sábado, 9 de agosto de 2025

Aconteceu em 9 de agosto de 2024: A queda do voo Voepass 2283 - Tragédia em Vinhedo


O voo Voepass 2283 (IATA: 2Z2283 ICAO: PTB 2283, Callsign: PASSAREDO 2283) foi um voo doméstico regular operado pela Voepass Linhas Aéreas (antiga Passaredo), que sofreu um acidente fatal no dia 9 de agosto de 2024.

A aeronave ATR-72 500, de matrícula PS-VPB, da Voepass, fazia o trajeto entre o Aeroporto Regional do Oeste, em Cascavel, Paraná, e o Aeroporto Internacional de São Paulo-Guarulhos, em São Paulo, quando perdeu sustentação e caiu no município de Vinhedo, às 13h22 (UTC−3), matando as 62 pessoas que estavam a bordo, dos quais 58 eram passageiros e quatro tripulantes.

Até 2025 é o acidente aéreo mais grave em solo brasileiro desde o Voo TAM 3054, em julho de 2007, e o sexto pior acidente da história da aviação no país. Também foi o primeiro acidente aéreo da Voepass e o primeiro acidente fatal envolvendo um ATR-72 no Brasil.

As investigações para apurar as causas foram iniciadas de imediato e estão em curso, sem prazo para conclusão, no entanto, a Força Aérea Brasileira (FAB) informou que o relatório final será divulgado no menor tempo possível.

Contexto


Aeronave

PS-VPB, O ATR-72 envolvido no acidente, em Salvador, novembro de 2023
A aeronave envolvida no acidente era um ATR-72 500, número de série 908, capacidade para 74 passageiros e quatro tripulantes, fabricada em 2010 pela Avions de Transport Régional (ATR) e entregue para Wilmington Company, com sede em Delaware, nos Estados Unidos, que a arrendou para a empresa de baixo custo Belle Air Europe, da Itália, subsidiária da empresa Belle Air, que encerrou suas atividades em 2013, por problemas financeiros. 

Em 2014 foi arrendada para a Pelita Air Service, da Indonésia, onde operou por oito anos antes de ser arrendada para a Voepass, em setembro de 2022, para um contrato de 63 meses.

De acordo com a empresa e a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), a aeronave se encontrava em condição regular para operar, com a manutenção em dia e com os sistemas operantes no momento da decolagem.

Acidente


Percurso realizado durante o voo Voepass Linhas Aéreas 2283
O Voo 2283 da Voepass Linhas Aéreas partiu às 11h58 (UTC−3) do Aeroporto Regional do Oeste, em Cascavel, no Paraná, com destino ao Aeroporto Internacional de São Paulo-Guarulhos, no estado de São Paulo. A bordo estavam 58 passageiros e quatro tripulantes. Pelo menos dez pessoas perderam o voo por terem confundido a companhia aérea ou se atrasado antes do embarque.

A aeronave caiu por volta de 13h22 (UTC−3) no condomínio residencial Recanto Florido, no bairro Capela, no município de Vinhedo, estado de São Paulo. Uma equipe do SERIPA IV (órgão regional do CENIPA) iniciou as investigações.


O canal de notícias GloboNews transmitiu um vídeo do avião em queda, descendo em espiral em uma orientação vertical – movimento conhecido no jargão aeronáutico como parafuso chato. A rede também transmitiu imagens da área do acidente, que mostravam uma grande quantidade de fogo e fumaça se espalhando a partir da fuselagem do avião.

“Eu vi o avião parecendo um papel. Era nítido que o piloto tinha perdido o controle e que alguma coisa ruim podia acontecer. E, no fim, ele parecia realmente um papel e caiu. Foi bem próximo do bairro onde eu moro. Assim que ele caiu, só subiu a fumaça e ficou aquele silêncio”. Foi dessa maneira que a estudante de administração Letícia Oliveira do Nascimento, de 25 anos, contou ter visto a queda de avião que deixou 62 mortos na cidade de Vinhedo.


