana, no Brasil e na França, duas cerimônias aconteceram em memória às vítimas do acidente. Em Paris, uma homenagem aconteceu às 15h do sábado no cemitério Père Lachaise; e no Rio, flores serão colocadas sobre o monumento construído no Alto Leblon.

As Associações dos Familiares das Vítimas, entretanto, não escondem sua decepção em relação ao último documento divulgado pela Justiça francesa, no processo penal contra a Airbus e a Air France.

Saiba tudo sobre o acidente clicando AQUI.

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sexta-feira, 30 de maio de 2014

AF 447: culpa por acidente opõe Airbus e Air France

Relatório assinado por cinco peritos a que o Terra teve acesso apontam que falha humana foi fundamental para a queda.

Navio retira destroços do mar. Airbus caiu no oceano em junho de 2009
Foto: Marinha do Brasil/Divulgação

No curso da ação para apurar os responsáveis pelos homicídios culposos (sem intenção de matar), a companhia aérea Air France e a fabricante do avião Airbus travam uma batalha em torno das versões para explicar o acidente. 


Em junho de 2012, um relatório assinado por cinco peritos judiciais apontou, ao lado da falha humana, fatores técnicos como causadores do acidente. Os principais erros dos pilotos foram, segundo o documento ao que está em segredo de Justiça e ao qual o Terra teve acesso, foram a incapacidade de entender que a perda dos dados de velocidade havia gerado uma pane de instrumentos e responder corretamente ao alarme de “Stall” (perda de sustentação), que soou repetidas vezes.

Os peritos afirmam que o congelamento das sondas Pitot (sensores de velocidade), que provocou o desligamento do piloto automático, e o mau funcionamento de instrumentos da cabine confundiram os pilotos e os levaram a tomar decisões erradas, provocando a queda do A330-200.

Inconformada com o teor, a Airbus requereu e obteve na Justiça a elaboração de uma contra-análise por outros cinco especialistas independentes. O novo relatório ficou pronto em maio e suas conclusões incendiaram a disputa judicial ao afirmar que houve "predominância de fatores humanos nas causas do acidente” e que a queda "poderia ter sido evitada por ações apropriadas da tripulação".

Após a conclusão da contra-análise, a Air France anunciou que pedirá a anulação da contra-análise sob alegação de que jamais foi procurada pelos técnicos que a elaboraram. Representantes de duas associações de familiares de vítimas francesas e alemãs – que são partes civis no processo – participarão de uma audiência, no início de julho, com os peritos da contra-análise.

O efeito concreto é que apenas para decidir se a contra-análise integrará ou não deverá consumir pelo menos dois meses, retardando ainda mais o curso do processo. De acordo com especialistas ouvidos pelo Terra. O desfecho da ação deverá ocorrer no segundo semestre de 2015 ou em 2016.

A Airbus foi procurada para falar sobre o recurso impetrado pela Air France e informou, por meio de assessoria de imprensa, que não comenta “ações de terceiros”.


A presidente da entidade que representa os familiares franceses, Danièle Lamy, disse que ficou “surpresa” com o fato da conclusão da contra-análise não mencionar o congelamento das sondas de velocidade como marco do início da pane que afetou instrumentos do avião.

“O que queremos saber é porque os pilotos não evitaram a queda. Os relatórios anteriores dizem que eles tiveram que lidar com informações contraditórias e erráticas nos instrumentos”, disse Lamy.

Fonte: Mario Camera (Terra)

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Saiba quais foram as principais razões para a queda do Airbus A330 que causou a morte de mais de 228 pessoas que estavam no voo da Air France 447.

Conheça o Remora 6000, o robô das buscas do AF 447.

Leia mais sobre o acidente com o voo AF 447.

O que a aviação aprende com os acidentes aéreos.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Novo relatório do acidente do voo Rio-Paris confronta Air France e Airbus


A construtora aeronáutica Airbus e a companhia aérea Air France mantêm suas diferenças sobre as causas do acidente que em 2009 provocou a morte dos 228 ocupantes de um voo entre Rio de Janeiro e Paris, após a publicação de um relatório que aponta os pilotos como responsáveis.

A Air France anunciou nesta quarta-feira que pedirá a nulidade desse estudo, elaborado por sete analistas e que indicou que o comportamento dos pilotos fez com que o aparelho caísse no Atlântico no dia 1º junho de 2009, poucas horas após decolar do Rio.

A companhia aérea considerou que a perícia, encomendada pelos juízes relatores do caso a pedido da Airbus, "foi feita de forma unilateral", sem que a companhia "fosse convidada a participar de sua elaboração".

"Os elementos deste relatório fazem uma apresentação parcial falseada das causas do acidente, o que atenta contra os direitos fundamentais e de defesa da Air France", acrescentou a companhia aérea.

Segundo a companhia, o estudo "omite vários elementos que concernem ao funcionamento do avião".

Tanto a Air France, proprietária da aeronave que caiu, como a Airbus, construtora do aparelho, foram indiciadas na causa que segue aberta na França.

O relatório em questão, revelado ontem por diversos meios de comunicação, muda a tese dos dois estudos oficiais feitos até agora e que sustentavam que no dia do acidente falharam elementos técnicos e humanos, o que apontava para uma responsabilidade compartilhada entre a empresa e a companhia aérea.

Esta nova perícia afirma que pode "estabelecer-se claramente o predomínio de fatores humanos nas causas do acidente".

Além disso, os membros da tripulação não aplicaram o procedimento previsto para este tipo de situação.

O relatório se referia diretamente à responsabilidade da companhia aérea e criticava "a ausência de direções claras por parte da Air France" e a "insuficiente formação dos pilotos", também imputável à companhia.

De acordo com as conclusões do Escritório de Investigação e Análise (BEA) emitidas em 2012, o acidente aconteceu depois que o gelo bloqueou as sondas de medição da velocidade do A330, o que fez com que os pilotos desconhecessem esse dado quando atravessavam uma área de turbulências.

Nesse momento não aplicaram o protocolo adequado e elevaram o rumo do avião, até que este perdeu sua horizontalidade, deixou de planar e se colocou em situação de queda livre.

Uma circunstância que não souberam interpretar os pilotos, que acharam que estavam subido quando, na realidade, o avião perdia altura.

Depois do acidente, o modelo de sondas de medição de velocidade que equipava o avião foi mudado em todos os aparelhos, o que prova, segundo a Air France, que não se pode descartar os fatores técnicos como causadores do acidente.

No cenário da disputa entre o fabricante e a companhia aérea está o pagamento das multimilionárias indenizações às famílias das vítimas.

Fonte: EFE via Terra

Air France recorre para anular contra-análise de acidente com voo Rio-Paris

Relatório atribuiu queda do AF 447 a 'reação inapropriada da tripulação'.

Voo que ia do Rio de Janeiro a Paris caiu em junho de 2009, matando 228.


