domingo, 12 de novembro de 2023

'Viaje bem, viaje Vasp': os 90 anos da empresa, que parou de voar em 2005

A Vasp operou no Brasil por décadas, contando com diversas
rotas nacionais e internacionais (Imagem: Flickr/Aero Icarus)
Há 90 anos, a Vasp realizava seu primeiro voo comercial. Fundada dias antes, em 5 de novembro de 1933, a companhia aérea paulista nasceu privada, se tornou pública, cresceu e foi privatizada, falindo anos depois. Relembre a história da empresa, que já foi uma das maiores do país.

O surgimento


A Vasp (Viação Aérea São Paulo) foi fundada por um grupo de empresários paulistas. A data de sua criação foi 4 de novembro de 1933, mas apenas no dia 12 foi realizado o seu voo inaugural.

Primeiros voos partiram do Campo de Marte, em São Paulo. As linhas ligavam a capital paulista a São José do Rio Preto (com escala em São Carlos) e a Uberaba (MG) (com escala em Ribeirão Preto).

Os aviões utilizados eram do modelo Monospar ST-4, de fabricação inglesa. Sua capacidade era mínima, para apenas três passageiros.

Em abril de 1934, a empresa começou a voar rotas comerciais regulares. Em 1935, mudaria sua principal base do Campo de Marte para onde hoje é o aeroporto de Congonhas, local que ficou conhecido à época como "Campo da Vasp", devido à forte presença da empresa no local.

Estatização


Com pouco tempo de operação regular, a empresa já apresentava fortes problemas financeiros. Sob a alegação de que seria interessante para o estado de São Paulo ter uma rede aérea forte e com uma bandeira própria, o governo aceitou um pedido da empresa para ter seus voos subsidiados.

Em 1935, o poder estadual acabou comprando 91,6% das ações da empresa, tornando a Vasp uma estatal. Nas décadas seguintes, a empresa trouxe seus primeiros Boeings 737 e Airbus A300 para o país e expandiu sua malha.

Privatização


Wagner Canhedo, ex-proprietário da Vasp (Imagem: Evelson de Freitas/Folhapress/24.09.01)
Em 1990, a Vasp acumulava dívidas que chegavam a US$ 750 milhões. O rígido controle do poder público, que dificultava a autonomia dos administradores, e o tabelamento dos valores das passagens contribuíram para isso.

Diante dessas dificuldades, o então governador Orestes Quércia encabeçou a privatização da empresa. Em setembro daquele ano, o empresário Wagner Canhedo adquiriu 60% das ações da aérea por US$ 43,7 milhões.

Novo dono foi visto como salvador pelos funcionários. Ligado ao ramo dos transportes de passageiros e de carga, Canhedo tinha um patrimônio bilionário segundo veículos de comunicação da época.

Em um ano, aumentou a frota da empresa de 32 para 58 aviões. Entretanto, a ocupação dos assentos internacionais era uma das mais baixas.

CPI e PC Farias


A privatização da empresa motivou uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), que apontou as possíveis irregularidades no negócio:
  • Os bens dados em garantia pela compra da empresa por Canhedo teriam sido avaliados acima do valor pelo governo de São Paulo.
  • O governo estadual investiu US$ 53 milhões na empresa logo antes da venda.
  • A empresa teria sido vendida por 25% do seu valor, o que resultou em um prejuízo de, ao menos, US$ 150 milhões.
  • PC Farias teria sido um sócio oculto da Vasp, realizando depósitos nas contas de Canhedo para a compra da companhia.
Investigados negaram as supostas irregularidades apontadas, e o relatório final da CPI da Vasp concluiu que não seria possível comprovar a participação de PC Farias na compra da empresa.

Falência


Propaganda antiga da Vasp (Imagem: Reprodução)
A empresa caminhava para o seu fim desde o final da década de 1990. Em 2000, ela perdeu suas maiores aeronaves devido a dívidas, e acabou decidindo sair do mercado internacional.

Canhedo chegou a tentar vender a empresa naquele período. O possível comprador seria a igreja evangélica Assembleia de Deus.

Apesar de ter apresentado resultados melhores nos anos seguintes, a situação durou pouco tempo. Em 2004, vários aviões foram impedidos de voar devido a irregularidades, e também ocorreu paralisação dos trabalhadores.