Horas após o acidente, centenas de pessoas, entre policiais, equipes de resgate e moradores da região se aglomeravam na entrada do condomínio Recanto Florido, onde o avião caiu.

Letícia conta que estava dentro de casa quando o avião, operado pela empresa Voepass (antiga Passaredo), fez um barulho alto ao passar pela região. Inicialmente, ela pensou que se tratava de aeronaves de pequeno porte fazendo manobras, mas o ruído começou a ficar cada vez mais alto.

“Eu estava me preparando para sair quando escutei um barulho muito estranho. Eu até achei que era um avião de fumaça, até que o meu vizinho da frente gritou: ‘vai cair o avião’”, relata.

Ela conta que, antes de despencar até o solo, o avião sobrevoou a região por três ou quatro minutos.

“Até que foi um longo tempo porque eu estava pedindo um Uber na hora. Faltavam quatro minutos e foi o tempo que ela (motorista) demorou para chegar. O barulho já existia, mas o avião estava entre as nuvens. Estava bem nublado. Quando ele sai das nuvens, ele cai”, lembra Letícia.

O mecânico João Vitor da Silva, de 21 anos, conta que estava almoçando quando ouviu barulhos muito altos. Naquele instante, ele pensou que o ruído fosse causado por um show da esquadrilha da fumaça

“Eu saí na janela e vi o avião caindo. Eu peguei minha moto e segui a fumaça, na direção onde ele tinha caído. Quando cheguei lá, a dona da casa (na frente do local da queda) já estava desesperada. Aí já vi as pessoas no chão, os corpos. Foi triste mesmo. Impactou”, diz.


Vítimas

Tripulantes

O piloto em comando do voo era o capitão Danilo Santos Romano, de 35 anos de idade, e o copiloto era o primeiro oficial Humberto de Campos Alencar e Silva, de 61 anos. As comissárias de bordo eram Débora Soper Ávila, de 28 anos de idade, e Rubia Silva de Lima, de 41 anos.

Passageiros


Todos os passageiros e tripulantes eram brasileiros. Três dos passageiros tinham dupla cidadania com a Venezuela e um com Portugal. Vinte e sete dos passageiros eram moradores do município de Cascavel.

Rosangela Souza; Eliane Andrade Freire; Luciani Cavalcanti; Jose Fer; Denilda Acordi; Maria Auxiliadora Vaz De Arruda; Jose Cloves Arruda; Nelvio Jose Hubner Gracinda Marina Castelo Da Silva; Ronaldo Cavaliere; Silvia Cristina; Wlisses Oliveira; Hialescarpine Fodra; Daniela Schulz Fodra; Regiclaudio Freitas; Simone Mirian Rizental; Josgleidys Gonzalez; Maria Parra; Joslan Perez; Mauro Bedin; Rosangela Maria De Oliveira; Antonio Deoclides Zini Junior; Kharine Gavlik Pessoazini; Mauro Sguarizi; Leonardo Henrique Da Silva; Maria Valdete Bartnik; Renato Bartnik; Hadassa Maria Da Silva; Raphael Bohne; Renato Lima; Rafael Alves; Lucas Felipe Costa Camargo; Adrielle Costa; Iaiana Vasatta; Ana Caroline Redivo; Jose Carlos Copetti; Andre Michel; Sarah Sella Langer; Edilson Hobold; Rafael Fernando Dos Santos; Lizibba Dos Santos; Paulo Alves; Pedro Gusson Do Nascimento; Rosana Santos Xavier; Thiago Almeida Paula; Adriana Santos; Deonir Secco; Alipio Santos Neto; Raquel Ribeiro Moreira; Adriano Da Luca Bueno; Miguel Arcanjo Rodridues Junior; Diogo Avila; Luciano Trindade Alves; Isabella Santana Pozzuoli; Tiago Azevedo; Mariana Belim; Arianne Risso; Constantino Thé Maia.