A Air France anunciou nesta quarta-feira (14) que vai apresentar um recurso para anular o relatório de contra-análise judicial que havia sido solicitado pela fabricante europeia Airbus no âmbito da investigação sobre o acidente com o voo Rio-Paris em junho de 2009.

"A Air France constatou que essa contra-análise foi feita de maneira unilateral e não contraditória, em violação ao princípio de processo justo, já que a companhia não foi convidada a participar dos trabalhos dos especialistas", indicou a direção da empresa à AFP.

Clique AQUI para ler a matéria completa.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Relatório mostra que avião da TAM poderia ter caído como o da Air France

Os dois voos apresentaram o mesmo problema, o da perda do funcionamento dos pitots.

Pitot com pedaço de plástico do banner

O voo 3756 da TAM que partiu do Rio em 17 de junho de 2011 com destino a Minas Gerais poderia ter o mesmo destino que o voo 447 da Air France em 1° de junho de 2009, que caiu no mar e resultou na morte de 228 pessoas.

Relatório divulgado pelo Centro de Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) na tarde desta segunda-feira, 30, mostra que o problema que atingiu a aeronave da TAM foi o mesmo que causou a queda do avião francês: a parada de funcionamento dos pitots (aparelhos que medem a velocidade e altura de um avião e servem de referência aos pilotos).

O avião da TAM partiu com 95 passageiros do Aeroporto Santos Dumont com destino a Confins, em Belo Horizonte e, poucos minutos após a decolagem, chocou-se contra um balão de ar. Segundo o relatório do Cenipa, um banner de plástico atrelado ao balão obstruiu os três tubos de pitot do avião. No caso da Air France, os pitots congelaram.

A tripulação da TAM foi informada pelo Controle de Tráfego Aéreo da presença de balões de ar quente nas proximidades do voo, mas, segundo o piloto e o copiloto, não houve tempo hábil para desviar do objeto. O comandante percebeu, então, a perda das referências na cabine e desligou o piloto automático, pousando o avião em Confins manualmente às 9h48.

A visibilidade era boa e, por isso, a tripulação não teve problemas durante o voo, utilizando referências visuais. No caso da Air France, o voo acontecia à noite e sob tempestade, e o avião acabou caindo no oceano.

De acordo com o Cenipa, o comandante da TAM solicitou ao copiloto que desconsiderasse os sinais do painel e eles não relataram aos órgãos de tráfego aéreo qualquer anormalidade. O relatório também afirma que o programa de treinamento da TAM não contemplava capacitação para todas as fases de um voo e não abrangia o recomendando pela Airbus.

A TAM foi notificada na época e afirmou que adotou as correções necessárias. Em nota emitida na noite desta segunda-feira, a acompanhia explica que "a colisão do balão com sua aeronave gerou uma evolução no programa de treinamento dos pilotos da companhia, com a adoção de treinamento específico para situações análogas em todas as fases do voo, e não somente em determinadas situações críticas. Tal treinamento foi incorporado ao programa da empresa em 5 de novembro de 2011, também com a devida aprovação da ANAC."

Fonte: Mônica Reolom (estadao.com.br) - Foto: Cenipa/Divulgação

terça-feira, 4 de junho de 2013

Acidente com avião da Air France que matou 228 pessoas completou quatro anos

O acidente com o voo 447 da Air France, que caiu no Oceano Atlântico quando fazia a rota Rio-Paris, completou na última sexta-feira (31) quatro anos.


A data é marcada pela expectativa dos parentes e amigos das vítimas por justiça e por respostas mais precisas sobre as causas do acidente.

No acidente, morreram 228 passageiros e tripulantes de 32 nacionalidades, incluindo brasileiros. Pelas investigações do Escritório de Investigações e Análises (BEA, na sigla em francês), houve falhas humanas e técnicas.

O avião decolou às 22h29 GMT (19h30 no horário de Brasília) do dia 31 de maio de 2009, do Rio de Janeiro, e caiu pouco menos de quatro horas depois, a cerca de 1,1 mil quilômetros da costa brasileira. Em decorrência da diferença de fuso horário, na França a data do acidente é 1º de junho.

As famílias, no entanto, ainda aguardam respostas para uma série de perguntas em torno do assunto. “Por que há segredo de Justiça na França sobre o assunto? Nós não podemos ter acesso às informações. Ninguém explica a razão do sigilo”, questionou, em conversa com a Agência Brasil, Maaten Van Shuys, que perdeu a irmã no acidente.

Ao lado da dor da perda, a questão prática de enfrentar processos e negociar acordos e indenizações é um capítulo vivido por todas as famílias das vítimas. Maarten contou que algumas famílias conseguiram fazer acordos extrajudiciais para a obtenção das indenizações, outras preferem aguardar a decisão da Justiça.

A Justiça da França já indiciou a Air France, a Airbus e a Thales, fabricante dos tubos Pitot, que permitem medir a velocidade aerodinâmica do avião. “O que se observa como evolução foi a divulgação, no ano passado, do relatório do BEA informando que houve falhas humanas e técnicas”, disse Maarten.

Os parentes e amigos das vítimas mantêm advogados no Brasil e na França para o acompanhamento do processo judicial. Geralmente, uma vez por mês, os advogados são chamados para esclarecimentos. “Estamos sempre em alerta, recebendo informações e trocando dados, não paramos”, disse Maarten. 

Fonte: otempo.com.br (com Agência Brasil) - Foto: AP

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Airbus culpa pilotos pela queda do voo AF447

Airbus culpa pilotos pela queda do voo AF447

Na imagem, equipes de resgate brasileiras retiram pedaços da fuselagem da aeronave, 
em 8 de junho de 2009, apenas uma semana após o acidente que matou 59 brasileiros
Foto: Força Aérea Brasileira/AP Photo

No dia seguinte à divulgação do novo relatório da Justiça francesa, que responsabiliza a Air France e a Airbus por falhas técnicas que causaram o acidente do voo AF447, a fabricante do avião afirmou, nesta quarta-feira (11), que os pilotos tiveram culpa na queda da aeronave. 

Segundo a fabricante Airbus, mesmo com os problemas com as sondas de velocidade Pitot, os pilotos poderiam ter evitado o acidente. As informações são do canal da TV francesa TF1. 

A fabricante declarou que a trajetória escolhida pelos pilotos é "contestável": outros aviões voavam naquela região pouco antes do acidente e optaram por mudar radicalmente a trajetória, enquanto os pilotos do AF447 só alteraram a rota ligeiramente. 

Ainda segundo a Airbus, "não saberemos jamais se os pilotos seguiram as instruções de voo, pois não havia câmeras na cabine".

Justiça

O relatório da Justiça francesa, divulgado na terça-feira (10), responsabilizou a Air France e a Airbus pelo acidente que derrubou o voo AF447 e deixou 228 mortas, em 2009. 

O documento afirma que as empresas são responsáveis pela falha dos equipamentos da aeronave — o que inclui os sensores de velocidade Pitot, que congelaram durante o voo.  