Em 2005, a empresa parou de voar. Apesar de tentar voltar às atividades e se reinventar, a Vasp teve sua falência decretada pela Justiça de São Paulo em setembro de 2008.

Hoje, a dívida chega a R$ 8,7 bilhões. Os dados são da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, que reúne diversos tipos de débitos e dívidas da empresa com vários órgãos e entes da federação.

Ao mesmo tempo, o governo pode ser obrigado a pagar R$ 95 bilhões para a massa falida da companhia. Isso se deve ao fato de o próprio Tesouro Nacional considerar que deverá perder uma ação movida pela empresa.

Política tarifária após o Plano Cruzado congelou o preço das passagens. Medida durou de 1986 a 1992, quando as tarifas foram liberadas, e causou prejuízo bilionário para a Vasp. Processo referente a essas perdas está em julgamento nas instâncias finais do Judiciário.

Onde estão os aviões?


Dois Boeings 737-200 que pertenciam à Vasp em exposição em Araraquara (Imagem: Divulgação)
A empresa operou uma frota com diversos modelos de aeronaves. Entre eles estão o Vickers Viscount, DC-3, Airbus A300 e Boeing 737 (versões -200, -300 e -400).

Entre 2012 e 2013, diversos aviões da empresa foram picotados. Objetivo era vender os restos como sucata. Iniciativa fazia parte do programa Espaço Livre, que tinha como objetivo liberar espaço em diversos aeroportos pelo país onde aeronaves antigas e sem possibilidade de voltar a voar estavam paradas.

Duas aeronaves da massa falida da Vasp são desmanchadas no Aeroporto Internacional
do Recife/Guararapes-Gilberto Freyre em 2013 (Imagem: Leo Caldas/UOL)
Outras estão em exposição pelo Brasil. É o caso de um Boeing 737 em que está no teto de um shopping em Contagem (MG), ou de dois aviões do mesmo modelo que foram restaurados e ficam em Araraquara para a realização de eventos e gravações.

Sequestros e acidentes


Ao longo de sua existência, os aviões da Vasp se envolveram em diversos acidentes e sequestros.

Elenco do filme 'O sequestro do voo 375' em frente a avião da Vasp (Imagem: Divulgação)
Em 1988, um desempregado sequestrou um avião para tentar jogar contra o palácio do planalto e matar o presidente Sarney. Essa história já foi contada aqui no Todos a Bordo, e ganhou um filme ('O sequestro do voo 375') relatando esse episódio com estreia em 7 de dezembro nos cinemas.

O 'Expresso Cubano' foi sequestrado várias vezes. Um Boeing 707 da Vasp ganhou esse apelido após ser capturado três vezes em quatro meses.

Em 1968, um Vickers Viscount da empresa caiu no bairro do Butantã, em São Paulo. Ele havia acabado de deixar o time do Santos no aeroporto de Congonhas após um jogo no Rio de Janeiro.

Destroços do avião Discount PP-SRE encontrados próximos à Cidade Universitária,
em São Paulo (Imagem: 15.set.1968 - Reprodução/Folhapress)
Em junho de 1982, um Boeing 727 caiu na Serra de Pacatuba, próxima a Fortaleza (CE). Essa foi a maior tragédia da aviação brasileira até o voo Gol 1907, que caiu em 2006.

Produtos à venda até hoje


Coleção Vasp: Itens originais que pertenceram à empresa aérea podem ser
comprados online (Imagem: Alexandre Saconi)
Diversos produtos da Vasp podem ser encontrados à venda até hoje. Itens a partir de R$ 3 podem ser comprados diretamente por meio do site Coleção Vasp. Entre os objetos, se destacam:
  • Fronha: R$ 5
  • Garfo personalizado: R$ 9
  • Colete salva-vidas: R$ 70
  • Chinelo azul: R$ 39
  • Cartão de metal: R$ 25
  • Carro de carga elétrico: R$ 50 mil
  • Bico de avião: R$ 8.500
  • Porcelana grande personalizada: R$ 25
  • Pneu de avião: R$ 5.800
Veja alguns desses produtos aqui:


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