sexta-feira, 4 de junho de 2021

Há 39 anos, durante a Guerra das Malvinas/Falklands, um bombardeiro Vulcan da RAF pousava no Rio de Janeiro escoltado por dois F-5E da FAB

(Arte: Aicro Junior)
Matéria publicada originalmente por Alexandre Galante no site Poder Aéreo.

Em 3 de junho de 1982, durante a Guerra das Malvinas/Falklands, um bombardeiro Avro Vulcan da Royal Air Force pousou no Aeroporto Internacional do Galeão no Rio de Janeiro, escoltado por dois caças F-5E Tiger II da Força Aérea Brasileira.

O bombardeiro Vulcan matrícula XM597 estava participando da missão Black Buck 6 de ataque aos radares do aeroporto de Port Stanley ocupado por tropas argentinas.

No retorno da missão em direção à Ilha de Ascensão no Oceano Atlântico, durante o reabastecimento em voo, o probe do Vulcan foi danificado, obrigando a tripulação do bombardeiro a alternar para o aeródromo mais próximo, no Rio de Janeiro.

Ao se aproximar da costa brasileira, o Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta) acionou dois caças F-5E da Base Aérea de Santa Cruz para a interceptação.

O bombardeiro foi conduzido ao Galeão e o avião e sua tripulação permaneceram por uma semana no Rio de Janeiro.
Mísseis antirradiação AGM-45 Shrike em um Vulcan
Durante a missão, os caças ultrapassaram a barreira do som e as ondas de choque quebraram vidraças e assustaram pessoas no centro do Rio de Janeiro.

Na missão de ataque aos radares argentinos, o Vulcan estava equipado com 4 mísseis antirradiação AGM-45 Shrike.

Dois mísseis foram lançados contra os alvos e no retorno, após o problema com o probe de reabastecimento, a tripulação do Vulcan tentou alijar os dois mísseis restantes, mas apenas um desprendeu-se do avião.

O Vulcan acabou pousando no Galeão com um míssil AGM-45 sob uma das asas.

O bombardeiro e sua tripulação foram liberados para deixar o Brasil após uma semana, mas sem o míssil.

O míssil AGM-45 retido foi visto pela última vez em São José dos Campos (SP), segundo uma fonte.

Reprodução de fotos do Avro Vulcan pousado no Galeão, em junho de 1982:


O Vulcan XM597 preservado no National Flight Museum em East Fortune mostra as marcações de missões com mísseis Shrike e a bandeira do Brasil (abaixo).

United compra aviões supersônicos que podem voar de SP a NY em menos de 6 horas

Modelos poderão viajar a 2.000 km/h e devem começar a transportar passageiros em 2029.

Projeto do avião supersônico da United
A companhia aérea norte-americana United anunciou nesta quinta-feira (3) a compra de aviões que prometem reduzir praticamente pela metade o tempo das viagens. Os novos modelos “Overture” são supersônicos – ou seja, voam acima da velocidade do som. O plano da empresa é começar a transportar passageiros nos novos modelos até 2029.

Com esse avião, seria possível tomar café da manhã em São Paulo e, menos de seis horas, almoçar em Nova York. Hoje, a mesma viagem leva quase dez horas.


Atualmente, os aviões que cruzam os céus têm velocidade máxima próxima de 950 quilômetros por hora. Os novos aviões supersônicos podem voar até a 1,7 Mach, que corresponde a cerca de 2.000 quilômetros por hora. Segundo a United, com o dobro da velocidade, o novo modelo permitirá voar para cerca de 500 destinos em quase metade do tempo registrado com a atual frota. Não há detalhes sobre quais destinos receberão o novo modelo.

A compra anunciada é de 15 aviões do modelo “Overture”, projeto da startup norte-americana Boom Supersonic. Essa aquisição, diz comunicado à imprensa, vai seguir adiante desde que o novo avião atenda aos requisitos de segurança, operação e sustentabilidade. Há, ainda, possibilidade de compra adicional de 35 unidades do mesmo modelo.


Esse avião supersônico ainda está apenas nas pranchetas e computadores da Boom, e a ideia é lançar o modelo em 2025, realizar o primeiro voo em 2026 e transportar passageiros até 2029. Portanto, o modelo ainda está longe de existir de fato. O projeto promete que a aeronave terá emissão zero de carbono com o uso de um combustível de aviação sustentável, o SAF na sigla em inglês.

O projeto do Overture tem 62 metros de comprimento e capacidade de 65 a 88 passageiros exclusivamente na classe executiva. A empresa promete janelas amplas e configuração sem assentos do meio – ou seja, passageiros só viajarão em lugar próximo à janela ou corredor. Com essas características, o novo avião supersônico deve ser direcionado especialmente aos passageiros de negócios.

A britânica Virgin e a japonesa JAL também têm pré-encomendas desse avião, mas o negócio ainda não foi confirmado pelas companhias.


Essa não é a primeira vez que a tecnologia supersônica é voltada aos passageiros. Na década de 1960, começou a ser fabricado o modelo europeu Concorde que voou acima da velocidade do som até o início dos anos 2000. Acidentes e altos custos de manutenção e do petróleo, além da elevada poluição sonora e ambiental foram algumas das razões que aposentaram o avião que chegou a voar para o Brasil.

Por Fernando Nakagawa, CNN

União Europeia fecha formalmente o seu espaço aéreo aos aviões de Belarus


A União Europeia (UE) decidiu formalmente, nesta sexta-feira (4), proibir as companhias aéreas bielorrussas de acessar seu espaço aéreo, ao definir novas sanções econômicas contra o governo do presidente Alexander Lukashenko, disseram fontes diplomáticas à AFP.

O fechamento do espaço aéreo da UE, exigido no final de maio por líderes europeus, foi formalizado legalmente nesta sexta-feira pelos países do bloco.

A proibição entrará em vigor no sábado (5), disseram as mesmas fontes.

A decisão afeta principalmente a empresa nacional Belavia e constitui uma forte sanção financeira contra Belarus, explicou um diplomata.

A sanção decorre da decisão das autoridades bielorrussas de desviar para Minsk um avião da companhia europeia Ryanair, que voava da Grécia para a Lituânia, para prender dois de seus passageiros, o jornalista dissidente bielorrusso Roman Protasevich e sua namorada russa Sofia Sapega.

As companhias aéreas europeias também foram instruídas a não sobrevoar o espaço aéreo de Belarus.

Os líderes europeus também pediram sanções individuais contra os responsáveis pelo desvio do voo da Ryanair no final de maio e sanções econômicas setoriais.

Os diplomatas estão finalizando duas rodadas de sanções individuais que devem ser aprovadas na próxima semana, explicaram as mesmas fontes.

Via AFP

Aeronave cai em frente a presídio Rio Verde (GO). Piloto morreu e passageiro morrem

Uma aeronave caiu em uma fazenda particular em frente ao Centro de Prisão Provisória com duas pessoas a bordo, em Rio Verde, no sudoeste de Goiás. 

(Foto: Reprodução/TV Anhanguera)
O acidente aconteceu por volta de 17 horas de quinta-feira (3). O girocóptero Gespi 2001, prefixo PT-ZKF, caiu no pátio de uma fazenda. 

A princípio, segundo o Corpo de Bombeiros, o piloto, de 59 anos, e o passageiro, de 61, foram socorridos e encaminhados para unidades hospitalares do município. 

Mais tarde, o piloto da aeronave não resistiu aos ferimentos e morreu na madrugada desta sexta-feira (4), segundo informou a família. Murilo César de Souza tinha 59 anos. O passageiro, Robson Martins Vencio, de 61 anos, segue internado em estado grave.

Murilo César de Souza morreu após sofrer acidente em Rio Verde (Foto: Reprodução/Instagram)
O Hospital de Urgências da Região Sudoeste (Hurso), para onde foi levado o passageiro, informou, na manhã desta sexta-feira, que ele continua em estado grave, inconsciente, respira com a ajuda de aparelhos e segue em observação rigorosa.

Ainda não há informações sobre o que causou a queda. Em nota, a Força Aérea Brasileira (FAB) informou que investigadores do Sexto Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SERIPA VI) estiveram no local e coletaram dados para apurar o caso.

(Foto: Reprodução/TV Anhanguera)
Pessoas que presenciaram a queda acionaram o Corpo de Bombeiros para prestar o socorro. Uma testemunha, que preferiu não se identificar, relatou como ocorreu o acidente.