Na semana passada, o Escritório de Investigação e Análise (BEA, na sigla em francês) divulgou seu relatório final, indicando que a tragédia foi causada por uma combinação de problemas com os sensores de velocidade e por erros de pilotagem. 

Os investigadores do BEA destacaram que o problema com os sensores já era conhecido antes do acidente. Além disso, o órgão francês afirmou que há um problema na formação dos pilotos em todo o mundo e que ninguém saberia como lidar com a situação que os pilotos enfrentaram durante o voo AF447. 

A Airbus e a Air France são investigadas desde 2011 por homicídio involuntário.

Fonte: R7

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Veja última conversa entre pilotos do AF 447 registrada pela caixa-preta

'Nós vamos bater. Isso não pode ser verdade', diz piloto durante queda.

França conclui investigação de acidente que deixou 228 mortos em 2009. 

Quatro segundos antes do Airbus da Air France bater contra o Oceano Atlântico em 2009, deixando 228 mortos, o copiloto menos experiente, Pierre-Cedric Bonin, de 32 anos, percebeu que o acidente era inevitável e disse: "Nós vamos bater! Isso não pode ser verdade". 

A última conversa registrada pela caixa-preta na cabine foi divulgada nesta quinta-feira (5) pelo BEA (Escritório de Investigação e Análises) junto com o relatório final sobre a tragédia do voo AF 447. A investigação concluiu que falhas humanas e técnicas, como o congelamento dos sensores de velocidade pitot, o automatismo do Airbus, além de falhas no treinamento da tripulação e na coordenação da cabine, provocaram a tragédia. 

Nos segundos finais, Bonin passa o controle da aeronave para o copiloto mais experiente, David Robert, de 37 anos e com 6.547 horas de voo. 

O comandante de bordo, Marc Dubois, de 58 anos e com quase 11 mil horas de voo, retorna à cabine do descanso durante a crise no voo e não assume os comandos. 


Veja abaixo o último trecho da conversa entre os pilotos: 

2h11min21 - Robert - Nós ainda temos os motores. O que está acontecendo (...)? 

2h11min32 - Bonin - (...) eu não tenho mais os controles do avião. Eu não tenho nenhum controle do avião. 

2h11min38 - Robert - Vire à esquerda 

2h11min41 - Bonin - Eu tenho a impressão (que temos) a velocidade 

2h11min43 - (Barulho de abertura da porta da cabine) Dubois - O que vocês estão fazendo?

Robert - O que está acontecendo? Eu não sei, eu não sei o que está acontecendo 

2h11min52 - Dubois - Então peguem os comandos logo 

2h11min58 - Bonin - Acho que temos um problema, que tem muita variação. 

Dubois - Sim.

Bonin - Não tenho mais nenhuma indicação 

2h12min04 - Bonin - Tenho a impressão que nós estamos numa velocidade maluca, não? O que vocês acham? 

2h12min07 - Robert - Não sei, mas não solte (...)

2h12min13 - Robert - O que você acha? O que você acha? O que devemos fazer? 

2h12min15 - Dubois - Eu não sei. Está descendo. 

2h12min26 - Robert - A velocidade? 

2h12min27 - Robert - Você está subindo. Você está caindo, caindo, caindo 

2h12min30 - Bonin - Mas eu estou caindo? 

Robert - Caindo 

2h12min32 - Dubois - Você está subindo 

2h12min33 - Bonin - Eu estou subindo? Ok, então vou descer 

2h12min42 - Bonin - Quanto subimos? 

2h12min44 - Dubois - (...) não é possível! 

2h12min45 - Robert - Como está a altitude? 

Bonin - Estamos caindo ou não? 

Robert - Agora você está caindo 

Dubois - Coloque as asas na horizontal 

Bonin - É o que estou tentando fazer 

Dubois - Coloque as asas na horizontal 

2h13min25 - Bonin - O que está havendo... Por que nós continuamos caindo? 

2h13min28 - Robert - Tente encontrar um jeito de acionar os comandos lá pra cima, os principais etc. 

2h13min36 - Bonin - Nove mil pés 

2h13min39 - Robert - Sobe, sobe, sobe, sobe 

2h13min40 - Bonin - Mas eu estou empinando já há algum tempo 

Dubois - Não, não, não, não suba mais

Robert - Agora caindo 

2h13min45 - Robert - Então me passe os comandos, me dê os comandos 

2h13min46- Bonin - Siga, você tem o controle 

2h14min05 - Dubois - Atenção, você está subindo. 

Robert - Estou empinando? 

Dubouis - Você está subindo 

Bonin - Bem, é o que nós devemos fazer, estamos a 4 mil pés 

2h14min18 - Dubois - Então puxa. Agora, tire! 

2h14min19 - Bonin - Puxa, puxa, puxa, puxa 

2h14min23- Bonin - Nós vamos bater! Isso não pode ser verdade... 

2h14min25- Bonin - Mas o que está acontecendo? 

2h14min28 - Fim das transmissões.



Fonte: G1

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Indenizações do voo AF447 são maiores no Brasil, diz advogado


Mais de dois terços das famílias no Brasil já fecharam acordo com seguradora. 

Três anos após o acidente com o avião da Air France que fazia o trajeto Rio de Janeiro-Paris, as indenizações dos parentes das vítimas do voo AF447 estão mais avançadas no Brasil, onde a maioria dos familiares optou por acordos com a seguradora, a Axa Corporate Solutions, do que no resto do mundo, segundo informações obtidas pela BBC Brasil. 

De acordo com a Axa, mais de dois terços das famílias brasileiras já receberam indenizações por meio de soluções amistosas. Na França, até o momento, apenas 20% das famílias receberam indenizações por danos morais e materiais decorrentes do falecimento de parente, informa a seguradora. 

O voo AF447 da Air France, que caiu no Atlântico em 2009 após decolar do Rio de Janeiro, tinha a bordo 228 pessoas de 32 nacionalidades, a maioria franceses e brasileiros. 

No voo, estavam 72 franceses (incluindo 11 membros da tripulação) e 59 brasileiros, sendo um deles comissário de bordo. Segundo a Axa, globalmente, quase a metade dos familiares das vítimas do voo já foi indenizada após realizar acordo com a seguradora. Cerca de um terço dos familiares entraram na Justiça.

A Axa afirma que as negociações para chegar a uma solução amistosa continuam em relação a 'uma grande parte' desses casos judiciais. O advogado João Tancredo, com escritório no Rio de Janeiro, que representou 15 famílias que entraram com ações contra a Air France, conta que já obteve o pagamento das indenizações por meio de acordo com a seguradora em 12 desses casos. Os demais foram fixados pela Justiça. Ele explica que o primeiro passo é o processo judicial e que, a partir disso, se tenta o acordo com a seguradora, antes de um eventual recurso na Justiça.