As vítimas incluíam oito médicos, incluindo seis oncologistas que viajavam para uma conferência sobre câncer em São Paulo, quatro professores da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, dois funcionários da Universidade Tecnológica Federal do Paraná e duas crianças. Pelo menos dez pessoas com passagem não conseguiram embarcar no voo porque estavam esperando no portão errado..

Investigação


(Imagem: Nelson Almeida/AFP - 10/08/2024)
O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) iniciou uma investigação sobre o acidente. Investigadores do Escritório Francês de Inquérito e Análise para Segurança da Aviação Civil (BEA) e do Conselho Canadense de Segurança nos Transportes (TSB) também se juntaram aos trabalhos, representando o país onde a aeronave e os motores, o ATR-72 e o Pratt & Whitney Canada PW127M, foram fabricados, respectivamente.

O chefe do CENIPA, Marcelo Moreno, disse no dia do acidente que os dois gravadores de voo – o gravador de voz da cabine (CVR) e o gravador de dados de voo (FDR) – foram recuperados e estavam em análise.

Os corpos das vítimas foram levados ao Instituto Médico Legal Central, em São Paulo, para os devidos procedimentos. No dia 11 de agosto, foi informado que todos os corpos haviam sido removidos do local do acidente e que os destroços foram entregues ao CENIPA para investigação.


Na sequência inicial ao ocorrido, especialistas em aviação especularam que o acúmulo de gelo poderia ter sido um fator determinante, embora afirmassem que era muito cedo para tirar conclusões. O acidente foi comparado ao do voo 4184 da American Eagle, em 1994, que perdeu o controle depois que a aeronave encontrou condições severas de formação de gelo.

Em 12 de agosto, a Polícia Técnico-Científica de São Paulo afirmou que as vítimas da queda do avião em Vinhedo morreram de politraumatismo. A eventual carbonização de alguns corpos em decorrência do incêndio se deu após suas mortes.


Em 20 de agosto, a Câmara dos Deputados criou uma comissão externa para acompanhar as investigações sobre o acidente.

Relatório preliminar

Em 6 de setembro, o CENIPA divulgou o relatório preliminar contendo os dados coletados sobre o acidente. Antes da coletiva de imprensa, as famílias das vítimas foram informadas sobre os achados pelas autoridades.

De acordo com o relatório divulgado pelo tenente-brigadeiro do ar Marcelo Damasceno e pelo investigador-encarregado, tenente-coronel aviador Paulo Mendes Fróes, a aeronave perdeu sustentação e entrou em "parafuso chato". O órgão ressaltou que não houve declaração de emergência.


O relatório preliminar identificou a sequência de eventos do voo Voepass 2283:
  • 11:58:05 – aeronave inicia decolagem do Aeroporto Regional do Oeste (SBCA);
  • 13:18:47 – aeronave comunicou à torre de aproximação de São Paulo (APP-SP) que estava no ponto ideal de descida;
  • 13:19:19 – APP-SP solicitou que a aeronave mantivesse altitude devido a um tráfego, que restringia temporariamente sua descida;
  • 13:20:33 – aeronave recebe autorização para entrar na posição SANPA, mantendo a altitude;
  • 13:20:50 – aeronave inicia a curva à direita para a proa da posição SANPA;
  • 13:20:57 – alerta de STALL é ativado na cabine;
  • 13:21:09 – controle da aeronave foi perdido e ela ingressou em uma atitude de voo anormal. Nesse ponto, a aeronave inclinou-se para a esquerda e, posteriormente, à direita. Na sequência, entrou em “parafuso chato” até a colisão contra o solo;
  • 13:22:02 – APP-SP faz cinco chamadas para a aeronave, porém não obteve resposta;
  • 13:22:20 – momento da colisão contra o solo; gravadores da aeronave ficaram inoperantes;
A FAB informou que o relatório final será divulgado no menor prazo possível. Paralelamente ao relatório final do CENIPA, o Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal (PF) vai produzir um Laudo de Sinistro Aeronáutico.