“A aeronave sobrevoava muito baixo e logo em seguida se chocou com um pé de manga, caiu sob uma caixa d’água e veio ao solo” , disse a testemunha.

Aeronave cai em fazenda de Rio Verde — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

Atualização (10/06)

Morre passageiro de avião que caiu em frente a presídio de Rio Verde


O passageiro de um avião de pequeno porte que caiu em frente ao presídio de Rio Verde, na região sudoeste do estado, morreu na manhã desta quinta-feira (10). Robson Martins Vêncio, de 61 anos, estava internado há sete dias em estado grave.

A morte foi confirmada pelo Hospital Estadual de Urgências da Região Sudoeste (Hurso) que, em nota, informou ainda que o paciente estava na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), sedado, inconsciente e respirando com a ajuda de aparelhos desde que deu entrada.

Via G1 Goiás / ASN - Atualizado em 10/06/21 às 20h07

DC-10: de falhas na porta de carga a uma das aeronaves mais confiáveis

O McDonnell Douglas DC-10-30, PP-VMD, da Varig (Foto: Frank C. Duarte Jr.)
Ao longo da história, as autoridades da aviação suspenderam 8 aeronaves. Muitas delas foram verdadeiras pioneiras e trouxeram algo novo na primeira vez que decolaram.

Por exemplo, o Lockheed Constellation foi a primeira aeronave pressurizada a ser usada comercialmente. O de Havilland Comet foi o primeiro jato comercial, aproximando o mundo com um tipo de motor no qual inicialmente ninguém acreditava. Mas, embora tenha provado a todos que as viagens a jato comercial eram o futuro, também trouxe vários desastres relacionados a uma questão de design.

E, claro, a única aeronave que mudou tudo. O jato que encurtou a distância entre Londres e Nova York para 3 horas de voo - o Concorde . Embora certamente tenha trazido uma revolução com ele, o tipo ficou de castigo por um ano após um acidente em Paris.

Mais recentemente, após dois incidentes mortais, os reguladores da aviação suspenderam o Boeing 737 MAX em março, provocando o debate sobre se o tipo será cancelado. No entanto, com a persistência da Boeing, a aeronave parece estar no caminho certo para voar novamente em 2019.

Mas o 737 MAX não foi o único Boeing aterrado. O Boeing 787 Dreamliner foi avisado para ficar parado em 2013, depois que vários 787 operados pela ANA e pela Japan Airlines apresentaram uma falha de projeto no projeto da bateria. A aeronave também apareceu recentemente nas manchetes, demonstrando a negligência da Boeing na construção do 787 .

No entanto, havia mais uma aeronave. Claro, não foi revolucionário como o Concorde ou o Comet, mas certamente trouxe algo para a mesa e atende a companhias aéreas de forma confiável até hoje, mesmo depois de 48 anos após seu primeiro voo de teste.

O nome? McDonnell Douglas DC-10 ou apenas DC-10.

O McDonnell Douglas DC-10-30, PP-SON, da VASP (Foto: Ted Quackenbush)

A história do DC-10


O agora extinto e operando sob o nome do fabricante da Boeing, McDonnell Douglas havia construído o DC-10. Na época, entre o final dos anos 60 e início dos 70, a Boeing não competia com a Airbus. A Airbus tinha acabado de lançar seu primeiro jato comercial em 1972, mas teve dificuldades no início para fazer vendas nos Estados Unidos.

A Boeing competiu com a Douglas, que mais tarde foi fundida com a McDonnell e posteriormente renomeada para McDonnell Douglas. Por um curto período de tempo, a Lockheed também concedeu alguma competição com o L-1011, mas a aeronave teve seu quinhão de problemas, o que a impediu de dominar o mercado de aviação dos Estados Unidos.

De qualquer forma, a Boeing ficou cara a cara com Douglas. Após a Segunda Guerra Mundial, aeronaves chamadas 'DC' conquistaram uma grande parte do mercado de aviação civil.

No entanto, assim que a era do jato começou na aviação comercial, a Boeing começou muito forte com o Boeing 707 em 1958. Lentamente, mas com certeza a Boeing começou a dominar os céus dos EUA e até do mundo todo.

Boeing 707
Inicialmente, Douglas não ficou fascinado pelo Cometa ou aeronaves a jato, pois pensaram que era apenas uma moda que iria embora. Além disso, os encalhes certamente não ajudaram, já que todos ainda acreditavam que os problemas do Cometa estavam relacionados ao seu motor a jato.

Mas, quando Douglas percebeu o quanto a Boeing estava à frente, a empresa começou a brincar de pegá-la. Convencer as companhias aéreas a encomendar um jato comercial já era difícil o suficiente, a Boeing tornou o trabalho muito mais difícil quando exibiu com sucesso o 707 para os executivos das companhias aéreas.

No entanto, Douglas havia acabado de lançar seu DC-7, uma aeronave movida a pistão e, portanto, era difícil criar um novo jato rapidamente. Mesmo assim, em 1958, Douglas começou a testar seu primeiro jato - o DC-8. Três anos antes, a Boeing já apresentava um protótipo do 707 capaz de voar, chamado 367-80.

Manobrando em torno da Boeing


Embora o artigo se concentre principalmente no Douglas DC-10, você provavelmente está se perguntando por que estou contando a história do DC-8 e do Boeing 707.

É importante entender a situação atual em questão, já que Douglas essencialmente estava atrasado para a festa do motor a jato. Eles tiveram que tomar medidas em torno das decisões da Boeing. Foi assim que o DC-9 começou - reduzindo os preços da Boeing com a intenção de dominar o mercado de companhias aéreas regionais.

Mas o DC-10 teve uma história de fundo diferente. No início, começou como uma aeronave militar para a Força Aérea. A USAF abordou Douglas, Boeing e Lockheed para uma aeronave capaz de transportar muitos equipamentos. A Lockheed ganhou o contrato. Então, a Douglas e a Boeing se questionaram sobre o que fazer.

Após a estreia bem-sucedida do 707 e o número crescente de passageiros, as companhias aéreas desejavam mais. Mais alcance, mais espaço para passageiros e mais aeronaves em geral. Assim, os corpos largos nasceram. A Boeing foi a primeira e anunciou o Boeing 747, um ícone que voa até hoje. A aeronave pode acomodar de 374 a 490 passageiros, dependendo da configuração da companhia aérea.

Boeing 747
As companhias aéreas ficaram em êxtase, especialmente a agora falida Pan American . A companhia aérea imediatamente encomendou 25 Boeing 747s e influenciou fortemente o modo como a Boeing projetou a aeronave.

No entanto, alguns foram cautelosos. Assim, a McDonnell Douglas tinha um mercado aberto, sem concorrência para trabalhar e um cliente - American Airlines decidiu não se arriscar com o 747, pois achava que não ocuparia os assentos de um 747 para justificar a compra de tal jato. Embora eventualmente tenham comprado alguns, definitivamente não ficaram tão entusiasmados quanto a Pan American. Talvez eles estivessem certos, já que a American Airlines ainda está viva para contar a história.

No entanto, antes de vir para a McDonnell Douglas, a American Airlines abordou a Lockheed pelo mesmo motivo - eles queriam um jato de fuselagem menor que o Queen of the Skies.

DC-10 x L-1011


De repente, houve competição, pois a Lockheed começou a projetar e construir seu próprio tri-jato. No entanto, a Lockheed não construía um avião comercial desde o Electra, que foi produzido pela última vez em 1961. Mesmo assim, o Electra era movido por um motor turboélice. Eles tinham uma grande tarefa em mãos: desenvolver um avião comercial a jato.

Por outro lado, Douglas tinha muita experiência na construção de jatos de passageiros. Os programas DC-8 e DC-9 forneceram a eles informações suficientes para avançar rapidamente no processo de desenvolvimento.

Eles não exageraram, ao contrário da Lockheed. A McDonnell Douglas se concentrou em fornecer um projeto de aeronave simples, confiável e fácil de entender baseado nos jatos anteriores.


Embora o design da Lockheed fosse indiscutivelmente muito mais avançado, já que o L-1011 tinha recursos como um sistema autoland, ele também exigia mais tempo e recursos. E, ao competir, às vezes você não pode se dar ao luxo de dizer a seus clientes que terá que esperar ou pagar mais para justificar os enormes gastos da Lockheed ao desenvolver o L-1011.