Valores maiores no Brasil 

Segundo Tancredo, os valores pagos no Brasil estariam acima dos que vêm sendo concedidos, também por meio de acordos, em outros países da Europa e nos Estados Unidos. Ele diz ter obtido US$ 30 milhões nos 15 casos que representou - mais de um quarto dos pedidos de indenização no Brasil - , o que dá uma média de US$ 2 milhões por família (trata-se de uma média, já que os valores variam segundo a renda da vítima e número de parentes com direito à indenização).

'Nos Estados Unidos, a média tem sido de US$ 1 milhão por família e, na Europa, segundo informações que obtive, os valores poderiam ser ainda menores', diz ele.

A Axa não informou os montantes das indenizações, afirmando se tratar de um assunto sigiloso. O advogado afirma ter obtido acordos que preveem o pagamento de 800 salários mínimos por danos morais a cada um dos filhos, cônjuge e pais de uma vítima e indenizações também por danos morais de 300 salários mínimos para outros parentes, como irmãos, netos e sobrinhos.

De acordo com esses cálculos, uma família, por exemplo, com esposa, três filhos e pais da vítima recebe no Brasil, no total, 4,8 mil salários mínimos (quase R$ 3 milhões) por danos morais, diz Tancredo. Já os prejuízos materiais são calculados em função da renda e da esperança de vida da pessoa, se tinha dependentes e outros critérios econômicos.

Tancredo explica que o parâmetro para os valores fixados nos acordos no Brasil surgiu após uma decisão da Justiça do Rio de Janeiro, em 2010, que concedeu mil salários mínimos por danos morais aos pais de uma vítima e 300 salários mínimos ao irmão, além de uma pensão por danos materiais.

A Air France entrou com recurso, mas o caso não foi julgado porque houve acordo com a Axa, o que acabou servindo como referência para as negociações posteriores. Os montantes obtidos em acordos por famílias que entraram na Justiça são superiores aos fixados por comissões de soluções amistosas, que foram criadas em vários países.

No Brasil, essa comissão, integrada pelo ministério da Justiça, fixou 500 salários mínimos por danos morais, que deveriam ser divididos pelo total de parentes, diz Tancredo. Investigações judiciais Na França, muitos parentes estariam aguardando os resultados das investigações realizadas pela Justiça, que deverão ser divulgadas em 10 de julho, para entrar com ações.

A Air France a Airbus já foram indiciadas por homicídio culposo nesse inquérito. Segundo a imprensa francesa, as investigações judiciais deverão apontar falhas humanas, mas também problemas técnicos. Nesse caso, a responsabilidade das empresas no acidente poderá influenciar os montantes das indenizações em ações judiciais para obter reparação dos danos.

Fonte: BBC via UOL Notícias

Familiares criticam relatório final sobre queda de AF447


Presidente de associação afirma que relatório minimiza falhas técnicas 

Familiares e especialistas ouvidos pela BBC Brasil que se reuniram na manhã desta quinta-feira (5) com os investigadores das causas do acidente com o voo AF 447 da Air France criticaram as conclusões finais do órgão sobre o ocorrido. 

Segundo eles, o órgão francês não dá destaque para as falhas nos sensores de velocidade do avião no relatório, divulgado nesta quinta-feira. 

O conteúdo do relatório foi apresentado aos parentes das vítimas antes de ser divulgado, no início da tarde (horário francês). 

O relatório diz que a queda do Airbus, que resultou na morte de todas as 228 pessoas a bordo, foi causada por uma combinação de erros humanos e falhas técnicas. 

O documento afirma que o piloto automático se desligou duas horas após o início das turbulências. Em seguida houve falhas no altímetros e nos sensores de velocidade. 

Seguindo os investigadores, o comandante e os co-pilotos não reagiram de maneira adequada à situação que o avião enfrentava. 

Para muitos familiares e também pilotos e especialistas, o principal fator que desencadeou a tragédia foi o congelamento das sondas pitot (sensores de velocidade) em alta altitude, que provocaram a perda dos indicadores de velocidade do voo e o desligamento do piloto automático. 

"O entupimento das sondas pitot por cristais de gelo não é uma pane e sim um defeito de fabricação resultante de normas de certificação obsoletas", disse o ex-piloto e especialista Gérard Arnoux.

Nelson Marinho, presidente da associação de familiares AFVV447, diz que o relatório final do BEA (Escritório de Investigações e Análises, na sigla em francês) minimiza as falhas nas sondas pitot e diz que boa parte das conclusões apontam que "os pilotos foram culpados de tudo porque não tinham treinamento adequado". 

"Não foi falha humana e sim do equipamento da Airbus. Culpar o piloto é muito fácil. Esperava que a França fosse falar abertamente a verdade: que a Airbus falhou e que eles vão corrigir esse avião", diz Marinho. 

Pilotos 

Corinne Soulas, esposa do presidente da associação francesa de vítimas, que participou da reunião com o BEA nesta manhã, também afirma que o papel das sondas pitot na tragédia não é destacado pelo BEA em seu relatório final.

Mas, assim como Arnoux, que foi piloto de aviões Airbus durante 17 anos e comandante da Air France, ela acha que o BEA atenuou os erros dos pilotos em relação ao relatório preliminar anterior, divulgado em julho passado.

"O BEA reconhece agora que algumas falhas dos pilotos foram causadas por erros nos equipamentos, como no diretor de voo (que mostra ao piloto a rota a ser mantida), que não transmitia os dados corretos aos pilotos e por isso eles agiram daquela forma", disse Arnoux à BBC Brasil. 

As conclusões técnicas do BEA divulgadas nesta quinta resultam da análise aprofundada das duas caixas pretas do avião (com parâmetros técnicos do voo e de sons da cabine) e também de equipamentos do Airbus resgatados no ano passado, como os computadores de bordo e parte da cabine de pilotagem. 

O voo AF 447 da Air France caiu no Atlântico no dia 31 de maio (pelo horário brasileiro) menos de quatro horas após decolar do Rio com destino a Paris, matando 228 pessoas. 

Em julho do ano passado, no terceiro relatório preliminar sobre as causas do acidente, o BEA já havia apontado falhas nas ações dos pilotos após o congelamento das sondas pitot em alta altitude, que provocaram a perda dos indicadores de velocidade do voo e o desligamento do piloto automático. 

O avião perdeu a sustentação e despencou de uma altura de 11 mil metros a uma velocidade vertical de 200 Km/h. A queda do Airbus A330-200 durou apenas três minutos e meio.

A decisão do co-piloto de elevar o nariz do avião para ganhar altitude, após o início da pane e da perda de sustentação do avião, não corresponde aos procedimentos normalmente seguidos nesse caso.

Especialistas apontam que o correto seria baixar o nariz do avião para que ele recuperasse a velocidade e, dessa forma, retomasse a sua sustentação.

Mas especialistas também afirmam que a ação dos pilotos pode ter sido afetada pela perda dos indicadores de velocidade e por problemas no alarme de perda de sustentação do avião, que disparou e foi suspenso várias vezes, o que pode ter confundido os pilotos.

Muitos familiares diziam que as conclusões finais do BEA, criticado por sua falta de independência (o Estado francês é acionista da Air France e da Airbus), dariam destaque aos erros dos pilotos, o que eles contestam.