Repercussão


Coletiva de imprensa dos governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e do Paraná,
Ratinho Junior, em frente ao condomínio onde o avião caiu
Horas depois da queda da aeronave, a Voepass Linhas Aéreas confirmou a ocorrência do acidente em suas redes sociais por meio de nota, afirmando que todos os passageiros e tripulantes a bordo faleceram na queda.

Posteriormente, a empresa lançou em seu website uma página com contatos para a imprensa e para assistência aos familiares, e divulgou a lista de embarque contendo o nome de todos os ocupantes do voo. No mesmo dia a companhia realizou uma coletiva de imprensa em sua sede em Ribeirão Preto, junto a seus representantes, ressaltando a experiência da tripulação na aeronave e como os procedimentos padrões aeronáuticos foram seguidos.


O Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, que se encontrava num evento no sul do país quando a notícia do acidente foi divulgada, dedicou um minuto de silêncio pelas vítimas que estavam a bordo. Os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e do Paraná, Ratinho Júnior, voltaram de um evento no Espírito Santo para acompanhar os trabalhos das equipes.

As emissoras de televisão aberta e canais de notícias imediatamente alteraram as suas programações regulares para a transmissão de plantões especiais sobre o acidente. No caso da TV Globo, a emissora intercalou as transmissões dos eventos dos Jogos Olímpicos de Verão de 2024 com boletins esporádicos por toda a tarde com atualizações. A tragédia também teve repercussão na mídia internacional.

Devido à gravidade e comoção geradas pelo acidente, foi decretado luto nacional de três dias pela Presidência da República, medida seguida pelos governos dos estados do Paraná e de São Paulo, e pelas prefeituras de Cascavel e Vinhedo, locais de partida e queda da aeronave, respectivamente.

No dia 11 de agosto de 2024, o Papa Francisco fez uma prece pelas vítimas do acidente em sua oração dominical do Angelus, no Vaticano.

Voepass perde licença


Em 24 de junho de 2024, a Voepass teve seu Certificado de Operador Aéreo (COA) definitivamente cassado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) após constatações graves de irregularidades. A medida foi tomada em reunião realizada em Brasília, após a agência concluir que a empresa operou cerca de 2,6 mil voos com aeronaves que não passavam por manutenção adequada — mesmo depois do grave acidente ocorrido em 9 de agosto de 2024.

A Anac identificou falhas sérias durante uma operação assistida. Luiz Ricardo Nascimento, diretor e relator do processo na agência, afirmou que foram detectadas condutas operacionais incompatíveis com os padrões de segurança exigidos. Ele destacou que as aeronaves envolvidas em diversos voos apresentavam condições "consideradas não aeronavegáveis". Para ele, esse comportamento revela um descaso inaceitável com a segurança dos passageiros e da aviação como um todo.

Aeroporto de Congonhas
A Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) oficializou na semana de 21 de julho de 2025 a redistribuição dos 20 slots que pertenciam à VOEPASS no Aeroporto de Congonhas (CGH), em São Paulo. A medida, que ocorre após o cancelamento do Certificado de Operador Aéreo (COA) da companhia regional, beneficiou diretamente Azul, GOL e LATAM, as três maiores operadoras do país.

Ao todo, a Voepass tinha 20 slots em Congonhas. Oito foram para a Azul, seis para a Latam e seis para a Gol, segundo a Anac informou ao Melhores Destinos. A validade das autorizações de pouso e decolagem vai de 26 outubro deste ano a 28 de março de 2026. A exceção é um slot da Latam, que passa a vigorar em 1º de setembro.

Por Jorge Tadeu (Site Desastres Aéreos) com Wikipédia, ASN, g1, UOL, Melhores Destinos e ANAC

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