Foi aí que o DC-10 ganhou vantagem. Finalmente, a McDonnell Douglas lança um jato antes de seus concorrentes. Embora seus preços fossem idênticos de acordo com uma antiga edição da revista Flight International de 1972, o DC-10 acabara de se desenvolver mais rápido.

Assim, a American Airlines em 1968 anunciou que iria encomendar 25 novos DC-10. O anúncio chocou Lockheed. Mas, ao fazer isso, Douglas teve que oferecer um desconto significativo à AA, o que eles fizeram com alegria, pois queriam ter certeza de que seu jato fosse a prioridade número um das companhias aéreas. Além disso, Douglas ofereceu mais versões do DC-10. No total, havia 9 variantes diferentes de DC-10.

Primeiras edições


Douglas ofereceu mais flexibilidade com seu avião de passageiros que se adaptava a uma variedade de mercados domésticos e internacionais, enquanto a Lockheed não podia fazer isso no início.


Um protótipo durante o teste de voo. O DC-10 fez seu primeiro voo em 29 de agosto de 1970
Com a American Airlines e a United Airlines garantindo o futuro do DC-10 com seus pedidos, Douglas iniciou a produção do DC-10 em janeiro de 1970. Depois de ajustar seu processo de fabricação, a empresa apresentou o primeiro DC-10 para o mundo em julho do mesmo ano. Mais clientes faziam fila para o jato mais novo e Douglas agora tinha certeza de que a aeronave é um sucesso entre as companhias aéreas.

No ano anterior, a empresa também anunciou o DC-10-30, que se tornou a variante mais popular do tri-jet. Dos 386 DC-10 que McDonnell Douglas construiu, 206 deles eram -30.

Mas ao testar o DC-10 em 1970, os engenheiros descobriram que o projeto da porta de carga estava com defeito. Conforme eles pressurizaram a cabine, a porta de carga voou e o chão, separando a cabine de passageiros e o porão de carga falhou. Mas por que as portas de carga do DC-10 falharam?

Para economizar peso, o mecanismo de travamento da porta de carga foi alterado de um atuador hidráulico para um elétrico. Isso era novo para Douglas, pois eles operavam um atuador hidráulico em seus DC-8s e DC-9s mais antigos. Como resultado, era menos confiável.

Apontou também para o corte de cantos por parte de Douglas, pois queriam garantir o pedido da American Airlines - a decisão de mudar para um atuador elétrico se deu por influência deles. No entanto, havia muitas falhas de design fundamentais no DC-10, especialmente com as portas de carga.

Falha das portas da aeronave


Cada jato de passageiros é dividido em dois. Os passageiros ficam sentados na parte superior, enquanto a carga é carregada na parte inferior.

Mas o que difere é a posição dos fios, cabos e tubulações hidráulicas. Por exemplo, no Boeing 747, eles são colocados acima da cabine de passageiros, no teto. Em contraste, os cabos de controle do DC-10 estão localizados sob o piso. O que significa que qualquer dano ao piso que separa o compartimento de passageiros da área de carga prejudicará a capacidade do piloto de controlar a aeronave, o que pode levar a um acidente fatal. Por que isso é importante?

Tudo volta para a porta de carga do DC-10. Como os aviões de passageiros voam em altitudes realmente elevadas para atingir a melhor eficiência possível, a cabine precisa ser pressurizada, para que os passageiros possam respirar. Mas a área de carga também precisa ser pressurizada, pois o processo de pressurização adiciona excesso de carga ao piso da cabine. Porém, como o compartimento de carga também está pressurizado, as forças são iguais, portanto, o piso não desaba.

Se de repente uma porta na cabine de passageiros ou na área de carga explodir, o chão irá desmoronar. Embora a chance de tal coisa acontecer seja muito rara, o resultado de uma das portas se despedindo da aeronave pode ser fatal.


Principalmente se os controles principais da aeronave estiverem localizados sob o piso, que entraria em colapso nesse caso.

A porta de carga de um passageiro é maior do que a própria abertura da porta, por isso é impossível abrir a porta no ar, pois a pressurização o impede de fazê-lo. Mesmo que alguns tenham tentado abrir as portas enquanto estavam no ar, você teria que ter a força de Hulk para fazê-lo.

Mas as travas de carga apresentam uma história diferente, já que diferentes fabricantes usaram diferentes designs de portas de carga no passado.

A Lockheed, concorrente da McDonnell Douglas na época, projetou a porta de maneira semelhante à do passageiro. Era maior do que a própria abertura e a porta era mais pesada do que no DC-10.

O DC-10 usou um sistema muito semelhante ao porta-malas ou porta-malas do carro. Ao abrir o porta-malas do carro, você pode ver que há uma trava no porta-malas. Ao fechá-la, a trava é fixada em uma alça de metal na estrutura do carro, impossibilitando a abertura enquanto o carro está trancado ou você está dirigindo.

O DC-10 usava um sistema semelhante, exceto, é claro, que tinha vários loops para fechar a porta com segurança. Então, por que as portas de carga do DC-10 explodiram?

Em primeiro lugar, o atuador elétrico, que controlava um eixo que se movia e, assim, as travas eram enganchadas na alça de metal e a porta ficava fechada. Quando o mecanismo atinge o centro, as travas permanecem fixas por causa das forças de pressurização. Porém, se por algum motivo ele não atingir o centro automaticamente, o design do atuador elétrico impede qualquer movimento manual do eixo para travar a porta corretamente.

Em segundo lugar, o mecanismo de bloqueio não era forte o suficiente. Se o mecanismo não estivesse bem ajustado, a maçaneta de travamento, que fecha completamente a porta, poderia fechar. No entanto, a porta não ficaria totalmente trancada, portanto, em certas altitudes, ela explodiria.

E como resultado, a área de carga perderia pressão, o piso desabaria e os pilotos perderiam o controle do avião, pois os controles da aeronave estão no piso entre os dois compartimentos.

Primeiros incidentes


Embora Douglas tenha feito mudanças após o teste de 1970, onde as portas explodiram, elas não foram suficientes. Simplificando, o sistema ainda estava com defeito.

O DC-10 fez seu voo de estreia no dia 5 de agosto de 1971 com a American Airlines. Dez meses depois, em 12 de junho de 1972, aconteceu o primeiro acidente com a porta de carga.

No voo 96 da American Airlines, logo depois que o American Airlines DC-10 decolou do aeroporto de Detroit, uma porta de carga na parte de trás da aeronave se abriu.


Felizmente, a aeronave estava parcialmente ocupada - apenas 67 pessoas estavam a bordo. Portanto, o piso desabou apenas parcialmente, de modo que os pilotos mantiveram parte do controle e pousaram de volta em Detroit com segurança.

Após o incidente, o NTSB disse a McDonnell Douglas para implementar duas mudanças no DC-10: "Em primeiro lugar, para fortalecer o mecanismo de bloqueio. Em segundo lugar, para instalar um respiradouro na parte traseira da aeronave".


O NTSB designou a FAA para forçar Douglas a fazer essas mudanças. O fabricante da aeronave mudou o mecanismo de travamento, mas, a portas fechadas, as duas partes concordaram que a instalação de um respiradouro complicaria as coisas.

Essa decisão foi fatal para 346 pessoas dois anos depois. Em 1974, um DC-10 da Turkish Airlines acabava de pousar em Paris após uma parada na viagem de Istambul a Londres. Enquanto o pessoal em terra reabastecia a aeronave, eles também carregavam e descarregavam alguma carga.

Quando a aeronave decolou para a segunda etapa do serviço programado para Londres, aconteceu exatamente a mesma coisa - a porta de carga se abriu, a pressão do ar dentro da cabine caiu, o piso desabou e, posteriormente, os pilotos perderam o controle da aeronave.

A McDonnell Douglas acabou perdendo um processo no valor de mais de US $ 18 milhões para as famílias das vítimas. O fabricante da aeronave tentou direcionar a culpa para outro lugar - culpando a FAA por não emitir uma diretiva de aeronavegabilidade, culpando a Turkish Airlines por implementar indevidamente as modificações no mecanismo de travamento e culpando a General Dynamics pelo design inadequado das portas de carga. Mesmo assim, nada disso funcionou e McDonnell Douglas teve que pagar os US$ 18 milhões.