"O entupimento das sondas pitot por cristais de gelo não é uma pane e sim um defeito de fabricação resultante de normas de certificação obsoletas", diz Arnoux.

Fonte: R7 - Foto: AP

Para famílias, relatório francês frustra ao ser genérico, mas pode ser útil em ação judicial

O relatório do Escritório de Investigação de Acidentes Aéreos da França (BEA, na sigla em francês) sobre o voo 447 da Air France, que caiu no oceano Atlântico em junho de 2009 matando os 228 ocupantes a bordo, pode não ter sido enfático ao culpar a empresa Airbus, fabricante da aeronave, pela tragédia do jeito que as famílias das vítimas esperavam, mas também não foi completamente frustrante. O documento foi divulgado hoje na França e apontou erros dos pilotos, falha mecânica e falta de treinamento da equipe. 

Para Maarten van Sluys, irmão de uma das vítimas do acidente e um dos fundadores da Associação de Parentes de Vítimas Brasileiras do AF 447, o relatório relativiza a culpa dos pilotos na tragédia. 

Além disso, ao contrário dos três documentos parciais divulgados pelo BEA, pela primeira vez o órgão francês fez recomendações de mudanças técnicas nas aeronaves, o que, na visão de Sluys, mostra que a fabricante do avião teria uma parcela de culpa no acidente. 

"O BEA não tem como função atribuir responsabilidade pelo acidente. O objetivo do relatório é o de fazer recomendações. Temos que ter isso em mente quando vamos analisar o documento", disse. 

Segundo Sluys, outra recomendação importante que o relatório do BEA faz é a de mudanças no treinamento de pilotos, que é de responsabilidade da fabricante do avião e da companhia aérea para quem eles trabalham. 

"A situação ocorrida no voo 447 nunca aconteceu em exercícios de simulação. Os pilotos devem estar preparados para esse tipo de situação", falou. 

Agora, a esperança dos familiares é que o relatório do BEA possa influenciar a decisão da Justiça francesa. Na próxima terça-feira (10), as famílias terão uma audiência com a juíza que cuida do caso e esperam que o relatório judicial atribua a culpa do acidente à Air France e à Airbus. 

Presidente esperava mais 

Antes da apresentação oficial do relatório, Nelson Marinho, presidente da Associação de Parentes de Vítimas Brasileiras do AF 447, se mostrou frustrado com a conclusão do BEA. 

Em Paris, Marinho teve acesso ao documento antes da apresentação e falou que esperava mais contundência do órgão francês em relação ao papel que os erros mecânicos tiveram na queda da aeronave.  

"Eles [o BEA] estão querendo preservar a Airbus. É um absurdo. O capital está falando mais alto do que a vida", revoltou-se. 

Para Marinho, a única diferença que o relatório trouxe foi a recomendação de treinamento para os pilotos. 

"O BEA diz que os pilotos precisam de mais treinamento. Todo mundo sabe que um voo tem dois momentos críticos: a decolagem e o pouso. O voo AF 447 caiu quando estava em velocidade de cruzeiro. 

A habilidade de nenhum piloto experiente salvaria este voo", disse. Apesar da frustração, Marinho diz que a luta das famílias "pela verdade" continuará, já que um acidente como esse deve servir para melhorar a segurança dos voos. 

"Perdi meu filho nesse acidente. Temos que tirar uma experiência disso para melhorar os voos", contou. 

Fonte: Thiago Varella (UOL)

AF 447 - Resumo do Relatório final


Segundo o BEA, o acidente resultou de seis eventos: 

1) A temporária inconsistência entre as velocidades medidas, presumivelmente como resultado da obstrução das sondas Pitot por cristais de gelo, o que, entre outras coisas, resultou na desconexão do piloto automático e na reconfiguração para Alternate Law; 

2) Os inapropriados comandos aplicados nos controles, o que desestabilizou a trajetória de voo; 

3) A falta de qualquer ligação estabelecida, pela tripulação, entre a perda das informações de velocidade indicada e o procedimento previsto; 

4) A identificação tardia, pelo copiloto, do desvio da trajetória de voo e a correção insuficiente comandada pelo piloto; 

5) A falha da tripulação em identificar a aproximação do estol [perda de sustentação aerodinâmica], a falta de resposta imediata e a saída do envelope de voo; 

6) A falha da tripulação em identificar a situação de estol e, por consequência, a ausência de comandos que permitissem a recuperação da aeronave. 


Ainda segundo o BEA, estes eventos podem ser explicados pela combinação de falhas técnicas e falha dos pilotos, entre elas: 

- A falta de um modelo de risco que incluísse o congelamento dos tubos de Pitot e suas consequências; 

- A falta de treinamento prático de pilotagem manual em altitude elevada e no procedimento previsto para falhas de indicação de velocidade; 

- Incompreensãoda situação quando do desligamento do piloto automático e mau gerenciamento do efeito surpresa, que resultou em alto nível de estresse dos dois copilotos; 

- A falta de uma indicação clara, na cabine de pilotagem, da inconsistência na indicação de velocidades, identificada pelos computadores; 

- A falha da tripulação em levar em consideração o alarme de estol [falta de sustentação], que pode ter sido causado por, entre outros fatores: falha na identificação do alarme sonoro; falta de informação visual que permitisse confirmar a aproximação do estol após a perda de indicação de velocidade; uma possível confusão sobre as condições de velocidade; falha dos equipamentos, que podem ter confirmado à tripulação que seus comandos estavam corretos, apesar de inapropriados 


Fonte: UOL

Relatório do AF 447 recomenda ao Brasil melhoria do controle aéreo

O relatório final sobre a tragédia do voo AF 447, que matou 228 pessoas há 3 anos, recomenda que o Brasil melhore o sistema de controle do tráfego aéreo para que possa ver e trocar informações via satélite com aviões sobre o Oceano Atlântico. O documento foi divulgado nesta quinta-feira (5) pelo BEA (Escritório de Investigação e Análises), em Paris.

Peça encontrada pela equipe brasileira de resgate, em junho de 2009 - Foto: AFP

O Airbus A330 da Air France caiu em águas internacionais, em região sem cobertura por radar e onde a comunicação via rádio é ruim. A falta de monitoramento via satélite provocou a demora das autoridades em perceber o sumiço do avião e dificultou a localização dos destroços e das vítimas, de acordo com a investigação do BEA. 

O comunicado da empresa aérea só foi feito 6 horas depois. O BEA diz que o Brasil não transferiu o monitoramento do AF 447 para o Senegal e que os dois países não trocaram informações após o desaparecimento da aeronave nos radares. 

Outra recomendação ao Brasil é em relação a busca e salvamento no mar. O relatório aponta que Brasil e Senegal não conheciam, até então, os recursos de resgate um do outro e que não havia nenhum plano para ação conjunta em caso de acidente na área. Foi por isso que, segundo a investigação, a primeira parte da aeronave só foi localizada 5 dias depois. 

