quarta-feira, 3 de junho de 2009

Tempestade pode ter tirado chance de manobra dos pilotos, dizem especialistas

Para comandantes e meteorologistas, tempestade foi excepcional.

Tenho ‘quase certeza’ que o avião foi destruído por turbulência, diz piloto.





Para comandantes e meteorologistas ouvidos pelo Jornal Nacional, a tempestade enfrentada pelo avião da Air France foi excepcional. Tão violenta que pode ter tirado qualquer chance de manobra dos pilotos.

Uma imagem do tempo pouco antes da decolagem mostra uma pequena nebulosidade no Rio de Janeiro, tempo bom até o Nordeste e na área onde o Airbus sumiu havia chuva, mas nada fora do normal.

“Normalmente, essa área é mais turbulenta por causa das nuvens, inclusive mais profundas, mas é comum todas as aeronaves passam por aí, particularmente no período da noite, e não há muito problema”, afirma Augusto José Pereira Filho, professor de meteorologia da Universidade de São Paulo (USP).

Mapa indica localização das buscas aos destroços do Airbus da Air France - clique na imagem para ampliá-la

Mas, ao chegar de fato ao local, o tempo fechou de vez e rapidamente se formou um paredão, uma sequência de tempestades formadas por cumulus nimbus, as nuvens brancas compostas por gelo e ventos de até 100 km/h.

Uma imagem do satélite Goes mostra que, na rota do voo 447, a formação da tempestade tinha 150 quilômetros de extensão. Em toda essa área, o satélite detectou áreas de forte turbulência vertical. São as partes mais claras dentro da tempestade.

No núcleo, as nuvens chegaram a 18 quilômetros de altura, sete a mais do que a altitude que o avião da Air France voava. Imagens de satélite foram feitas na hora do acidente. O azul mais forte indica tempo ruim e muita turbulência.

“Uma tempestade pequeninha, de repente, explode e ocupa uma área enorme, produzindo ventos verticais muito fortes e também horizontais, em um nível onde ela para de crescer. Isso pode surpreender uma tripulação”, explica o professor.

Se o comandante conseguiu ver a tempestade no radar do avião, ninguém sabe. Mas, reunindo as informações, pilotos e meteorologistas dizem que o equipamento, provavelmente, não ajudaria muito porque o radar detecta melhor a presença de água do que de gelo e, naquela altitude em que o Airbus estava, a quantidade de água era mínima.

Comandante com 50 anos de experiência, George Sucupira já teve o avião sugado por um cumulus nimbus. “Nós lutamos com o avião, de nariz para baixo. O avião subindo, quase fui parar a 30 mil pés, precisando pegar oxigênio, e ele foi cuspido para fora da nuvem, por felicidade nossa, senão não estaria aqui”, relata.

Para ele, quando um avião entra numa situação como aquela, o piloto não tem alternativa alguma.

“Você imagine, nessa velocidade, o avião recebendo granizo a 860 quilômetros dele e mais uns 100 quilômetros da velocidade do vento. Somados os dois, dá quase 1000 km/h. Uma bola de tênis de granizo é um tiro de canhão. Ele não devia ter entrado. Ele entrou não sabendo, e eu tenho quase certeza que esse avião foi destruído por essa turbulência violenta na formação”, avalia o piloto.

Fonte: Jornal Nacional (TV Globo) via G1 - Imagem: Editoria de arte (G1)

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