No lado técnico das coisas, seguiu-se uma reformulação completa do mecanismo de travamento. A FAA finalmente se manteve firme, emitiu uma diretriz de aeronavegabilidade e ordenou a instalação de um respiradouro no piso da cabine, a fim de evitar que a perda de pressão destruísse o piso da cabine.

Após a queda do voo 981 da Turkish Airlines e as mudanças subsequentes, o DC-10 nunca mais sofreu uma explosão na porta de carga. Mas sua reputação foi abalada, pois as pessoas ficavam nervosas ao embarcar em um DC-10. No entanto, a aeronave continuou a voar com sucesso. No entanto, isso estava prestes a mudar.

Cinco anos depois do voo da Turkish Airlines, um American Airlines DC-10 no voo 191 cai nos arredores de Chicago.

O acidente ocorreu em 25 de maio de 1979. Em 6 de junho, a FAA pousou a aeronave. A porta de carga não explodiu desta vez. O que aconteceu foi que o motor do lado esquerdo se separou da aeronave, perfurou linhas hidráulicas críticas e a aeronave posteriormente estolou, ao começar a rolar para a esquerda. O DC-10 caiu no chão, matando 271 pessoas a bordo e duas pessoas no solo.


No entanto, as ações da FAA foram rápidas e duras, já que nenhum voo de balsa seria capaz de ocorrer durante o encalhe. Em contraste, o Boeing 737 MAX ainda era capaz de realizar voos de balsa pelos Estados Unidos.

Após a conclusão da investigação pelo NTSB, o conselho absolveu o DC-10, pois a culpa cabia aos procedimentos de manutenção da American Airlines. A manutenção inadequada do motor causou danos estruturais ao pilão, que mantém o motor junto com a asa.

Nesse ponto, a reputação do DC-10 foi destruída. A mídia divulgou muitas fotos da aeronave voando sem motor e fotos mostrando a bola de fogo resultante do acidente. Se as pessoas já estavam se questionando sobre entrar em um DC-10, depois do voo 191 da American Airlines, a mensagem era clara - as pessoas se recusavam a entrar em um DC-10.

Lições para o futuro


Olhando para trás, para os infortúnios e perda de vidas do DC-10, há muitas semelhanças com a situação atual do Boeing 737 MAX. O corte de cantos, a negligência do fabricante e da FAA tiveram grande influência nos acidentes.

Mesmo assim, após vários acidentes mortais, o DC-10 se tornou uma das aeronaves estatisticamente mais seguras no ar. Mesmo agora, depois de quase 50 anos desde os primeiros voos de teste, você ainda pode ver um DC-10 no céu. Mas eles voam apenas de carga, já que o último voo de passageiros pousou em 2014.


O que a história do DC-10 mostra, que mesmo depois de tribulações e dificuldades iniciais, um avião comercial ainda pode servir os passageiros com segurança.

E é isso que você deve lembrar quando as pessoas discutem um acidente - esses acidentes estranhos que acontecem muito raramente. Milhares e milhares de voos partem diariamente e a indústria da aviação é considerada a maneira mais segura de viajar do ponto A ao ponto B.

Por que as fuselagens do 737 são entregues à fábrica da Boeing em trens?

Um trem carregado de fuselagens do Boeing 737 a caminho de Renton, Washington (Foto: Jody McIntyre)
Em certos mercados, as companhias aéreas e as operadoras de trens competem diretamente entre si por passageiros. No entanto, em outros domínios, a ferrovia desempenha um papel vital em colocar os aviões no ar em primeiro lugar. Especificamente, isso se aplica à produção da popular família 737 da Boeing, cujas fuselagens são transportadas para a fábrica por trem. Mas por que é este o caso?

O percurso


A necessidade de a Boeing transportar suas fuselagens 737 por ferrovia se resume ao local onde são fabricadas. Especificamente, esse é um papel desempenhado pela Spirit AeroSystems, que produz as fuselagens antes de enviá-las à Boeing para ingressar na linha de montagem. No entanto, a Spirit está sediada em Wichita, Kansas, enquanto a fábrica do 737 da Boeing fica em Renton, Washington.

Esta é uma distância de cerca de 1.800 milhas (2.900 km) e, portanto, representa uma dor de cabeça logística para as empresas envolvidas. Voar nas fuselagens dentro de aeronaves de carga maiores seria rápido, mas limitado em sua capacidade. Da mesma forma, os caminhões especializados só podem transportar uma única fuselagem de cada vez, e este é um processo muito lento . Isso desaceleraria o ciclo de produção da aeronave.

A viagem da fuselagem de um 737 começa a quase 2.000 milhas da fábrica da Boeing (Foto: Getty Images)
Como tal, transportar as fuselagens por via férrea é o melhor compromisso em termos de velocidade e capacidade para transportar mais de uma de cada vez. As fuselagens fazem parte de uma carga muito maior, que a BNSF transporta de Wichita para Renton. Em 2013, 35 fuselagens por mês faziam esta gigantesca viagem de trem pelo país.

Uma longa história de entregas ferroviárias


Curiosamente, o 737 não é a única aeronave Boeing para a qual a ferrovia tem sido uma parte crucial do processo logístico. De fato, a Railway Age observa que a Boeing recebe remessas ferroviárias de fuselagens e outros componentes desde os anos 1960.

Além de receber entregas de Wichita, a Boeing também recebeu peças enviadas por ferrovia de instalações no Texas no passado. Da mesma forma, Renton não foi o único destino para esses carregamentos ferroviários, com alguns indo também para sua fábrica em Everett, Washington.

Um close-up da preciosa carga da Boeing e da BNSF (Foto: Dan Bennett via Wikimedia Commons)
Essa prática começou com seu quatro motores 707, e seu 777 de corredor duplo também foi objeto de tais entregas. No entanto, o 737 tornou-se o beneficiário mais comum do serviço. Em fevereiro de 2018, a fuselagem de sua 10.000ª produção chegou a Renton de trem.

Descarrilamento leva a seis sucatas


O transporte ferroviário de fuselagens do 737 provou ser uma solução prática para a realidade logística de levá-los de Wichita a Renton. No entanto, um incidente em 2014 causou problemas significativos para a Boeing e a Montana Rail Link. Especificamente, a Reuters relatou que, em julho daquele ano, o trem em questão descarrilou perto de Superior, Montana.


Este incidente fez com que 19 dos 90 vagões de carga do trem saíssem dos trilhos, incluindo três transportando fuselagens 737. A localização do descarrilamento soletrado foi particularmente inconveniente, pois ocorreu no topo de uma margem de rio. Isso fez com que algumas das fuselagens deslizassem pela margem e no rio Clark Fork. Felizmente, ninguém ficou ferido no incidente.

No entanto, as fuselagens sofreram danos significativos como resultado, com uma delas se partindo em duas. Como tal, eles tiveram que ser descartados até o final do mês, de acordo com o The Seattle Times. A Boeing estava produzindo 42 737s por mês na época, o que significa que o incidente destruiu cerca de 14% de sua capacidade em julho de 2014.

O primeiro voo de helicóptero da história

Em 13 de novembro de 1907, um fabricante francês de bicicletas conseguiu manter seu aparelho de fabricação própria a 30 centímetros do solo por 20 segundos, marcando um antes e um depois no mundo da aviação. Quem ele era e quanto ganhou por conquistá-lo.

O feito de Cornu foi um marco na história da aviação mundial
Há mais de 113 anos, o engenheiro francês de origem romena, Paul Cornu, realizou um feito que marcaria um antes e um depois na aviação mundial: o primeiro voo em helicóptero da história.

Nascido em 15 de junho de 1881 na pequena comuna francesa de Glos-la-Ferriére e grande fabricante de bicicletas , ao saber que o milionário fã da aviação francês, Henry Deutsh de la Meurthe, anunciou publicamente que lhe daria uma recompensa nada menos Mais de 50.000 francos para a primeira pessoa que fizesse um voo circular de um quilômetro a bordo de uma máquina pesada, Cornu rapidamente começou a trabalhar, pois estava totalmente convencido de que seu conhecimento mecânico lhe permitiria realizar tal desafio.

O voo histórico ocorreu em 13 de novembro de 1907 na comuna de Lisieux, localizada no departamento de Calvados, no norte da França, a bordo de um helicóptero que ele havia pessoalmente encarregado de projetar. Seu surpreendente modelo pesava apenas 18 quilos e apresentava um então potente motor Antoniette de 24 cv e dois rotores de rotação reversa, localizados em ambos os lados do dispositivo.