As 2 recomendações relacionadas ao Brasil estão entre as 25 que o BEA divulgou nesta quinta. Esses registros não estão relacionados diretamente com o acidente. O documento aponta que uma combinação de falhas técnicas e humanas foi o motivo do desastre no dia 1º de junho de 2009. O G1 antecipou as conclusões do documento no início de junho. 

Segundo o órgão de investigação, até a queda do AF 447, as autoridades que controlavam o espaço aéreo brasileiro consideravam como “normal” as falhas na cobertura de rádio na região. 

O AF 447 não estava ligado aos sistemas de monitoramento via satélite que poderiam ter facilitado a rápida visualização do acidente, segundo o BEA. O G1 questionou a Força Aérea Brasileira sobre a implantação dos sistemas no Brasil e por que o Airbus que caiu não estava conectado, mas não recebeu resposta. 

Melhorias após o acidente

As duas recomendações feitas ao Brasil foram melhoradas após o acidente. Segundo o BEA, as autoridades aeronáuticas brasileiras e senegalesas tornaram obrigatório o uso sobre o Oceano Atlântico dos sistemas ADS-C e CPDLC. 

O primeiro deles permite o envio de informações entre o controlador e o piloto em áreas remotas em que não haja comunicação via rádio. A troca de dados é feita via satélite e a partir da conexão da aeronave a um sistema. Assim, o piloto pode receber atualizações meteorológicas e também enviar rápidos alertas sem a necessidade de conversar com o controlador. O CPDLC é mais amplo e, além de troca de informações, fornece ainda a visualização da rota da aeronave. 

A ICAO (Organização Internacional de Aviação Civil) pediu que Senegal e Brasil "acelerem “ implementação operacional total dos sistemas de controle e comunicação que permitam a permanente e eficiente troca de informações”. 

Falha no controle 

Após decolar do Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, na noite de 31 de maio, o avião passou a ser monitorado Cindacta do Recife. Através dos relatos de conversas da cabine gravados pela caixa-preta, a investigação apontou que controlador de voo de Recife fez inicialmente contato com a tripulação do AF 447 acreditando ser outro voo, também da Air France, que havia partido de São Paulo no mesmo horário. O comandante percebeu o erro e avisou. 

Minutos depois, o controlador passou uma nova frequência de rádio que a tripulação deveria usar para fazer contato com Senegal. O comandante repetiu os números (a ação é chamada de cotejamento), mas trocou 1 dos 12 dígitos. O controlador no Recife não percebeu o erro. 

A partir daí o controlador brasileiro tentou contato – sem êxito – três vezes com o AF 447. Ele não avisou o controle aéreo de Senegal em que momento a aeronave deveria passar para a região do país africano. 

O site do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), da Aeronáutica, diz que o ADS-C foi implantado na área que cobre o Oceano Atlântico em junho de 2009, mês em que o AF 447 caiu no mar. Questionada pelo G1, a Força Aérea não divulgou a data em que o sistema começou a operar. 

 Fonte: Tahiane Stochero (G1)

Voo AF 447 caiu após falhas técnicas e humanas, aponta relatório final

Como divulgou o G1, automatismo e treinamento interferiram na queda. 

Piloto tomou atitude errada em tragédia que deixou 228 mortos em 2009. 

Jean-Paul Troadec, chefe do BEA (com o microfone), e Alain Bouillard, 
investigador do voo 447 - Foto: Benoit Tessier/Reuters

Uma combinação de erros humanos e falhas técnicas provocou o acidente do voo AF 447 da Air France, que deixou 228 mortos em junho de 2009 ao cair no Oceano Atlântico, segundo apontou o relatório final divulgado na manhã desta quinta-feira (5), em Paris, pelo BEA (Escritório de Investigação e Análises), órgão francês encarregado das investigações. O G1 divulgou algumas das conclusões da investigação no início de junho. 

Os pilotos não entenderam que o avião havia entrado em situação de estol (perda de sustentação) e começado a cair por esse motivo, de acordo com o diretor do órgão, Jean Troadec. Ele afirmou ainda que, nos momentos finais, era praticamente impossível reverter a queda. "Não esperem que a gente aponte responsabilidades", disse. 

O BEA divulgou uma sequência de fatores que contribuíram para a queda: primeiro, a incoerência nas informações de velocidade, devido ao congelamento dos sensores pitot, provocou a queda do piloto automático. 

Em seguida, a tripulação não entendeu o que ocorria com o Airbus e tomou uma atitude errada, levando à queda da aeronave no Oceano Atlântico. Eles não haviam sido treinados para atuar nessa situação de perda de informações de velocidade e de pilotagem manual em alta altitude. 

"Ações de comando desestabilizaram o avião, que entrou em uma queda anunciada", disse o o investigador do caso, Alain Boillard. "Essas ações bruscas e excessivas não são adequadas para um voo de alta altitude, sobretudo a ação de inclinação do bico da aeronave", acrescentou. 


Recomendações 

O BEA fez 25 recomendações para tentar evitar acidentes semelhantes, entre eles a melhoria no treinamento dos pilotos em momentos de crise e no simulador da Airbus, "para ficar mais realista".

Outra sugestão é para a Airbus "rever a lógica do sistema de controle da aeronave". Segundo o relatório, os pilotos não entenderam que o avião estava caindo porque estavam em uma forma de controle sem proteção contra perda de sustentação. 

O BEA também recomendou mudanças no controle do tráfego aéreo brasileiro e na coordenação de resgate em caso de acidentes no Oceano Atlântico. 

Os investigadores apontaram que o comandante do AF 447 deixou a cabine sem fazer uma divisão de tarefas entre os copilotos. "Não houve a definição de nenhuma estratégia sobre como atravessar a tempestade. Quando o comandante sai, os pilotos falam sobre o radar e decidem fazer uma leve inclinação na trajetória à esquerda (entrando mais para o núcleo da tempestade)", declarou. 

Hipótese para o erro

O investigador divulgou pela primeira vez uma hipótese que poderia indicar o motivo do copiloto mais novo ter adotado uma atitude errada, elevando o bico do avião. "Ele poderia estar entendendo que estava em uma situação de alta velocidade, possivelmente por conta da questão aerodinâmica", disse Boillard. Ao elevar o bico do avião e ganhar altitude, o avião poderia diminuir a velocidade. 

Dados da caixa-preta apontaram que o avião perdeu sustentação (estol) porque começou a subir e a velocidade diminuiu demais. A ação correta, em caso de perda de sustentação, seria descer para ganhar velocidade. 

Segundo o relatório final, os pilotos podem ter ignorado o alarme de estol e não entendido que o avião caía por acreditarem que seriam sinais espúrios e que o Airbus estava em um modo de voo com proteção contra a perda de sustentação. 

Para o BEA, eles podem ter se confundido ao entender que a excitação e o tremor que sentiam na cabine durante a perda de altitude (fenômeno chamado de buffet) ocorria porque o avião estava velocidade muito alta. A determinação do copiloto em colocar o bico do avião para cima teria ocorrido como objetivo diminuir a velocidade. O fenômeno é um dos primeiros que ocorre quando a aeronave atinge excesso de velocidade. 

Alain Bouillard, investigador do BEA apresenta relatório final 
sobre acidente do voo 447 - Foto: Benoit Tessier/Reuters

O relatório foi divulgado primeiramente para os parentes de vítimas. Para o presidente da Associação de Parentes de Vítimas brasileiras do AF 447, Nelson Marinho, o relatório confirmou que os pilotos "não estavam aptos para entender e responder ao problema”. "Vemos o BEA fugindo da verdadeira causa do acidente. O automatismo foi a principal causa”. Ele lembra que, “naquela noite, o único voo que foi em frente na direção das nuvens foi o AF 447. Eles não souberam explicar o motivo”, diz. 



Fonte: G1

terça-feira, 26 de junho de 2012

Ex-chefe do Cenipa defende que FAB pare de investigar acidentes civis

Jorge Kersul chefiou órgão que apurou casos de Gol, TAM e Air France.

Investigar acidente aéreo 'não dá ibope e é encargo que ninguém quer', diz.


O brigadeiro Jorge Kersul Filho, que até 2010 chefiava todas as investigações de acidentes aéreos no Brasil, contou pela primeira vez, em detalhes, o que viu e o que levou em conta durante as tragédias da Gol, da TAM e da Air France que, em um curto período - de 2006 a 2009 - causaram juntas 558 mortes.

Em sua primeira entrevista desde que deixou o comando do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), em abril de 2010, Kersul defendeu, em entrevista exclusiva ao G1, que seja criada uma nova agência para apurar as tragédias aéreas. Desta vez, fora das mãos dos militares.

Clique nos links abaixo e assista as reportagens:




“A investigação de acidentes da aviação civil deve sair da Força Aérea Brasileira. Esse é um encargo que ninguém quer, não traz benefício algum, não traz nenhum ibope, não há por que ficar com a FAB. Vamos continuar fazendo bem e de forma independente enquanto estiver conosco a obrigação, doa a quem doer. A FAB deveria cuidar da própria FAB, para que sejamos realmente um país que imponha respeito”, afirmou Kersul, na entrevista concedida em sua casa, em Brasília.

Pela proposta, seria criada uma agência destinada à prevenção e à investigação de acidentes da aviação comercial civil empregando ex-militares que já atuaram no Cenipa e que poderiam, no início, treinar pessoal qualificado para continuar o trabalho. “Eu não acho que os militares devam continuar com essa responsabilidade. Quando eu estava no Cenipa, fizemos uma proposta para criar esse órgão e a tarefa sair do comando da FAB. A ideia foi para o Ministério da Defesa e deve estar lá”, diz o oficial.

Para ele, a diferença hierárquica atrapalha o relacionamento entre os órgãos que atuam hoje no sistema aéreo e é o principal motivo que explicaria a investigação de tragédias da aviação civil deixar de ser atribuição do Cenipa.

“Até a década passada, tudo relacionado à aviação no país estava com o Ministério da Aeronáutica. O Estado brasileiro tirou da gaveta uma agência para a aviação civil, a Anac. A Infraero (empresa que administra os aeroportos) também saiu debaixo da Aeronáutica. Foi criada a Secretaria de Aviação, com status de ministério, enquanto que o Cenipa é um órgão dentro do Comando da FAB que está subordinado ao Ministério da Defesa. Há uma diferença de estrutura que gera um conflito”, aponta.

Histórias

Kersul passou para a reserva em abril, a seu pedido. Deixou a Aeronáutica levando na memória as dificuldades enfrentadas para a retirada da mata dos corpos das 154 vítimas de um Boeing da Gol, que caiu em Mato Grosso em 2006, as buscas pelas caixas-pretas de um Airbus da TAM, que explodiu ao sair da pista em Congonhas (SP), deixando 176 mortos em 2007, e a tarefa de localizar outro Airbus, agora da Air France, que desapareceu no mar em 2009, com 228 pessoas a bordo.

O brigadeiro da FAB Jorge Kersul Filho esteve à frente do Cenipa quando ocorreram 
as maiores tragédias na aviação brasileira - Foto: Tahiane Stochero/G1

“Receber a notícia de que houve um acidente de grandes proporções é realmente uma sensação muito desagradável, o pior pesadelo de quem trabalha no Cenipa. Você tem que manter a calma, respirar fundo e raciocinar rápido, fazer o que deve ser feito”, diz ele.

O oficial conta que “é perseguido” por familiares de vítimas do voo Gol 1907, que o acusam do suposto sumiço de pertences na floresta e de ter entregue partes do Legacy para a empresa após perícia. Ele diz que cumpriu a legislação e a devolução ocorreu só três anos após a colisão, porque ninguém queria os equipamentos. "Os dados foram preservados", afirma o brigadeiro.

“Quando ocorre um acidente, quem vai ser punido e criticado é o responsável pelo órgão investigador e o responsável pelo resgate, que passou 50 dias na mata procurando todos os corpos? E eu me pergunto: valeu? No fim das contas, eu ainda diria que valeu à pena (o trabalho)”.

Kersul diz que a decisão de deixar a Aeronáutica ocorreu após uma avaliação da carreira, levando em conta a família e o que já havia feito como militar.

“Fiz um levantamento da minha vida e decidi que deveria procurar outros rumos. Levantei fatores que poderiam contribuir para que eu continuasse ou não (na FAB), como idade, perspectiva de vida, vontades, a aviação, que eu sempre gostei. Completei 40 anos de casa, vejo isso com naturalidade. Não briguei com ninguém e não estou saindo da FAB, apenas deixando o serviço ativo”, explica.

Acusações na tragédia da Gol

Dos três acidentes, o da Gol é o que mais lhe marcou, principalmente porque um familiar acusou a Aeronáutica do sumiço do celular de uma vítima. Segundo Kersul, o parente afirmou a ele que o aparelho chegou às mãos de uma pessoa que conserta celulares, no Rio de Janeiro, dois dias após a tragédia. Pela versão do familiar, o celular teria sido desviado por um militar da Aeronáutica.

Nas horas vagas, Kersul cuida de uma horta nos fundos de sua casa 
Foto: Tahiane Stochero/G1

“Comandei as buscas pelos corpos na mata até que o último fosse encontrado: o senhor Marcelo Paixão, que estava na poltrona 17C. Já tínhamos retirados todos e só faltava ele. Insistia com o IML que ele devia estar lá, mas ainda não havia sido identificado. Mesmo tendo sido assessorado de que não era obrigação nossa, por ordem minha, até que achássemos o último corpo, passaríamos a recolher objetos que encontrássemos na nossa frente. Mas essa não era nossa obrigação”, relembra. 