Para sua própria surpresa e de todas as pessoas que se reuniram no local para testemunhar o que, para muitos, foi uma loucura impossível de cumprir, Cornu conseguiu ficar a cerca de 30 centímetros do solo por 20 segundos. Os rotores moviam-se a 90 rotações por minuto.

Nesse mesmo dia, com o irmão Jaques por companheiro, fez outra tentativa em que conseguiu subir a um metro e meio do solo. No entanto, após várias tentativas malsucedidas posteriormente, Paul percebeu que o dispositivo era muito difícil de controlar e decidiu não realizar mais testes.

Cornu morreu em 6 de junho de 1944, esmagado sob os escombros de sua casa, que foi destruída durante os bombardeios que precederam os desembarques dos Aliados na Normandia, durante a Segunda Guerra Mundial.


O primeiro helicóptero


Sem dúvida, o helicóptero usado por Cornu não tem nada a ver com os que vemos voando atualmente . Era um modelo que parecia um emaranhado de roldanas, cintos de couro e guayas prestes a explodir ou voar, mas em pedaços.

Cornu fez uma fuselagem improvisada semelhante a um V e cada um instalou um rotor com duas pás gigantes e no centro dessa estranha massa de ferro e tiras ele construiu uma estrutura tubular.


Atrás do motor potente, ele localizou uma bateria e o assento da pessoa que iria pilotar a máquina. Tudo neste dispositivo era rudimentar, principalmente a forma de controlar o primeiro protótipo: alavancas que levantavam e abaixavam a nave.

Apesar do avanço que a invenção de Cornu trouxe, a indústria aérea demorou a popularizar essa aeronave, então o esforço se concentrou na produção em massa e no desenvolvimento de aeronaves . No entanto, anos depois começaram a fabricar, embora de forma muito rudimentar, alguns protótipos que foram se aperfeiçoando ao longo dos anos até chegar aos atuais designs avançados que, aliás, estão muito distantes do utilizado por Cornu.

quinta-feira, 3 de junho de 2021

Aconteceu em 3 de junho de 2012: Destino tentador - A queda do voo 992 da Dana Air


No dia 3 de junho de 2012, um avião nigeriano ao se aproximar de Lagos perdeu inexplicavelmente a potência de ambos os motores. Os pilotos fizeram uma chamada frenética de socorro antes que o McDonnell Douglas MD-83 se chocasse contra um subúrbio densamente povoado, matando todas as 153 pessoas a bordo e pelo menos mais seis no solo. O avião foi completamente destruído e três grandes edifícios foram reduzidos a escombros. 

Mas quando os investigadores chegaram para recolher os destroços mutilados, eles não olharam para o acidente isoladamente - na verdade, este foi o quinto grande desastre aéreo na Nigéria na última década, uma taxa surpreendente para um país com uma aviação relativamente pequena indústria. Os fatos revelados pela investigação subsequente pintaram um quadro perturbador. 

A manutenção negligente por um empreiteiro com sede nos EUA provavelmente causou danos que impediram o combustível de chegar aos motores, resultando uma perda total de energia. Mas os motores não falharam ao mesmo tempo - um falhou 17 minutos no voo e o outro falhou ao se aproximar; no entanto, por algum motivo, a tripulação não fez quase nada para responder à emergência. Como um erro de manutenção tão perigoso pode passar despercebido? E como uma tripulação poderia ignorar uma emergência tão terrível? 

As respostas a essas perguntas levariam a um acerto de contas para todo o sistema de aviação nigeriano, levando a melhorias notáveis ​​no que costumava ser um dos lugares mais perigosos para voar. 


A Dana Air é uma pequena companhia aérea especializada em voos domésticos regulares e charter na Nigéria. A Dana Air foi uma das muitas pequenas companhias aéreas que surgiram na Nigéria nas décadas de 1990 e 2000 para atender a uma crescente demanda por viagens aéreas em um país onde as redes rodoviária e ferroviária são extremamente precárias. 

Com uma pequena frota de meia dúzia de jatos McDonnell Douglas e Boeing usados, a companhia aérea começou os serviços de passageiros entre cinco grandes cidades da Nigéria em 2008. 


Um dos aviões da frota da Dana Air era o McDonnell Douglas DC-9-83 (MD-83), prefixo 5N-RAM (foto acima), que foi construído em 1990 e passou os primeiros 17 anos de sua vida voando para a Alaska Airlines. O jato bimotor traseiro encontrou uma segunda vida na Dana Air, um dos incontáveis ​​aviões vendidos a empresas africanas depois de ser retirado de serviço nos Estados Unidos. Como a maioria de seus concorrentes, a Dana Air administrava uma espécie de operação ad-hoc: as passagens dos voos da Dana Air costumavam ser compradas à vista no terminal do aeroporto minutos antes do horário programado para a partida.

Os primeiros três anos do 5N-RAM voando pela Dana Air foram tranquilos, até o segundo semestre de 2011, quando os dois motores do avião foram enviados a Miami, Flórida, para uma revisão programada. 

Cada um dos dois motores turbofan Pratt & Whitney JT8D foi atendido pela empreiteira Millennium Engine Associates Inc., que executou toda a manutenção de motores pesados ​​da Dana Air. 

O motor JT8D é um dos motores a jato mais populares já feitos, mas como qualquer outro modelo, ele teve sua cota de problemas. Um desses problemas está relacionado ao sistema que fornece combustível para os motores. O combustível é injetado na câmara de combustão por meio de bicos de pulverização, que estão ligados a dois coletores de combustível - segmentos de tubos onde um fluxo é dividido em vários. Cada um dos dois manifolds, designados primário e secundário respectivamente, é alimentado por um único tubo de entrada. 

Na década de 1990 e no início de 2000, o tubo de entrada do coletor secundário era considerado fraco demais para o trabalho que deveria fazer; com o tempo, ele tendeu a rachar e, em seguida, eventualmente cortar completamente devido ao estresse térmico, causando expansão e contração repetidas do metal. 

Um diagrama básico de um motor MD-80 mostrando a localização dos
coletores de combustível primário e secundário (AIB)
Este problema recorrente resultou em 94 motores tendo que ser retirados de serviço para manutenção não programada, dois pousos de emergência, um desligamento do motor em vôo e um incêndio. 

Em 2003, a Pratt & Whitney publicou um boletim de serviço solicitando a todos os operadores de motores JT8D que substituíssem o conjunto do coletor de combustível secundário por uma nova versão duas vezes mais forte, o que aumentaria muito sua vida útil. 

Em 2005, enquanto ainda estava em serviço na Alaska Airlines, o motor direito do 5N-RAM foi revisado pela Volvo na Suécia, o que o colocou em conformidade com o boletim de serviço da Pratt & Whitney. 

No entanto, o motor esquerdo não foi revisado e foi vendido com o avião para a Dana Air em sua condição original, com tubos de combustível fracos e tudo. A manutenção adequada teria garantido que esse não fosse um problema importante, mas a Millennium Engine Associates não era exatamente um empreiteiro de primeira linha. 

Quando fizeram a revisão dos motores em 2011, não atualizaram o motor esquerdo para cumprir o boletim de serviço, embora fossem obrigados a fazê-lo. Pior ainda, eles aparentemente tinham o hábito de instalar coletores de combustível JT8D incorretamente. 

Um exemplo de tubo de entrada cortado causado por uma carenagem
 instalada incorretamente em outra aeronave (AIB)
Se alguma das peças do conjunto manifold estiver desalinhada, ele pode colocar tensão extra de torção ou dobra nos tubos de entrada do manifold secundário, fazendo com que eles se rompam completamente. Os detalhes do que exatamente Millennium fez a essas variedades não são conhecidos.

Vários meses depois, no dia 3 de junho de 2012, o 5N-RAM preparou-se para operar o voo 992 da Dana Air da capital da Nigéria, Abuja, para a cidade portuária de Lagos, a área urbana mais populosa da África.

No comando estavam dois pilotos expatriados - o capitão era Peter Waxtan, um americano; e o primeiro oficial foi Mahendra Singh Rathore, um cidadão indiano. Embora Rathore não tivesse nada de notável, o fato de o capitão ser americano foi uma bandeira vermelha desde o início.