Dos cerca de 7 mil kg que estavam a bordo, foram retirados da mata 1.650 kg. “A FAB foi lá resgatar corpos. Carga é responsabilidade do operador. Infelizmente, uma parte dos familiares nos cobra isso e não se lembra de que fizemos algo em favor deles. Quem conhece a Amazônia sabe as dificuldades. É difícil você passar o que passou e ver o trabalho jogado no lixo”, diz. 

Brigadeiro chorou durante a CPI do Apagão Aéreo, em 2007, após as críticas de que
militares haviam roubado pertences de vítimas - Foto: TV Senado

Durante a CPI do Apagão Aéreo, em 2007, Kersul chorou ao ser acusado de ter desviado pertences das vítimas. Diz ter pedido à inteligência da FAB para investigar o caso, mas que, como os parentes não passaram informações, a apuração não pôde ser levada adiante. 

“Como você pode fazer uma investigação se não tem nenhuma coisa palpável para começar. Hoje eu sou cobrado por não ter aberto nenhum processo administrativo. Ficamos de mãos atadas (na época)”. 

Para o brigadeiro, nenhum militar “foi para lá roubar ou pilhar os corpos”. “Defenderei sempre que nenhum de nós teve participação nisso. Ninguém saiu da mata até 10 dias após a queda. É impossível esse celular estar no Rio dois dias depois. Esse celular é um mistério para mim. Será que esse celular embarcou neste avião?”, questiona. 

Fatos sem explicação 

Na CPI, outro parente perguntou a ele por que faltava um cartão de crédito na carteira de uma vítima. “Eu não soube explicar isso a ela, da mesma forma que eu não consigo explicar como, em uma árvore de 40 metros de altura, tinha só uma calça pendurada com um celular funcionando dentro. Eu também não consigo explicar como dois aviões conseguem se encontrar a 11 mil metros numa aerovia com pouco movimento”, desabafa. 

“Se tivéssemos que imaginar uma colisão em voo, nunca seria em cima da Amazônia, em uma a aerovia de tráfego normal, com dois aviões novos, com poucas horas de voo, e muito próximas da perfeição em termos de construção”, acrescenta. 

Então, quem errou? A culpa é dos pilotos do Legacy, que desligaram o transponder (localizador) e não evitaram a colisão? “Não existe um ator responsável, nem quem e nem o que errou. Na investigação, trabalhamos com fatores contribuintes. Há uma sequência de eventos que levam ao acidente porque não houve nenhuma barreira forte o suficiente para impedir que esse ela seja interrompida”, diz. 

Para Kersul, a tripulação do Legacy não colocou propositadamente o transponder em “stand-by” (posição de aguardo). “Em algum momento o transponder foi para essa posição, colocado propositalmente ou involuntariamente e voltou a operar normalmente imediatamente logo depois da colisão". Ele lembra uma frase da própria tripulação do Legacy ao religar o transponder logo após a choque com o Boeing da Gol: "É exigir demais do transponder que ele funcione se está em posição de espera”. 

O brigadeiro afirma que os americanos poderiam ver na tela, em mais de um lugar, que o transponder estava desligado. “E isso não foi observado por eles”. 

O oficial também pontua uma falha no controle de tráfego aéreo, que “deixou de observar no radar que havia deixado de receber a informação do transponder” e que poderia ter acionado os pilotos para verificar se havia alguma falha no instrumento. 

Colisão em Congonhas 

O brigadeiro recorda que o Cenipa previu que um acidente poderia ocorrer em Congonhas meses antes da tragédia do TAM JJ 3054. 

Após receber vários relatos de aeronaves que quase saíram da pista, ele convocou uma reunião com empresas aéreas e órgãos envolvidos na operação do aeroporto, em Brasília, na semana entre o Natal e o Ano Novo de 2006, após o acidente da Gol. 

“Alertamos na reunião que um tínhamos um cenário de que um acidente iria ocorrer em Congonhas e restringimos as operações”, lembra. 


A pista passou por reformas, foi liberada, mas continuava escorregadia, com formação de poças de água e risco de derrapagem, conforme relatos de informe de risco realizados por pilotos na época. 

“Quando ocorreu o acidente, fomos duplamente frustrados. Acreditávamos que tínhamos conseguido evitar um acidente que tivesse envolvimento da pista, mas mesmo assim o acidente ocorreu após a reforma, sem interferência direta da pista”, diz. “Imagina como isso foi triste para todos nós”. 

Segundo Kersul, apesar de um dos manetes ter sido mantido na posição de aceleração durante o pouso (como ficou registrado nas caixas-pretas), a pista pode ter contribuído como fator psicológico e também para “o agravamento” do caso. 

“Congonhas é um verdadeiro porta-aviões dentro da cidade. Outros acidentes do mesmo tipo não tiveram um final tão trágico porque a aeronave parou na lama ou em um campo. Mas em todas as simulações feitas, se fossem mantidos todos os fatores, aquela aeronave iria sair da pista em qualquer aeroporto”. 

Julgamentos

Kersul lembra que, quando o Airbus da Air France desapareceu no Oceano Atlântico, a Aeronáutica iniciou os trabalhos de busca e localização até que o acidente, que deixou 228 mortos em 1º de junho de 2009, fosse confirmado. Apesar de críticas dos familiares de que a atuação brasileira foi coadjuvante no caso, ele afirma que o Brasil cumpriu a legislação internacional que determina que, se a aeronave se acidentou em águas internacionais, “a responsabilidade de investigar o caso cabe ao operador, ao fabricante e ao país da bandeira da aeronave. Nesse caso, todos indicavam a França”. 

Brasil iniciou buscas por Airbus da Air France que caiu no Oceano Atlântico em 2009
Foto: Marinha/Divulgação

“O Brasil não teve o papel de coadjuvante ou de ator principal, mas teve a participação que lhe cabia, iniciando as apurações no Recife, coletando as informações iniciais para a França. Estamos fazendo o que é nossa parte pela legislação internacional. O responsável por fazer essa investigação é o estado francês”, afirma.

Após todas as tragédias que acompanhou, ele defende que seja regulamentada uma lei nacional para que as informações obtidas pela apuração não sejam usadas nos tribunais com fins criminais ou de responsabilização civil, como a busca por indenizações. Nesta quarta-feira (27), um evento com familiares de vítimas de acidentes aéreos, investigadores do Cenipa, juízes e Ministério Público debaterá em São Paulo um projeto de lei que trata da questão. 

"A investigação do Cenipa é para prevenção. Não concordamos que nossos relatórios sejam usados para fins jurídicos. É um problema difícil, que as pessoas não entendem, mas o prejuízo é enorme, pois os envolvidos deixam de colaborar com medo de que, o que nos falam, seja usado contra eles”, diz.

“Ninguém quer que o relatório do Cenipa seja secreto. Só pedimos que ele não seja usado em julgamentos. Nossa investigação é imparcial com o único objetivo de evitar mais acidentes. A investigação da polícia é que tem que achar responsabilidades e culpados e deve ser usada nos tribunais, e não a nossa”, rebate. 

Fonte: Tahiane Stochero (G1, em Brasília)