O Capitão Peter Waxtan
A maioria dos americanos que voam por companhias aéreas africanas muito pequenas, como a Dana Air, não está lá por escolha própria, mas porque não conseguiram fazer o corte nas companhias aéreas mais estabelecidas. 

Na verdade, Waxtan voou por 12 anos com a Spirit, seguido por uma breve passagem pela empresa charter Falcon Airlines, com sede em Miami. Mas em 2009 ele teve sua licença revogada pela Administração Federal de Aviação por fazer pousos repetidos e consertar painéis sem relatá-los no registro técnico. 

Tendo sido expulso da comunidade de aviação americana, ele agora se via executando voos domésticos de passageiros na Nigéria, onde trabalhava em rodízio - 30 dias ligado, 15 dias livre. O voo 992 seria seu último voo do mês, e depois ele esperava voar de volta para a América para ver sua noiva. 

No solo em Abuja, o capitão atrasou duas vezes o embarque dos passageiros devido a um encontro contínuo entre todos os membros da tripulação. O conteúdo desta discussão é desconhecido, embora o capitão tenha dito ao pessoal de terra, sem explicação, que a porta traseira do passageiro não deveria ser aberta. 

Após o término da reunião da tripulação, 147 passageiros embarcaram no avião, que além dos seis tripulantes totalizou 153 pessoas a bordo. 


O voo 992 da Dana Air decolou às 14h58 e subiu em direção à altitude de cruzeiro, rumo ao sudoeste em direção a Lagos. Em poucos minutos, entretanto, o motor esquerdo aparentemente parou de responder aos comandos do acelerador. 

Pensa-se que o tubo de entrada do coletor de combustível secundário enfraquecido fraturou, resultando em uma redução significativa do fluxo de combustível que impediu o motor de gerar mais do que a potência ociosa. 

Quando a gravação de voz da cabine começou às 3h15, os pilotos já estavam discutindo o problema. Pelo que eles sabiam, o motor ainda estava funcionando, mas mover a alavanca do acelerador não alterou a potência de seu empuxo. 

Notavelmente, os pilotos pareceram concluir que este não era um problema sério e que eles poderiam continuar o voo normalmente! Nem Waxtan nem Rathore informaram ao controle de tráfego aéreo sobre o problema, nem ligaram para o centro de operações da companhia aérea para obter conselhos. 

Na verdade, a certa altura, Waxtan disse: “Queremos apenas levar [a aeronave] para casa”, com o que ele deve ter querido dizer que preferia que o avião fosse verificado na sede de manutenção da Dana Air no Aeroporto Internacional Murtala Muhammed de Lagos (imagem ao lado).

O primeiro oficial Rathore então sugeriu que chamassem um engenheiro da Dana Air, que estava viajando a bordo do avião para se reposicionar em Lagos, para ver se ele tinha algum conselho. 

Mas o capitão Waxtan recusou, dizendo a Rathore: "Não preciso dele aqui, porque podemos descobrir, ele não será capaz de nos ajudar". 

Aparentemente, o capitão e esse engenheiro em particular estavam tendo algum tipo de rixa, como Waxtan afirmou: “Esse é o cara que tinha um problema conosco. Uh, ele está chateado com a gente." 

A disputa aparentemente tinha a ver com um painel da porta traseira de saída do passageiro, o que poderia estar relacionado ao pedido de não abri-la. 

Com o motor esquerdo em ponto morto, ou mesmo totalmente inoperante, o voo 992 continuou normalmente em direção a Lagos. Os pilotos nunca consultaram a lista de verificação não normal apropriada e nunca discutiram sobre desvios. 

Às 3h31, já nas proximidades de Lagos, os pilotos receberam autorização para se aproximar da pista 18R do Aeroporto Internacional Murtala Muhammed. 

Mais uma vez, eles tentaram aumentar o empuxo no motor esquerdo e descobriram que ele não respondia. Ainda assim, ninguém sequer sugeriu que eles transmitissem qualquer tipo de pedido de socorro. 


O capitão Waxtan confirmou que o motor correto estava funcionando corretamente e continuou o voo. Mas à medida que a abordagem continuava e o motor esquerdo ainda se recusava a responder, ele ficou cada vez mais preocupado com o fato de que eles teriam que avisar a avaria e o avião seria retirado de serviço. 

“Vamos ser investigados pela NCAA!” ele lamentou, expressando alarme com a possibilidade de que a autoridade de aviação civil da Nigéria pudesse investigar o incidente.

Às 3h40, o voo 992 estava se aproximando da pista 18R cerca de 28 km antes da cabeceira. Os pilotos criaram um caminho alternativo através das listas de verificação de aproximação e pouso, eventualmente checando a maioria dos itens necessários. 

Eles nem mesmo consideraram consultar a lista de verificação especial de pouso monomotor, que teria delineado algumas medidas de segurança adicionais que eles deveriam ter tomado. 

Depois de descer em marcha lenta ou quase marcha lenta por um tempo, o Capitão Waxtan tentou aumentar a potência do motor para diminuir sua razão de descida para o pouso. Mas quando ele avançou a alavanca do acelerador no motor direito supostamente funcional, não houve resposta! 

“Os dois motores funcionaram?” Perguntou o primeiro oficial Rathore. "Negativo!" Waxtan exclamou. Ambos os motores permaneceram em marcha lenta, sem gerar impulso para a frente, e se recusaram a acelerar. 

Eles tecnicamente não falharam, mas o efeito foi o mesmo. Agora, diante de uma emergência terrível, cabia à tripulação quebrar a lista de verificação de falha de motor duplo e descobrir o que precisariam fazer para colocar o avião em solo com segurança, mas não o fez. 

Às 3h42, o primeiro oficial Rathore finalmente declarou uma emergência. “DANACO 992”, disse ele, “Falha do motor duplo, resposta negativa dos aceleradores!” 

Mas em vez de ficar na linha para guiá-los, o controlador de aproximação simplesmente deu ao voo 992 a frequência para entrar em contato com a torre e os entregou. Eles nunca conseguiram chamar a torre; o pedido de socorro foi a última comunicação do voo com o controle de tráfego aéreo. 

Com a pista à vista, o capitão Waxtan lutou para manter sua aeronave impotente no ar. “Perdemos tudo, perdemos um motor, perdi os dois motores!” ele disse. Seu maior medo era desacelerar demais e deixar o avião estagnado, mas parecia inseguro sobre o que precisava fazer. 

Ele começou a ordenar a Rathore que tentasse vários métodos de última vala para recuperar o empuxo, desligando um interruptor ou ajuste após o outro - "Acender novamente", "Ignorar ignição", "Qualquer coisa!" Mas nada funcionou. 

Descendo baixo sobre os subúrbios de Lagos, o Capitão Waxtan lutou para evitar que seu avião colidisse com os mastros de rádio altos e prédios de apartamentos de vários andares que se projetavam em seu caminho, mas seus esforços foram inúteis. 

No densamente povoado bairro da classe trabalhadora de Iju-Ishaga, moradores próximos ao cruzamento das ruas Okusanya e Popoola de repente ergueram os olhos para ver um MD-83 caindo silenciosamente do céu em cima deles. Com os motores parados, o avião não fez barulho e chegou sem aviso. 

Um esboço do momento do impacto
O voo 992 cortou as copas de várias árvores frutíferas antes de se chocar contra um bloco de apartamentos de três andares que estava em construção, destruindo o último andar em uma chuva de alvenaria voadora. 

O avião então caiu de cabeça em um bloco de apartamentos e duas casas adjacentes, incendiando os tanques de combustível e provocando uma explosão massiva. Em um instante, meio quarteirão da cidade foi reduzido a escombros em chamas. 


O acidente destruiu a maior parte do avião e matou instantaneamente todos na seção dianteira, mas os da parte traseira inicialmente sobreviveram. Infelizmente, não houve tempo para eles escaparem; todos os que sobreviveram ao impacto morreram rapidamente devido à inalação de fumaça antes que qualquer tentativa pudesse ser feita para abrir uma porta.


Muitos residentes de Iju-Ishaga também foram mortos e feridos; alguns conseguiram escapar com vida no último segundo, mas outros não tiveram tanta sorte. Pelo menos seis pessoas morreram no solo no acidente, mas o número real pode ter sido maior; algumas fontes indicam que o número chegou a dez. 


Imediatamente após o acidente, multidões de curiosos invadiram o local para tentar ter um vislumbre da carnificina, tornando difícil para os bombeiros alcançarem o incêndio. Chamas gigantescas pairavam sobre a vizinhança, acelerado pelo vasto volume de papel dentro do prédio; as equipes de emergência lutaram por horas para controlar o fogo.


Quando o fizeram, pouco restava do MD-83 ou do prédio, exceto a distinta cauda em forma de T do avião, que ficou inclinada sobre uma pilha de entulho enegrecido. Enquanto as multidões continuavam a se reunir no local do acidente, o governo nigeriano enviou militares para proteger a área, levando a confrontos sangrentos enquanto os soldados espancavam as pessoas e disparavam gás lacrimogêneo para dispersar os espectadores.


O acidente deixou a Nigéria em estado de choque. Pelo menos 159 pessoas morreram, o pior desastre aéreo no país em mais de duas décadas. 

Por um período de quase seis anos, entre 2006 e 2012, não houve nenhum acidente de avião importante na Nigéria, levando as pessoas a acreditar que a segurança estava melhorando. 


Em vez disso, a queda do voo 992 da Dana Air trouxe de volta memórias relativamente frescas da primeira metade daquela década, quando a Nigéria sofreu quatro grandes desastres aéreos em poucos anos. 

Em maio de 2002, o voo 4226 da EAS Airlines, um BAC One-Eleven, invadiu a pista na decolagem de Kano e levantou uma nuvem de poeira, que foi ingerida pelos motores. Posteriormente, os motores falharam e o avião colidiu com uma escola e duas mesquitas onde as orações estavam em andamento, matando 71 das 77 pessoas a bordo, bem como 78 no solo. 

Em outubro de 2005, O voo 210 da Bellview Airlines, um Boeing 737-200, despencou no solo minutos após a decolagem de Lagos, matando todas as 117 pessoas a bordo. Os investigadores não conseguiram encontrar as caixas pretas e não puderam determinar a causa, mas descobriram muitas evidências circunstanciais, incluindo que o piloto havia recentemente voltado ao trabalho após 14 anos sem voar; a aeronave não estava em condições de aeronavegabilidade; as cargas de trabalho do piloto eram excessivas; e as páginas do manual de operações contendo informações importantes sobre segurança estavam em branco. 


Menos de dois meses depois, em dezembro de 2005, o voo 1145 da Sosoliso Airlines, um McDonnell Douglas DC-9, bateu em uma berma de grama entre a pista e a pista de taxiamento em Port Harcourt enquanto tentava dar uma volta com mau tempo. O avião se partiu em dois pedaços e pegou fogo, matando 108 dos 110 passageiros e tripulantes. 

E finalmente, em outubro de 2006, o voo 53 da ADC Airlines, um Boeing 737, paralisou logo após a decolagem de Abuja depois que os pilotos pararam muito abruptamente enquanto tentavam se recuperar do cisalhamento do vento. O avião rolou 90 graus para a esquerda e bateu em um campo de milho, matando 96 das 105 pessoas a bordo. 

Todos esses acidentes fizeram com que a confiança do público no sistema de aviação da Nigéria despencasse, e o governo prometeu tomar medidas para melhorar a segurança. Mas, embora tenha havido algum progresso desde 2006, as descobertas da investigação do voo 992 da Dana Air destruiriam essa esperança e provocariam uma nova onda de introspecção extremamente necessária. 


Poucas horas após o acidente, o Bureau de Investigação de Acidentes da Nigéria (AIB) lançou um inquérito sobre a causa. No entanto, eles enfrentaram um obstáculo imediato: devido à prolongada exposição ao fogo, o gravador de dados de voo havia sido destruído, impedindo qualquer exame detalhado do funcionamento dos motores ao longo do voo. 

No entanto, o gravador de voz da cabine foi recuperado intacto e revelou muitas informações úteis. Os investigadores ficaram chocados ao descobrir que o motor esquerdo havia de fato parado de responder aos comandos do acelerador 17 minutos após a decolagem, e os pilotos nem mesmo tentaram seguir qualquer um dos procedimentos apropriados. 


Eles não usaram nenhuma lista de verificação, chamando-os repetidamente de completos, sem ter lido um único item. Eles sobrevoaram vários aeroportos adequados onde poderiam ter feito um pouso de emergência. A conversa na cabine estava cheia de palavrões, e o capitão demorou a fazer um pedido de socorro porque temia ser investigado pela Autoridade de Aviação Civil da Nigéria, acreditando que eles chegariam ilesos a Lagos. 

Ele não deveria ter tentado o destino - quando seu segundo motor também falhou, os pilotos estavam totalmente despreparados, não tendo feito nada para garantir que sua situação fosse estabilizada. 

Depois disso, ao deixar de usar a lista de verificação de emergência para falha dupla do motor, eles selaram seu destino. O teste do simulador mostrou que se os pilotos tivessem seguido os procedimentos do checklist para otimizar seu planeio, eles poderiam facilmente chegar à pista. 

Descobrir por que os motores falharam foi extremamente difícil. O exame dos motores no local confirmou que eles não estavam gerando energia no momento do impacto, mas depois disso, o rastro de evidências efetivamente terminou.


Os motores muito danificados foram transportados de volta às instalações da Millennium Engine Associates em Miami para uma desmontagem inicial, onde os investigadores observaram os componentes do sistema de fornecimento de combustível e conduziram testes metalúrgicos nos vários pontos de fratura. 

Embora tenha havido danos aos tubos de entrada do coletor de combustível secundário em ambos os motores, nenhuma evidência conclusiva de que isso ocorreu antes do acidente foi encontrada, e o AIB teve as peças dos coletores de combustível transportadas de volta à Nigéria para uma inspeção mais detalhada. 

O coletor de combustível do motor esquerdo chegou normalmente, mas para a frustração do AIB, nenhuma outra inspeção do coletor de combustível do motor correto foi possível porque a Millennium Engine Associates inexplicavelmente falhou em devolvê-lo. Com tão pouco para avançar, os investigadores norte-americanos e nigerianos inicialmente suspeitaram que os pilotos de alguma forma usaram mal as bombas de combustível e deixaram os motores sem combustível.

Então, em outubro de 2013, o AIB teve um golpe de sorte quando um motor se recusou a responder às entradas do acelerador em outro Dana Air MD-83. Os pilotos pousaram o avião sem incidentes e o AIB desmontou o motor para examinar seu sistema de combustível. 

Uma foto da carenagem do tubo de entrada instalada incorretamente no
 jato Dana Air que fez um pouso de emergência (AIB)
Eles descobriram que o tubo de entrada do coletor secundário havia rompido em seu ponto de conexão porque a carenagem protetora ao redor dele havia sido instalada incorretamente, comprometendo sua forma aerodinâmica. 

O ar quente que corria pelo motor pegou a borda da carenagem incorretamente fixada, fazendo com que ela agisse como uma vela que puxava constantemente o tubo de entrada para o lado até que finalmente quebrasse. 

Essa falha foi possível porque o manifold não estava em conformidade com o boletim de serviço da Pratt & Whitney que exigia que o conjunto do manifold original fosse substituído por uma versão mais forte. E, assim como os motores com falha no voo 992, esse motor foi recentemente revisado pela Millennium Engine Associates, que agora se rebatizou para Global Engine Maintenance, LLC.

Este incidente permitiu que os investigadores percebessem que, embora não houvesse evidência de rachadura por fadiga no tubo de entrada do coletor secundário do motor esquerdo do voo 992, isso não descartou a possibilidade de que o tubo de entrada tivesse quebrado em cisalhamento antes do acidente.


A evidência deixada para trás por uma falha de cisalhamento devido à instalação inadequada e uma falha de cisalhamento devido ao impacto teria sido quase idêntica. Embora fosse impossível provar que esse mesmo mecanismo resultou na falha do motor esquerdo do vôo 992, mesmo assim provou ser a teoria mais convincente. 

O motor direito era um mistério muito maior - afinal, ele foi colocado em conformidade com o boletim de serviço, então seu tubo de entrada não deveria ter falhado da mesma maneira. 

Mas como a Millennium Engine Associates não havia devolvido o coletor de combustível secundário do motor direito, o AIB não conseguiu explicar por que havia parado de responder aos comandos do acelerador, exceto que o mecanismo de falha era provavelmente semelhante ao do motor esquerdo. 

No entanto, essa falta de certeza levou a algumas especulações contínuas de que o problema com o motor certo foi na verdade causado pela má gestão das bombas de combustível pelos pilotos, como alguns especialistas inicialmente suspeitaram.

Curiosamente, o AIB teve muito mais sucesso tentando explicar as falhas aparentemente inexplicáveis ​​da tripulação da cabine. Investigando os antecedentes do capitão Peter Waxtan, os investigadores encontraram muitos sinais de alerta. 


A FAA revogou sua licença de piloto comercial em 2009, mas a Dana Air nunca soube disso porque nunca fez uma verificação de antecedentes dele, embora fosse obrigatório pela lei nigeriana. 

Mas essa foi apenas a ponta do iceberg. O AIB não conseguiu encontrar nenhum registro do tempo do capitão voando para a Falcon Airlines. Suas cartas de recomendação não foram assinadas pelas pessoas de quem supostamente eram. 

Não havia registros de entrevistas, testes escritos, avaliações em simuladores ou treinamento de doutrinação antes de ele ser contratado pela Dana Air. Sua licença de piloto nigeriano tinha um carimbo da NCAA, mas não estava assinada. 

O departamento de controle de qualidade da Dana Air não foi envolvido no processo de contratação, contradizendo o manual de operações oficial da Dana Air. Não houve registro de nenhum dos pilotos ter passado pelo treinamento de gerenciamento de recursos da tripulação, exigido por lei. 

Tampouco havia qualquer registro de que o piloto-chefe da Dana Air tivesse recebido o treinamento de doutrinação obrigatório para familiarizá-lo com a política da empresa. A escala do problema era impressionante; em todos os lugares que o AIB olhou, eles encontraram deficiências mais perturbadoras.


Também houve bandeiras vermelhas claras depois que o capitão Waxtan foi contratado. Comentários deixados por instrutores durante seu treinamento de linha na Dana Air observaram que ele não aderiu aos procedimentos da empresa e perdeu várias listas de verificação e textos explicativos. 

Não houve registro que mostrasse que ele havia melhorado nessas áreas antes de receber o posto de capitão. Como poderia Dana Air ter ignorado todos os registros perdidos e seu desempenho ruim e contratado mesmo assim? 

No final das contas, essa cultura de negligência imprudente foi disseminada em todos os níveis da empresa. Entrevistas com ex-pilotos revelaram que as tripulações costumavam falhar em relatar defeitos nos registros técnicos, e que a administração da Dana Air muitas vezes forçava os pilotos a voar em aviões inadequados. 

Na verdade, o piloto do MD-83 que sofreu o mau funcionamento do motor em 2013 disse ao AIB que aquele avião tinha se debatido em vários voos anteriores, mas que foi forçado a continuar voando mesmo assim. 

Ele afirmou que outros aviões da Dana Air tinham problemas semelhantes. Como resultado, a NCAA ordenou que todos os motores Dana Air que haviam sido revisados ​​pela Millennium Engine Associates fossem revisados ​​novamente por uma oficina de motores aprovada pela NCAA.


O governo nigeriano não esperou que o AIB divulgasse suas conclusões antes de tomar uma ação decisiva. Poucos dias após o acidente, o presidente nigeriano Goodluck Jonathan prometeu que nenhum acidente desse tipo poderia acontecer novamente. 

Posteriormente, ele ordenou a criação de um painel de nove pessoas para revisar a segurança de todo o sistema de aviação nigeriano, independente da investigação do acidente da Dana Air.

A Nigéria também suspendeu todas as aeronaves McDonnell Douglas série MD-80 em todo o país e revogou a licença de operação da Dana Air, ordenando que a companhia aérea reformulasse seu regime de segurança para recuperá-la. A Dana Air ficou paralisada por três meses até que finalmente teve seu certificado revalidado em setembro de 2012. 

No decorrer de sua investigação, o AIB emitiu várias recomendações de segurança adicionais, incluindo que a Dana Air realiza verificações de antecedentes ao contratar pilotos estrangeiros; que os novos pilotos voem com um capitão experiente como observador durante as primeiras 100 horas para familiarizá-los com os procedimentos da empresa; que a NCAA não deve validar a licença de um piloto estrangeiro sem que todas as verificações de antecedentes apropriadas tenham sido realizadas; que a Pratt & Whitney estabeleça um prazo dentro do qual os motores devem estar em conformidade com o boletim de serviço de 2003; que os procedimentos de instalação do coletor de combustível secundário JT8D sejam modificados de forma que não haja possibilidade de montagem incorreta; que a Dana Air garanta que as avaliações negativas dos capitães estagiários sejam resolvidas antes de conceder-lhes uma promoção; e que a NCAA monitorar empresas estrangeiras realizando manutenção em aeronaves nigerianas. Além disso, o painel consultivo independente emitiu muitas recomendações próprias. O Relatório Final do acidente foi divulgado após quatro anos e nove meses de investigação.


As reformas que foram implementadas após o acidente da Dana Air parecem ter feito a diferença. Nos quase oito anos desde então, a Nigéria não sofreu um único acidente aéreo importante, em comparação com quatro nos oito anos anteriores. Mas embora isso represente um grande salto em segurança no que costumava ser um dos lugares mais perigosos para voar, ainda há trabalho a ser feito.

 A Dana Air ainda voa hoje e dificilmente é o que se chamaria de uma companhia aérea segura. A imprensa nigeriana ainda informa com frequência sobre quase-acidentes envolvendo companhias aéreas nigerianas, incluindo um incidente bizarro de 2018 no qual uma porta caiu de um jato da Dana Air ao pousar em Port Harcourt. 

Muitos problemas sistêmicos também permanecem. Por exemplo, vários anos após o acidente do Dana Air, ainda não havia nenhuma instalação em toda a África Ocidental capaz de realizar manutenção pesada em grandes aviões a jato. Companhias aéreas como a Dana Air são até hoje forçadas a terceirizar esse trabalho para empresas estrangeiras incompletas como a Millennium Engine Associates, porque é o que elas podem pagar. 


Como o AIB aprendeu da maneira mais difícil, essas empresas também têm pouco respeito pelas instituições africanas - afinal, por que a Millennium faria algo tão flagrante a ponto de ocultar peças-chave de evidências dos investigadores nigerianos? 

A Millennium acreditava que eles poderiam se safar enganando o AIB porque não havia nada que uma agência de segurança aérea africana relativamente fraca pudesse fazer para impedi-los? 

Da mesma forma, as pequenas companhias aéreas africanas devem ser cautelosas ao contratar pilotos ocidentais sem extensas verificações de antecedentes. Um piloto americano como Peter Waxtan provavelmente teria preferido trabalhar em seu país de origem, e de fato fez isso até que sua licença foi revogada, forçando-o a procurar emprego em algum lugar com supervisão menos rigorosa. 

Como a Nigéria sofre com a escassez de pilotos qualificados, suas companhias aéreas às vezes não têm escolha a não ser contratar pessoas como a Waxtan, mas o fazem por sua própria conta e risco.


Ao mesmo tempo, é importante lembrar que Waxtan também foi vítima dessa tragédia. Ele não foi para a África com a intenção de aproveitar uma companhia aérea desesperada por pilotos. Ele se viu com uma licença inútil e uma família para alimentar, então teve que procurar trabalho onde pudesse. 

Uma companhia aérea melhor poderia ter sido capaz de transformá-lo em um piloto decente, mas, tragicamente, a cultura da Dana Air exacerbou ativamente suas falhas mais perigosas. Ele também recebeu um avião que dificilmente poderia ser chamado de aeronavegável, o que o colocou insensivelmente em uma situação que nenhum piloto deveria enfrentar. 

No mínimo, sua história deve servir como um conto de advertência para outras companhias aéreas em um continente onde a indústria ainda está lutando para atingir o nível de segurança que sua crescente classe média começa a esperar.

Edição de texto e imagens por Jorge Tadeu (site Desastres Aéreos)

Com Admiral Cloudberg, ASN, Wikipedia - Imagens allafrica.com, Kenneth Iwelumo, Departamento de Investigação de Acidentes, In Memory of Peter Waxtan (Facebook), Google, Business Day, news18.com, CNN, o Bureau of Aircraft Accidents Archives e abusidiqu.